Visões da Psicopatologia da Terapia Cognitiva Comportamental sobre Transtornos

Enigmas da Personalidade Psicopata.
Enigmas da Personalidade Psicopata.

Psicologia

18/04/2017

INTRODUÇÃO

 A psicopatologia está presente em toda a biografia científica na psicologia e psiquiatria. As concepções de alocução a respeito do mote, ao longo da história, nos indicam quão distintos são os modos de percepção do evento psicopatológico. Tal distinção se faz múltipla na literatura sobre estes estudos, destacada por um conflito entre normal e patológico. Entretanto, na atualidade, é exequível contemplar um rápido crescimento na gnose científica no tangente aos métodos terapêuticos na intervenção dos aspectos psicopatológicos, como os transtornos: de ansiedade, de humor, psicóticos, alimentares, de dependência química, etc. É perceptível a ação gradual e articulada entre profissionais da área de saúde, familiares e pacientes em aderir a programas de recursos interdisciplinares que inserem o sujeito na sociedade, educam e resgatem valores. Existem muitas publicações científicas na área de saúde que demonstram o êxito das terapias cognitivo-comportamentais no tratamento dos transtornos da personalidade.

Por se tratarem de condições permanentes, as taxas de incidência e prevalência se equivalem na questão dos Transtornos da Personalidade. A incidência global de Transtornos da Personalidade na população geral varia entre 10% e 15%, sendo que cada tipo de transtorno contribui com 0,5% a 3%. A psicopatia, como transtorno específico de personalidade, é marcada por uma insensibilidade aos sentimentos alheios. Quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afetiva, ele pode adotar um comportamento criminal recorrente. Logo, buscaremos responder a questão sobre a ótica dos diversos autores no intento de adotar um padrão e esclarecimentos sobre riscos e possíveis tratamentos sobre transtornos da personalidade psicopata.

 

1        PSICOPATOLOGIA

 

1.1 DEFINIÇÃO

 

            A psicopatologia é o estudo descritivo das expressões psíquicas atípicas sob a prática imediata, independente dos distúrbios clínicos. Ela analisa gestos, conduta, reação e expressões dos pacientes, bem como, os relatos e descrições próprias de cada um (JASPERS, 1973).

 

1.2  MODELOS E VISÕES DA PSICOPATOLOGIA

 

A cognição, comportamentos e experiências resultantes da desordem mental são desígnios da psicopatologia, sendo assim, podemos delinear duas visões analíticas das manifestações psicopatológicas, a saber: (a) Explicativa – tem por objetivo buscar explicação, limiar ou origem dos estados psicopatológicos fundamentados nos princípios comportamental, psicodinâmico ou existencial; e (b) Descritivafundamentada na descrição e classificação dos eventos postulados e agrupando sinais ou sintomas de determinada categoria.

Todavia, cabe ressaltar que os modelos adotados na psicopatologia seguem duas vertentes que é a explicativa denominada etiológica e outra voltada à descrição chamada nosográfica (aspectos diagnósticos de sinais mais externos que internos). Por outro lado, os modelos explicativos tendem a enfatizar tanto a estrutura psíquica quanto dados externos, advindos da observação.

Os manuais de diagnóstico de transtornos mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID) são classificações de caráter nosográfico (descrição dos sintomas) e organizam listas para serem verificados (CAETANO, 2008; DSM-IV, 2003).

 

1.3 TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS EM PSICOPATOLOGIA (PRINCIPAIS VISÕES)

 

A seguir, a Figura 1 mostra os modelos da psicopatologia de forma sucinta:

 

Fonte: Elaborada pelo próprio autor

Após análise das principais visões da psicopatologia vale ressaltar que algumas tendências fazem parte do cotidiano metodológico de muitos estudos da psicopatologia como: descritiva, dinâmica, médica, existencial, cognitiva comportamental, psicanalítica, categorial, dimensional, biológica e sociocultural, mas nosso enfoque é a cognitiva comportamental, que visa observar a origem ou associação da doença a um complexo de ideias alteradas ou processos desadaptativos.

