26/01/2016
As questões que pretendi desenvolver neste trabalho foram suscitadas pela minha curiosidade em saber mais sobre o tema “sintoma” que, de acordo com Maia, Mendeiros e Fontes (2012), é um conceito fundamental na Psicanálise pois orienta a prática e demarca os limites terapêuticos desse campo de saber. Além disso, um paciente, ao procurar um psicanalista, traz como reclamação o sofrimento que o sintoma lhe provoca, sendo incômodo e desgostoso, tendo como demanda inicial a cura, sendo, consequentemente, liberto do mal-estar sintomático que o aprisiona. Por estas razões achei importante decorrer uma introdução sobre este importante conceito que está envolto em toda obra Freudiana.
Ao longo da obra de Freud, o sintoma aparece como expressão de um conflito psíquico, como mensagem do inconsciente e como satisfação pulsional, sendo instável, estando sempre em mudança. (Maia, Mendeiros e Fontes, 2012)
Ocariz (2003) sugeriu uma divisão do conceito sintoma nas obras de Freud em três partes: o conceito de sintoma antes de 1900; o conceito de sintoma entre 1900-1920, e o conceito de sintoma após 1920.
Até 1900, Freud, juntamente com Breuer, analisando as pacientes histéricas, observaram que diante de um pensamento incongruente com os ideais sociais e pessoais, elas liberavam o afeto, o qual buscava satisfação em outro objeto e encontrava no sintoma. (Maia, Mendeiros e Fontes, 2012)
Nesta época, Freud utilizava da hipnose como tratamento, porém, após algumas observações, reconheceu que esta encobria a resistência, então a abandonou e começou utilizar a sugestão e a técnica da pressão para instigar seus pacientes a expor conteúdos displicentes que eles teimavam em dizer que não recordavam. Esta nova técnica funcionou pois suas pacientes começaram a falar do que as afetava (Freud, 1893/ 1996c).
Como a fala em transferência mostrou-se mais eficiente na resolução dos sintomas, mesmo revelando as resistências de modo mais contundente, ele estabeleceu a associação livre como a regra principal da psicanálise em 1904 (Freud, 1904[1903] /1996g).
A transferência aparece quando o tratamento interfere no arranjo feito pelo paciente para manter inconsciente as lembranças traumáticas, mas quando a resistência cede, e as lembranças dolorosas são vivenciadas no processo de análise e um sentido pode ser atribuído, as repetições sem fim encontram sua finalidade e os sintomas cessam, e a vida pode seguir com menos sofrimento. Para Freud, o paciente tenta se proteger de um afeto conflitivo, tendo a divisão da consciência como resultado. (Freud, 1894/1996d)
Nesta ocasião, Freud conferiu a histeria que o trauma sexual estava na origem de toda neurose, passando a considerar que algumas das cenas de abusos de ordem sexual relatadas por seus pacientes eram verdade, ou pelo menos eram a realidade psíquica do paciente. O fato de os sintomas cessarem quando essas lembranças são relatadas lhe dava a confirmação de que são elas a causa das neuroses. (Freud, 1896/1996e, p.151 / Freud, 1897/1996b, p.308)
Reconhecer os relatos de suas pacientes como fantasias produtoras de sintomas, e reconhecer os limites do tratamento pela impossibilidade de “domar” o inconsciente e torná-lo consciente fez com que o ano de 1900 fosse lembrado como o ano de fundação da psicanálise, com a publicação de “A interpretação dos sonhos”, postulando que os sonhos são fenômenos que deixam entrever os conteúdos e desejos inconscientes de uma forma distorcida, que se deve aos mecanismos de defesa, utilizados para manter encoberto o sentido do sonho, possibilitando ao sonhador a satisfação desejada, sem o desagrado de se dar conta de conteúdos inconvenientes. (Freud, 1900/1996f / Freud, 1917[1916-17]/1996i / Freud, 1900/1996f)
Nesta época, entre 1900 e 1920, o sintoma teve outra modificação. Na “Conferência XXIII”, Freud (1917[1916-17]/1996i, p.361) descreve os sintomas como atos prejudiciais indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento, são resultado de um conflito e que este surge em virtude de um novo método de satisfazer a libido. Promove um período de relativa tranquilidade psíquica, embora empobreça a energia mental que lhe permanece disponível e do ego, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida. As duas forças que entraram em luta encontram-se novamente no sintoma e se reconciliam, por assim dizer, através do acordo representado pelo sintoma formado. É por esta razão, também, que o sintoma é tão resistente: é apoiado por ambas as partes em luta. (Freud, 1896/1996a, p.269/ Freud, 1917[1916-17]/1996i)
Assim como os sonhos, atos falhos e chistes, o sintoma também emerge como um derivado múltiplas-vezes-distorcido da realização de desejo libinal inconsciente, uma peça de ambiguidade engenhosamente escolhida, com dois significados em completa contradição mútua. (Freud, 1917[1916-17]/1996i, p.263). Se constitui em algo irreconhecível para o indivíduo que, pelo contrário, sente a suposta satisfação como sofrimento e se queixa deste. Essa transformação é uma função do conflito psíquico sob pressão, do qual o sintoma veio a se formar. Aquilo que para o indivíduo, em determinada época, constituía uma satisfação, na realidade passa a originar resistência e repugnância.
