Limite é fundamental para a formação psíquica da criança
Não existem fórmulas mágicas ou manuais de instruções para criar filhos
Psicologia
28/05/2016
A criança precisa aprender esperar
Não existem fórmulas mágicas ou manuais de instruções para criar filhos pacientes, trata-se de um exercício diário, executado de maneira habitual e assertiva. O comportamento infantil inadequado é visível e de fácil correção, mas para isso é preciso identificar se o estímulo desencadeador está no ambiente sócio/cultural (situacional) ou na própria criança (generalização do comportamento). Se a criança apresenta comportamento impaciente apenas em algumas situações é provável que o fator estimulador esteja na relação com a pessoa/situação bastando uma correção “ASSERTIVA” por parte do facilitador do comportamento desejável. Caso a criança esteja apresentando o mesmo comportamento impaciente em casa, na escola, no restaurante, no supermercado e em todos os outros ambientes que ela frequenta é preciso buscar orientação profissional. A criança não está conseguindo desenvolver sua capacidade de construção da atividade consciente e passou a automatizar comportamento inapropriado. Segundo LEAL (2010) isso acontece por que a criança não está conseguindo entrar na relação triádica (criança, situação/objeto e facilitador). Quando isso acontece à criança desenvolve baixa autoestima e passa apresentar dificuldades com autorregulação. São dificuldades relacionadas com o processo adaptativo interferindo na construção psicológica, emocional e cognitiva (VYGOTSKY, 1998).
Desordem neuropsicológica
Quando a criança distorce a percepção da realidade a sua volta começa a apresentar comportamento inapropriado, sua baixa autoestima é um indicativo de que ela não está conseguindo atingir as expectativas do outro, gerando insegurança e sentimento de incapacidade. Quando os pais não sabem o que fazer mediante o comportamento impaciente do filho, acabam cedendo e reforçando a “atividade inconsciente” levando-o a repetir o mesmo comportamento em situações semelhantes. A criança cria “distorções cognitivas” da identificação pessoal e passa a negociar com os pais como se fosse adulto e os pais passam a responder como se fossem crianças usando recursos não apropriados com brigas e xingamentos. Isso ocorre por que a criança na fase da educação básica busca feedbacks positivos nos pais/cuidadores para desenvolver sua própria forma de pensar valores. Quando não encontram limites distorcem essa construção provocando inseguranças nos pais. É importante enfatizar que a cognição está relacionada com o processo mental superior e trata-se de um sistema de funcionamento envolvido na compreensão e adaptação ao ambiente (LURIA, 2008).
O desenvolvimento das habilidades adaptativas (prática, conceitual e social) ocorre gradualmente em busca de uma maior autonomia. Inicia com o nascimento e se torna independente por volta dos 21 ou 22 anos, quando ocorre maturação da área executiva e maturidade emocional. A não habilitação das funções básicas, como autoestima, responsabilidade, administração do tempo, higiene pessoal, respeito/obediência às regras e aos combinados, provocam uma desordem neuropsicológica (confusão com informações). Isto afeta a atenção voluntária, a memória lógica e a formação de conceito, ou seja, o sistema adaptativo da criança passa a criar resistência com respostas inadequadas devido à distorção das informações provenientes do exterior. A ansiedade desencadeada enfraquece a capacidade de resolução de problema da criança, levando-a ficar excessivamente angustiada, carente de autoconfiança e receosa do fracasso, desencadeando agressividade ou sedução na relação com o ambiente externo.
Falta de limites
Para construir seus esquemas de funcionamento cognitivo (capacidade de perceber, aprender, armazenar e pensar) a criança precisa passar por algumas etapas significativas (VYGOTSKY, 1998), podendo desencadear distorções perceptivas que afetaram a construção da sua realidade externa, gerando inseguranças e sentimento de incapacidade. Quando os filhos são privados da autoridade e da voz firme dos pais, sentem-se desprotegidos e desencorajados para desenvolver sua própria autonomia. Os limites empenham papel fundamental na formação psíquica da criança contribuído com desenvolvimento de competências necessárias para a construção da autorregulação do comportamento social, da capacidade de se expressar, do respeito, da obediência às regras morais e sociais e da flexibilidade para lidar com as frustrações.
Permitir demais pode resultar em problemas de conduta como intolerância a frustração e formação de crenças de competitividade e superioridade. A discordância entre os pais sobre os limites pode resultar em desobediência e a criança pode começar a fazer jogo entre os pais para conseguir o que quer. Os limites e as regras devem ser pontuados de maneira clara, combinada e adequada à faixa etária da criança, as consequências da desobediência também devem ser informadas. Quando há uma desobediência insistente recorrer a um profissional é o melhor caminho para poder entender a dinâmica que está levando a criança na produção e manutenção do comportamento inapropriado.
REFERÊNCIAS
LEAL, M. R. M. Passos na construção do eu. Ed. Bilíngue. Lisboa: Fim de Século, 2010. 272 p.
LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. 5. ed. São Paulo: Editora Ícone, 2008. 223 p.
PORTILHO, E. M. L. As estratégias metacognitivas de quem aprende e de quem ensina. In: MALUF, M. I. Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 47-59.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998. 191 p.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Terezinha Rodrigues
Terezinha Rodrigues. Psicóloga Cognitiva CRP 06/97499,
Especialista em Neuropsicologia, Gestora Neurocoach, Autora dos Programas Neurocoaching (Neuroplasticidade, Reestruturação Cognitiva e Mudança de Comportamento). Atuação: Assessoria Neuropsicológica e consultoria Comportamental.
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