Esse misto de tendência em psicopatologia nos remete a aclarar que os Transtornos Mentais e de Comportamento considerados pela Classificação Internacional das Doenças da OMS da ONU (CID 10) obedecem a descrições clínicas e normas de diagnóstico, tendo ainda outros critérios que definem com exatidão os transtornos como aqueles do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V). Essas classificações de Transtornos Mentais catalogam síndromes, doenças e condições, mas não identificam pessoas como uma ou mais desordens emocionais entrementes um ou mais períodos da vida independente do sistema estabelecido de critérios diagnósticos. Notoriamente podemos perceber que há muitas definições e controvérsias na literatura na busca persistente do entendimento sobre o ser humano, a mente e a relação com o mundo interno e externo. É nesse sentido que a revisão de literatura toma forma sobre o tema Transtorno da Personalidade e que nesse estudo está voltado para a psicopatia (CAETANO, 2008; DSM-IV-TR, 2003).

A seguir, na Tabela 1, podemos verificar as muitas reflexões acerca do conceito de psicopatia e derivações em sua evolução histórica.

 

Tabela 1: Evolução histórica do conceito de psicopatia e outros termos associados.

 

         Autores

      Ano

                                               Conceito

Girolamo Cardano

 

(1501-1576)

 

Concebeu uma das prévias definições exaradas pela medicina sobre o conceito de “Personalidade Psicopática”.

Pablo Zacchia

(1584-1659)

 

Criador da Psiquiatria Médico Legal relata as noções que enunciariam a acepção às “Psicopatias” e aos “Transtornos de Personalidade”.

Philippe Pinel

(1745-1826)

Em 1801, publica um Tratado médico filosófico sobre a alienação mental em que discursa sobre indivíduos que possuem todo perfil de mania, mas que necessita da ilusão (alude sobre “mania sem delírio”).

James C. Prichard

(1786 -1848)

Em 1835, publica seu trabalho Treatise on insanity and other disorders affecting the mind, o qual falava da "Insanidade Moral”. Usou a expressão moral de três modos: a) tratamento moral, querendo dizer tratamento psicológico; b) respostas emocionais ou afetivas (contrastando com intelectuais) e c) sentido ético de certo e errado.

Bénédict Morel

(1809-1873)

Em 1857, formula sua tese baseada na religião em que o corpo não é mais que “o instrumento da inteligência”. A adulteração de um indivíduo se propaga e piora ao longo das gerações. Cria a categoria de “loucura dos degenerados”.

Valentin Magnan

(1835-1916)

Ampliou conceito de degeneração introduzindo a ideia de desequilíbrio mental.

Heinrich Koch

(1843-1910)

Em 1888, cita “Inferioridades Psicopáticas” na relação social e não moral, admitindo ser congênitas e permanentes.

Emil Kraepelin (Psiquiatra Alemão)

(1856-1926)

Em 1904, classificação das doenças mentais com o termo Personalidade Psicopática para citar, aos indivíduos não neuróticos, psicóticos e não se inserem no esquema de mania-depressão, mas que se mantém em choque crucial com os critérios sociais.

Partridge

1930

Aludiu o conceito de personalidade sociopática para nomear a incapacidade ou supressão de vontade de alguns indivíduos para se submeterem às leis sociais.

Eugen Kahn

1931

Usa a personalidade psicopática para agrupar vários problemas e desordens da personalidade não classificados como doenças mentais e que teriam como condição precípua comum o desajustamento social.

Kurt Schneider (Psiquiatra Alemão)

(1887-1967)

Em 1923, rejeita a ideia na especificação da personalidade de alguns requisitos como: inteligência, instintos e sentimentos corporais reconhecendo como fundamentos simbólicos o grupo dos sentimentos e valores, das tendências e desejos.

Hervey M. Cleckley

(1941/1976)

Em sua obra: "A Máscara da Saúde" elabora as descrições atuais da noção clínica de psicopatia.

Karpmam

1961

Analogia biológica dividindo em dois grupos de psicopatas: os depredadores (usam a força para dominar) e os parasitas (adquirem pela astúcia e ilusão).

McCord e McCord

1964

A psicopatia como a forma de “incapacidade para amar” e a “privação de sentimentos de culpa” que caracterizam o eixo comportamental antissocial apresentado por indivíduos com este perfil de transtorno.

Robins

1966

Descrição comportamental da psicopatia orientada nos modos de observação (mensuráveis), não sendo essencial para definir o distúrbio entender os cursos psicológicos implícitos.

Buss

1966

 Apresentou um modelo tridimensional de características reveladas da psicopatia. Desta forma, o psicopata é: (a) um indivíduo vazio e isolado; (b) não tem uma personalidade de base; (c) não tem percepção de controle do tempo.

German Berríos (historiador e cientista)

1993

Em 1993, discute o conceito da “Insanidade Moral” como o equivalente ao nosso atual conceito de psicopatia.

