15/02/2016
Ontem assisti a um programa de televisão sobre o terremoto que ocorreu no Nepal em abril de 2015. A matéria me chocou bastante. Foi muito doloroso ver o sofrimento e a dor estampados nos rostos dos nepaleses. Crianças, adultos, idosos.
Após os tremores, todos foram para as ruas, pelo medo do desabamento de mais casas e edifícios. Teriam de dormir ao relento, somente com a roupa do corpo, sem proteção. Para dificultar ainda mais as circunstâncias, tempestades estavam previstas para aqueles dias e não havia tendas para todos. O Nepal é um dos países mais pobres do globo. Consegue imaginar toda a situação?
Fiquei pensando em quantas pessoas assistiram àquele desastre, chocaram-se também, mas desligaram a tv e continuaram suas vidas normalmente, quando, no fundo, aquelas vítimas vivem as consequências do ocorrido até os dias de hoje.
Nós vivemos nossa vida como se barbáries não estivessem ocorrendo bem ao nosso lado. São crianças vizinhas que gritam por socorro, mas ninguém escuta. São países vizinhos passando fome por conta de uma guerra estúpida e ninguém ajuda.
Às vezes me questiono se realmente estamos vivendo uma vida em que podemos afirmar: eu tenho feito a minha parte.
Concordo com o norte-americano, Mark Manson, em sua carta aberta aos brasileiros quando diz que você não pode se considerar altruísta quando ajuda somente sua família e seus amigos. O altruísmo vai muito além disso. Ajudar somente aqueles com quem você mantém algum tipo de relacionamento é legal sim, mas não deixa de ser também egoísta. Afinal, você está fazendo por eles, porque está fazendo indiretamente por você.
Mas quando se ajuda uma pessoa que você nunca viu na vida e de quem você nunca obterá um retorno, um agradecimento, um olhar de carinho. Aí sim, do meu ponto de vista, você pode afirmar que é generoso, porque está dando de fato sem precisar de algo em troca.
Sempre que vejo esses desastres, os hospitais cheios de feridos, as mutilações físicas e psicológicas, penso na organização Médicos Sem Fronteiras. É óbvio que eles são uma gota no oceano dentre tantas organizações e pessoas que realmente fazem algo para transformar o mundo para melhor. Mas sendo específica, acho incrível sua disponibilidade em largar o conforto de suas casas (imagino que médicos possuam casas confortáveis) e se aventurem a atender as necessidades de pessoas afetadas por desastres naturais, ondas de doenças graves, guerras e afins, em países que não possuem uma mínima estrutura. Isso é envolvimento, isso é atitude, isso é amor.
Quando esses eventos brutais pipocam nas redes sociais, vejo compartilhamentos, comentários e likes aos montes, mas e a ação em si? Daí me vem a reflexão: as pessoas não só falam e desejam mudanças em suas vidas, mas não agem de fato; como também falam e desejam mudanças no mundo, mas não agem de fato.
Um like num post desses não muda nada. Nada...
Nós acordamos todos os dias após passarmos algumas boas horas numa cama gostosa, enchemos nossa barriga com um bom café da manhã, temos um teto minimamente seguro para nos proteger, temos algumas poucas pessoas que nos amam de verdade... Para muitos de nós, isso é suficiente para viver.
Mas será?
Será que tudo isso que recebemos não precisa ser agradecido de alguma forma? Será que não precisamos devolver em gratidão? Será que não precisamos utilizar de nossa energia para nos doar aos outros ou a alguma causa?
E não estou falando aqui em ajudar o outro porque você tem algo a ganhar, porque irá se sentir bem, porque receberá um agradecimento em troca, ou um lugarzinho especial no céu. Não.
Do meu ponto de vista, o ajudar significa ajudar. Ponto. Simples.
Ajudar porque você acredita que aquilo precisa ser feito. Somente.
Também não estou me referindo a pessoas que usam as redes sociais para pedir uma festinha de aniversário para o filho, ou um punhado de roupas usadas para a funcionária que passa dificuldades. Não.
Reconheço o valor desse tipo de ajuda, mas estou falando de algo muito maior. Não estou falando de desejos que possivelmente poderiam ser dispensáveis: uma roupa a mais ou a menos, uma festinha a mais ou a menos. Estou falando de vida ou morte.
Há uma série de problemas no mundo, longe ou perto de você, que requerem seu olhar cuidadoso. Há uma abundância de causas, mas pouquíssimas pessoas realmente dispostas a fazer algo tangível, palpável. E foi essa a sensação que tive ao assistir ao desastre no Nepal.
Já imaginou que, enquanto você doa uma roupinha a mais para uma criança ou lhe propicia uma festinha de aniversário, existem mais de 150 milhões de crianças no mundo vagando sem teto?
É claro que você pode doar roupas e fazer uma criança feliz ao lhe propiciar uma comemoração. Mas será isso suficiente para a mudança que você espera no mundo?
Compadecer-se do que estou falando ou compartilhar este artigo não é suficiente e não muda a situação, concorda? Se você não fizer algo concreto, considerar-se uma boa pessoa não mudará em nada os problemas reais e urgentes que estão aos montes por aí. É preciso agir, é preciso se envolver.
Formas de se engajar, de doar dinheiro ou tempo, isso é fácil de encontrar, seja em uma conversa com amigos, seja na internet, seja nas redes sociais. Disso você já está cansado de saber. Mas e tomar uma decisão de fato? Quando você irá parar de falar e pensar e irá agir de fato, não só em relação à sua própria vida, mas em relação ao que você deseja como transformação no mundo?
Esse é meu desabafo de hoje...
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Eu sou Alenne Namba, Psicanalista formada pela Escola Paulista de Psicanálise e Coach formada pelo Instituto Holos - CEADH. Também é colunista do Portal Educação e do site Mães Amigas de Águas Claras. Ministra cursos e palestras sobre os diversos temas relacionados ao equilíbrio emocional.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93