E após 1920, Freud publicou “Além do princípio do prazer”, onde apresentou mudanças na sua concepção do aparelho psíquico e uma nova formulação acerca das forças que organizam o funcionamento deste aparelho. Então o conceito de sintoma passou a ter duas faces: o sintoma como mensagem (metáfora), passível de interpretação, e o sintoma como satisfação pulsional (aquilo que não se abre mão), que é o que resiste ao tratamento analítico. (Maia, Mendeiros e Fontes, 2012)
Freud apresentou, em "Inibições, sintomas e ansiedade" (1926[1925]/1996j) o sintoma como sendo "o verdadeiro substituto e derivativo do impulso reprimido, que continuamente renova suas exigências de satisfação e assim, obriga o ego, por sua vez, a dar o sinal de desprazer e a colocar-se em uma posição de defesa" (p.103).
Freud (1937/1996k) se vê diante da questão de como a satisfação de uma pulsão pode produzir desprazer, expondo os limites da clínica analítica diante da impossibilidade de satisfação pulsional e da eliminação dos sintomas e da neurose, tanto quanto a longa duração de certas análises, a prevenção de futuros conflitos e a questão da cura no texto "Análise terminável e interminável".
Tomei como importância o conjunto das características dos sintomas em algumas obras de Freud, porém, mesmo com o estudo deste, juntamente com artigos relacionados, não me foi possível a total compreensão total do assunto.
REFERÊNCIAS
Freud, S. (1996a). Rascunho K. As neuroses de defesa. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 1, pp. 267-276). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1896)?
Freud, S. (1996b). Carta 69 de 21 de setembro de 1897. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 1, pp. 309-311). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1897)?
Freud, S. (1996c). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação preliminar. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 2, pp. 39-53). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1893)
Freud, S. (1996d). As neuropsicoses de defesa. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 3, pp. 50-66). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1894)
Freud, S. (1996e). Hereditariedade e etiologia das neuroses. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 3, pp. 139-155). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1896)
Freud, S. (1996f). A interpretação dos sonhos (continuação). In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 5, pp. 371-655). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1900)?
Freud, S. (1996g). O método psicanalítico de Freud. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 7, pp. 233- 240). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1904[1903])
Freud, S. (1996h). Conferência XVII. O sentido dos sintomas. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 16, pp. 265-279). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917[1916-17])
Freud, S. (1996i). Conferência XXIII Os caminhos da formação dos sintomas. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 16, pp. 361-378). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917[1916-17])?
Freud, S. (1996j). Inibições, sintomas e ansiedade. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 20, pp.81-171). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1926[1925])
Freud, S. (1996k). Análise terminável e interminável. In S. Freud Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 23, pp. 225-270). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1937.
Maia, A. B.; Medeiros, C. P. D.; Fontes, F. O conceito de sintoma na psicanálise: uma introdução. Estilos clin., São Paulo, v.17, n. 1, jun. 2012. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282012000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 set. 2013.
Ocariz, M. (2003). O sintoma e a clínica psicanalítica. São Paulo: Via Lettera.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
21 anos, graduanda de Psicologia na Faculdade Assis Gurgacz (9º período), com formação em Professional and Self Coaching pelo Instituto Brasileiro de Coaching, com interesses nas áreas psicológicas e organizacionais.
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