Robert D. Hare

1991/2013

A psicopatia é referida em dois aspectos: 1) feição afetiva e interpessoal aparente, com emoções superficiais, egocêntrico, manipulador, com ausência de remorso e culpa; 2) modo de vida definido por desvios, impulsividade, grande carência de excitação e hábito antissocial. Ressalto que o transtorno antissocial da personalidade usado como sinônimo para psicopatia alude para algo mais específico.

Porter

1996

A psicopatia primária é parte da deficiência de afeto nativo enquanto que a psicopatia secundária contempla um transtorno afetivo adquirido.

Gonçalves

1999a/2000

A psicopatia vista em quatro abordagens distintas, a saber: a) concepção tipológica; b) dimensional; c) categorial; d) clínica.  A psicopatia pode ser definida por um complexo característico ou tipo de personalidade associada a indivíduos com ou sem história antissocial e que surge desde a infância, agravando na adolescência e perdurando na fase adulta.

Soeiro

2006

O transtorno da personalidade salvando-se as noções relacionadas com a função do comportamento antissocial como sintoma ou como consequência deste distúrbio.

Hemphill e Hart apud Huss

2011

A psicopatia como um constructo clínico ou modo específico de transtorno da personalidade antissocial dominante em indivíduos que praticam uma diversidade de ações criminosas e que em geral agem de modo inconsequente.

Morana, Stone e Abdalla Filho

2012

O tipo de transtorno da personalidade é indicado pela indiferença aos sentimentos de outrem. Quando o grau dessa insensibilidade se revela elevado, guiando o indivíduo a um acentuado descaso afetivo, ele pode adotar um comportamento criminal recorrente e revelar o transtorno da personalidade psicopática.

American Psychiatric Association (APA)

2013

Ainda que coincida alguns sintomas, a psicopatia é um transtorno da personalidade distinto do Transtorno da Personalidade Antissocial como referido no Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-V).

 

Fonte: Elaborada pelo próprio autor.

 

 

2        PSICOPATIA COMO TRANSTORNO DA PERSONALIDADE

A psicopatia é um Transtorno da Personalidade, também conhecido como Transtorno da Personalidade Antissocial. Segundo o DSM-IV-TR (2002), o Transtorno da Personalidade é considerado como experiências e comportamentos intrínsecos obstinados e que fogem as normas da cultura contemporânea. Comumente têm início na adolescência ou no princípio da vida adulta, costumam não se alterar com o passar do tempo. Possuem características de personalidade rígida e mal adaptativa que prejudica o comportamento em diversas áreas da vida. Dividem-se em Grupo A (Transtorno de Personalidade: Paranoide, Esquizoide e Esquizotípico), Grupo B (Transtorno de Personalidade: Antissocial, Boderline, Histriônico e Narcisista) e Grupo C (Transtorno de Personalidade: Esquiva, Dependente e Obsessivo-Compulsivo).

De acordo com Fiorelli e Mangini (2009) o Transtorno da Personalidade Antissocial, também pode ser chamado de psicopatia, sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático, transtorno dissocial e transtorno de conduta. Entretanto, para Alvarenga et al. (2009), Filho et al. (2009) e Gomes e Almeida (2010) defendem que todo indivíduo psicopata é antissocial, mas nem todo indivíduo antissocial é psicopata.

Para Mello Jorge (2002), o Transtorno da Personalidade Antissocial outorga um modelo de desrespeito e rompimento dos direitos de outrem, com atributos principais a ilusão e a dominação, negligência de compreensão emocional, insensibilidade e desprezo aos sentimentos alheios.

Geralmente, a principal essência da psicopatia é a falta de emoções. Os psicopatas tratam o outro como brinquedo/objeto que pode descartar ou manipular a qualquer momento, sendo incapaz de sentir amor, respeito e/ou qualquer tipo de sentimento, o que nos remete a uma passagem do autor Silva (2008) em que aponta os psicopatas como legítimos “predadores sociais”.

O saber fenomenológico explica que a psicopatologia é o estudo das manifestações da consciência (normais ou anormais) como a ciência que explica as formas de expressões verbais e de comportamento perceptível ao paciente, ressaltando que o indivíduo humano não se reduz a conceitos psicopatológicos (JASPERS, 2003).

