"Ando devagar, porque já tive pressa"

A pressa faz mal ao coração!!
A pressa faz mal ao coração!!

Psicologia

20/05/2016

Guimarães Rosa afirmou que “viver é muito perigoso... (porque toda) travessia é perigosa, mas é da vida”. Não há outro jeito. Agora, para quem é jovem, negro e mora na periferia de uma grande cidade, esse perigo aumenta. Os riscos são maiores e as estatísticas latinas americanas mostram isso.

Sim, viver é perigoso. Já não importa mais se você é pedestre ou está em um carro. Todos estão alucinados e impacientes. Mas, não é só isso: o medo está em toda parte, assim como a desconfiança e o sentimento de ameaça. Entra-se em pânico somente por ser parado por um estranho querendo informação. Isso gera angustia, agressividade, impaciência e irritação. Claro, há razões para isso: a violência gratuita, os roubos, os furtos... Sim, tudo isso contribui para a paralisia diante do medo real que nos ameaça em cada esquina, quando não dentro de casa. É o instinto de preservação da vida. É paradoxal, mas já não se tem medo de morrer, mas de viver.  

Se não bastassem os medos externos, ainda há os temores internos, frutos das nossas carências, frustrações, abandonos, desamores, dos nossos temores de não dar certo. Talvez por isso – para um número considerável da população – esteja mais difícil seguir a recomendação do poeta: “Canta, Canta, minha Gente/. Deixa a tristeza pra lá/. Canta forte, canta alto/, Que a vida vai melhorar.” (Matinho da Vila).

Por isso corremos. Temos pressa. Pressa para aproveitar a vida que já é curta, mas que pode ser encurtada a qualquer momento. Já não se tem tempo para as coisas simples como ouvir uma boa música, ler um bom livro, cantar (ainda que desafinado), dançar (ainda que desajeitado)... Na pressa por viver, acabamos não vivendo. O tempo não permite. As agendas estão sempre lotadas... Talvez tenhamos de aprender que a pressa é inimiga do coração.

Há um ditado que diz: “Os sábios aprendem com os erros dos outros, os tolos com os próprios erros e os idiotas não aprendem nunca” (Proverbio chinês). Confesso, já desprezei a sabedoria e sofri por descuidar das experiências alheias. Fui tolo ao tentar viver uma vida que não era a minha e uma história na qual não me enquadrava. Mas, à custa de muito sofrimento aprendi a...


... Esperar, pois quando quis fazer a coisa do meu jeito, na minha hora, fiz tudo errado: machuquei pessoas, feri outras.

... Olhar ao redor, “enxergar com a alma e apreciar com o coração”.  

... Valorizar o que tenho.

... Sorrir, mesmo para quem não me suporta.

... Chorar, mesmo quando tenho vontade de gritar, de explodir.

... Ter como se não tivesse, a possuir sem deter a posse. 

... Não ter todas as respostas e a conviver com as incertezas.

... Deixar o tempo correr e as pessoas irem.

... Prestar atenção no sorriso das crianças...

Também aprendi que...

... A verdade dói, mas liberta.

... Para sobreviver é necessário compreender alguns passos da dança da vida: calar na hora certa, falar no momento apropriado. 

... A vida não é feita só de alegria, de ajuntamento, de felicidade, mas igualmente de momentos tristes, de afastamento, de decepção.

... As coisas não precisam sair do meu jeito e nem no meu tempo.

... “A impaciência acelera o envelhecimento, eleva a pressão arterial e apressa a morte” (autor desconhecido).

... Diferente de Rita Lee, aprendi que amor não tem religião - é tanto “cristão” quanto “pagão” - e que sexo com quem se ama também pode ser animal, fantasia, imaginação, poesia. 

... “Tudo tem o seu tempo e hora” (sabedoria judaica) e que não adiante se apressar.

Talvez por isso a música “tocando em frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira seja uma das minhas preferidas. Nela os autores convidam seus ouvintes a aprender com aqueles que por andaram depressa, perderam o sono, machucaram, choraram, fizeram chorar...

“Tocando em frente” convida a você e a mim a reduzir a marcha, a andar “devagar”, cuidar um pouco de si mesmo, aprender a levar a vida com um “sorriso” nos lábios.

Assim é que “tocando em frente” convida a você e a mim a...

... Diminuir a velocidade, aprender a saborear coisas simples da vida, tais como: “as manhas” das crianças e o pôr do sol “das manhãs”, o gosto “das massas e das maçãs”.

... Viver em “paz pra poder sorrir” e a apreciar o cair da “chuva para florir”.

... Não levar a vida tão a sério, a aceitar o que não pode ser mudado e, com coragem e paciência histórica mudar o que pode, “compreender a marcha e ir tocando em frente”.

... Compreender que “um dia a gente chega e no outro, vai embora”.

... Tomar nas mãos a existência e, pela “estrada ir e ser”, compondo a própria “história”, buscando ser feliz.


Como Sócrates que dizia: “Só sei que nada sei”, “tocando em frente” convida a você e a mim a aprender a conviver com as incertezas e a convencer-se – frente ao mistério da vida e dos muitos saberes - da “certeza de quem muito pouco sabe”. Mas, ao mesmo tempo somos igualmente convidados a reconhecer as decepções e frustrações, os choros e o quanto isso nos faz, hoje, nos sentir “mais forte, mais feliz, quem sabe”.


“Ando devagar, porque já tive pressa...”. Que tal entrar em outro ritmo?

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Maruilson Menezes de Souza

por Maruilson Menezes de Souza

Doutor em Educação Teológica (PhD).

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