A fenomenologia atual concorre ao conhecimento de três classes de fenômenos: (a) os que conhecemos por nossa própria experiência e estatisticamente mais encontrados; (b) os fenômenos de acentuações, diminuições e contaminações de experiências pessoais e que fogem da estatística comum devido a seu aspecto quantitativo; e (c) os que fogem da estatística comum e que se caracterizam pelo fato de não poderem ser representados na razão humana normal de modo compreensivo, visando sua qualidade diferente. A essa última classe pertence às experiências que chamadas "primárias".

Jaspers (2003) nos orienta sobre um modelo de diagnóstico das crenças delirantes apresentando três critérios, a saber: (a) certeza - a crença é mantida com absoluta convicção; (b) incorrigibilidade - a crença não passível de mudança por força de contra-argumentação ou prova do contraditório; e (c) Impossibilidade ou falsidade do conteúdo - a crença é implausível, bizarra ou patentemente inverídico.

Os traços da personalidade são padrões persistentes na forma de perceber, relacionar-se e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, apresentado em uma vasta lista de contextos pessoais e sociais. Por outro lado, quando são estritos e mal adaptativos e causam dano funcional ou sofrimento intrínseco significativo revela-se então, o que denominamos Transtornos da Personalidade (DSM-IV-TR, 2002/2003).

                   A seguir, a Figura 2 mostra a classificação dos transtornos de personalidade segundo DSM-IV:

Fonte: Elaborada pelo próprio autor.

 

Aludo sobre a classificação e de sermos pontuais em um tipo específico de transtorno da personalidade que é a Antissocial e que está inserida em Clusters/Grupo de Transtorno da Personalidade pelo DSM-IV (2003) em transtornos dramáticos, imprevisíveis ou irregulares percebidos como indivíduos manipuladores, rebeldes, com tendências a quebrar regras e rotinas, irritantes, “maus”, inconstantes, impulsivos, sedutores, imprevisíveis, agressivos, egoístas e com ausência de remorso.

 

2.1  CARACTERÍSTICAS

 

Kurt Schneider (1968) reuniu no conceito de Personalidade Psicopática todos os desvios da normalidade não bastantes para serem vistos como doenças mentais propriamente, incluindo nesses perfis o que hoje consideramos sociopatia. Relatou que a Personalidade Psicopática (distinto do conceito de sociopata atual) como aquelas personalidades insólitas que sofrem por sua anormalidade e/ou faz sofrer a sociedade. Sendo assim, diferenciou os seguintes tipos de Personalidade Psicopática: Hipertímicos, Depressivos, Inseguros, Fanáticos, Carentes de Atenção, Emocionalmente Lábeis, Explosivos, Desalmados, Abúlicos, e Astênicos.

Cleckley (1941/1988) em "A máscara da saúde" estabeleceu alguns critérios para o diagnóstico do psicopata sendo completado por Hare, Hart e Harpur (1991) e também presentes em Henriques (2009), relacionando as características a seguir: Problemas de conduta na infância, Inexistência de alucinações e delírio, Ausência de manifestações neuróticas, Impulsividade e ausência de autocontrole, Irresponsabilidade, Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade, Egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância, Incapacidade de amar, Grande ausência de reações afetivas básicas, Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada, Falta de sentimentos de culpa e de vergonha, Indigno de confiança falta de empatia nas relações pessoais, Manipulação do outro com recursos enganosos, Mentiras e insinceridade, Perda específica da intuição, Incapacidade para seguir qualquer plano de vida, Conduta antissocial sem aparente arrependimento, Ameaças de suicídio raramente cumpridas, Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida.

                   Holmes (1997) elucida que os psicopatas apresentam uma tríade de anormalidade, possuindo sintomas específicos: Humor (ausência de culpa e ansiedade, hedonismo, superficialidade de sentimentos e ausência de apego emocional); Cognitivos (parecem ser muito inteligentes, com habilidades verbais e sociais bem desenvolvidas e têm habilidade de racionalizar seu comportamento, não aprendendo com a punição); Motores (impulsividade e atos agressivos, embora em minoria, também existem).

                   Mira e López (2005) esclarecem que os psicopatas adotam as seguintes características: atração pessoal superficial e boa inteligência; ausência de delírios e crises; falta de constância, sinceridade, pudor, autocrítica e ética; egoísmo copioso; escassez afetiva; incapacidade de seguir um plano de vida com tendência à fantasia; propensão aos vícios e vida sexual desajustada. Todavia, bem parecido com Schnneider (1968), esses autores estabeleceram 11 tipos de personalidades: Astênica, Compulsiva, Explosiva, Instável, Histérica, Cicloide, Sensitivo paranoide, Esquizoide, Perversa, Hipocondríaca e Homossexual.

                   Os autores Fiorelli e Mangini (2009) elucidam que o psicopata é conhecido pela sua indiferença afetiva (por não apreciar contato íntimo) e pelo histrionismo (comportamento sedutor, envolvente que convida à intimidade). Ele pode ser independente ou dependente, extrovertido ou introvertido, e ainda apresenta traços de obsessão, de ousadia (assume riscos excessivos), de narcisismo (busca tratamentos especiais) e de egocentrismo (não se preocupa com os demais e manipulando-os para seus propósitos).

 

2.2  TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

 

A cognição é o conjunto de funções mentais como pensamento, linguagem, memória, senso-percepção, orientação e atenção incluindo os afetos e humores que podem ser afligidos pelas alterações do pensamento. A terapia cognitiva comportamental estuda a relação que os processos cognitivos possuem com os afetos e comportamentos, e como estes realimentam os processos cognitivos. É notório que a forma como se processam as informações advindas do meio apontam a investigação da realidade e a autoimagem tal como os padrões pré-estabelecidos do pensamento codificam fatos da realidade que se inserem com nossa visão de mundo. Por outro lado, a práxis pensante pode vir a focar em determinados aspectos da realidade e sintonia com eles. Daí, se um indivíduo teve uma infância centro de diversas críticas de seus pais tenderá a observar esse meio de modo mais violento e ser criticado por outros e correndo assim, um maior risco de desenvolver uma psicopatologia (BERCHERIE, 1986; FILHO, 2009; FRANÇA, 2004).

Pontualmente, como o cérebro humano é produto de um crescimento autonômico e funcional, a personalidade integra aspectos específicos da cognição e percepção, porém, não basta apenas a compreensão físico-química dos fenômenos cerebrais e atitudes adaptativas que um indivíduo possa ter para prever a reação do outro e de si mesmo ante uma circunstância. Quando essas causam algum sofrimento a ela e outros então nos deparamos com um Transtorno da Personalidade (FRANÇA, 2004).

A Personalidade Psicopática, segundo Devine e Ostrom (1994), nos permite a distinção entre duas estruturas: I- Grupo dos sintomas de eloquência, ausência de sentimentos de arrependimento ou culpa, afetos superficiais, falta de empatia e extrema dificuldade em aceitar responsabilidades, o que não se pode afirmar que o indivíduo seja antissocial, além disso, descreve grande imaturidade ou deficiência no juízo pleno da personalidade. II- Legítimos traços antissociais, isto é, na agressividade e falta de controle dos impulsos. A estrutura I não está necessariamente associada a II, mas este sim, para que seja dado diagnóstico de Psicopatia, deve obrigatoriamente ter como pré-requisito sinais e sintomas do grupo I.      

 

 

3        RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Após as pesquisas sobre as visões da psicopatologia e a terapia cognitiva comportamental dos transtornos da personalidade e a psicopatia verificamos que este transtorno mental provoca certas contradições entre estudiosos e autores no tangente ao conceito de psicopatia.

Pudemos notar que a evolução do conceito de psicopatia entre os estudiosos se evidenciou o conceito na vereda do caráter apreciando consoantes modelos morais e os preceitos éticos da relação humana deixando de ter aspectos da patologia médica para anormalidade ou distinção entre padrões de vida que podem ser indesejáveis (MORANA; MENDES FILHO, 2001), que de certo modo, essa concepção reflete as ideias de Schneider (1968) expressa no subitem "O surgimento e a evolução do conceito de psicopatia". A CID-10 corrobora nesse sentido ao tipificar os Transtornos da Personalidade como "o perfil distinto de viver do homem/mulher e seu estilo de erigir relações ele próprio e com outrem" (MORANA; MENDES FILHO, 2001).

Por outro lado, Hare (1996) aponta que o DSM propicia uma análise com alta confiança e instável valia e alude sobre a sua escala de avaliação da psicopatia chamada Hare psychopathy checklist-revised (Hare PCL-R). Portanto, o autor discorda com a recognição entre psicopatia e transtorno da personalidade antissocial formado pelo DSM, ou seja, baseado no padrão nosológico dimensional propõe a psicopatia como modo intenso da manifestação do transtorno da personalidade antissocial ressaltando que haveria distintas variantes desconsideradas pelo DSM que usam critérios de sintomas rígidos de inclusão ou exclusão ao tipo antissocial pontuais no comportamento perceptível do indivíduo, e não em elementos de sua personalidade.

O autor Henriques (2009) contrapõe a definição e nomeação da palavra “psicopatia” e do termo “transtorno de personalidade antissocial” defendido nos manuais atuais de psiquiatria, CID-10 e DSM-IV, como sendo termos sinônimos. Ainda sim, Henriques (2009) destaca que Schneider (1968) argumenta que a psicopatia é uma variação média entre o indivíduo ter caráter negativo (antissocial) ou positivo (gênio). Não obstante, Alvarenga et al. (2009), Filho et al. (2009) e Gomes e Almeida (2010) diferem do princípio que esses termos tenham a mesma definição e que sejam iguais, relatando que ambos podem ser complementares e sobrepostos. Isso ao passo que entendem que todo indivíduo psicopata é antissocial, mas nem todo indivíduo antissocial é psicopata corroborando com Devine et al. (1994). Em relação à origem, às causas da psicopatia, a maioria dos autores concorda que tal distúrbio tem como origem distintos fatores, como: biológico, psicológico e social.

           

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

           

O estudo proporcionou o esclarecimento de diversas contradições no tangente ao entendimento da psicopatia tais como definição do conceito e visões acerca de transtorno da personalidade antissocial, bem como a não precisão de origem e diagnóstico que dificultam o entendimento desse distúrbio e dos próprios profissionais quanto ao tratamento mais adequado e específico.

Mesmo que nos seja quase impossível tentar situar a contribuição de cada recorte sobre o tema, buscamos nos centrar naqueles elementos que delineamos como primordiais.     Chegar a um ponto de conclusão após traçar longo e distinto desafio, certamente não é o fim. Muitas referências bibliográficas dispostas e percorridas com afinco, ainda assim, foram retomadas, articuladas e construídas como todos os aspectos dinâmicos sobre nossa discussão.

Acreditamos pensar o nosso trabalho como um exercício de resgatar, desconstruir, construir e apontar rumo a outros saberes. Pudemos esclarecer sobre o conceito de psicopatia e os transtornos da personalidade antissocial e elementos novos para a compreensão a luz da psicopatologia.

Concluímos que, ainda que a construção do conceito de psicopatia não tenha ocorrido de forma linear e que possa ser observado por diversas alterações nesse processo nos últimos séculos, ele esteve sempre marcado por uma estrita relação com a criminalidade, efetivamente com os desvios de conduta e situação de desrespeito às normas sociais.

É intrigante o saber e questionamentos sobre os indivíduos que são sofredores psíquicos, por assim dizer, necessitam de um amparo maior e de uma atenção especial por parte da sociedade considerando-se os aspectos político-econômicos e os biopsicossociais que de fato sejam concedidas as condições de inclusão social e de representatividade em nosso país.

                  O ser humano é um complexo formado por corpo, mente e espírito. As ações provenientes do não querer ou intenção dão asas a muitas decisões e pensamentos. As experimentações e desafios fazem com que sejamos marcados com certas tendências como bem coloca Schneider (1968) que usou expressão positivo e/ou negativo. O olhar extremo dessas tendências é que transforma em transtornos diversos e quando aponta ao descaso, falta de amor, maldade e desvio de padrões sociais nos deparamos com a psicopatia também chamada transtorno antissocial. Apesar de muitos conflitos de pensamentos para se definir essa manifestação podemos destacar que o individuo com tendências a psicopatia, nem sempre realizará atos ilícitos e que este transtorno pode afetar todas as classes sociais.

                  Desta forma, devemos refletir que a Saúde Mental em nosso país ainda é precária se tomarmos como bases nossa estrutura político-econômica e os meios em que estão inseridas essas pessoas que sofrem de alguma patologia não só da mente, mas como um todo que nos deparamos enquanto membros de uma sociedade ou mesmo trabalhadores na área da saúde com anseios e necessidades de múltiplas carências na atual gestão brasileira. Definir estratégias e planos específicos é uma ponte para se alcançar o ideal para suprir e ajudar ao próximo e a nós mesmos.

                  Novas pesquisas e revisões futuras devem ser feitas para se obter novos horizontes acerca do tema proposto nesse artigo e sugiro uma visão mais ampla no sentido das diferentes correntes de pensamento sejam na área biológica, filosófica, psicossocial e até holística.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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Adriano Guilhermino Machado

por Adriano Guilhermino Machado

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