Trânsito uma realidade pouco percebida.

Recursos Humanos

13/01/2016

Muita gente ao circular de alguma forma pelas ruas não tomam noção dos riscos que correm por conta da própria imprudência ao circular.

É que boa parte destas pessoas não se percebem imprudentes e muitos acreditam que são mais perspicazes ao circular pelas ruas e como indicador usam a frequência baixa de ocorrência de acidentes. Ou seja, alegam que por não cometerem acidentes são bons motoristas.

Isto é um engano, pois não é quem não comete erros que é bom no que faz, mas quem é consciente do que está fazendo e quando faz é de forma cautelosa prudente. Esta maneira de fazer evita acidentes e quando este é inevitável sabe o que fazer.

Parece que as regras são percebidas mais como proibidoras do que como forma de organizar. A forma de direção segura é mais entendida como sendo uma forma de não saber (De falta de destreza). Os imprudentes são vistos e exaltados como os que sabem muito bem o que fazer. Para perceber isso, basta observar os super-heróis. Eles dirigem imprudentemente e são vistos como o máximo de quem sabe dirigir, quer dizer, como extremamente habilidosos.

Daí surge uma maneira de dirigir e de entender o trânsito que é contraditória a pregada pelos Códigos de trânsito, cursos de direção defensiva e direção segura. Por isso tão difícil é a conscientização do trânsito mais humanizado, mais seguro para todos.

Tanto é que o carro um veículo automotor, não é visto pelo desejante e muito menos por quem promove o desejo do desejante como o que ele é, mas sim como um objeto de desejo, de ascensão, de prosperidade, de status e estético.

O carro ou a moto é percebido como um meio de facilitar a conquista de mulheres bonitas, de inserção a grupos de amigos e vai por ai a fora.

Por isso, as propagandas de moto apresentam a liberdade de guiar e mulheres lindas ao seu redor e de carros como o ápice da conquista.

Isto parece que impede as pessoas de enxergarem os problemas relacionados à existência dos veículos automotores. Como consumo de combustível, sedentarismo, poluição, riscos desnecessários, saúde pública, políticas públicas, superlotação de hospitais e centros de tratamentos de trauma ortopédicos, e inúmeros outros.

O trânsito desta forma deixa de ser percebido como ele realmente é e passa a ser visto sob a ótica do clamor das propagandas, filmes e outros meios de influenciar o comportamento em massa.

As pessoas então, não percebem o trânsito com o seu devido perigo e que este perigo existe por inconsequência e não por acasos. Os acidentes não ocorrem por inevitáveis motivos, mas por imprudências como excesso de velocidade, dirigir teclando ao celular, movimentações com o veículo bruscas sem perceber as devidas cautelas, descumprimento de sinalizações, consumo de substancias que alteram a percepção e capacidade de reação e muitas outras.

 Isso faz com que o número de acidentes aumente drasticamente a cada ano tornando o trânsito cada vez mais e mais perigoso.

Só pra se ter uma ideia, segundo o DPVAT no ano de 2014 52,226 famílias foram indenizadas por morte. Isso significa que a cada hora morrem cerca de 6 pessoas por acidentes de trânsito no Brasil, ou seja, considerasse que não havia a clara intenção de matar.

Enquanto que na guerra da Síria, segundo a revista Veja (2014), “[...]O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos registrou 191.369 casos documentados de pessoas que morreram na Síria entre março de 2011 e o fim de abril de 2014[...]”, 3 anos, aproximadamente 8 pessoas por hora. Mas é devido lembrar que nestes casos a intenção é de matar.

Percebe-se que, o trânsito no Brasil segue os números assustadores das guerras.

Assim, os envolvidos com o trânsito pedestres, motoristas, motociclistas e todos os outros não dão conta da dimensão do problema que o trânsito se tornou para a vida, tanto no campo social e econômico, na saúde e previdência e tantos outros.

São danos físicos e mentais, são vidas encerradas, planos interrompidos, multidões de paralíticos ou tetraplégicos.

Deste jeito, sugiro que muito antes de tentar modificar o comportamento da população é necessário investir na mudança deste jeito de entender. O trânsito precisa ser percebido, pelo menos a maioria, como um meio de transitar. E a meu ver, isso só será possível a partir da educação. Para isso o trânsito deveria fazer parte do currículo escolar. As crianças, os jovens e todos precisam aprender sobre como transitar, como se comportar no trânsito.

Por isso é que desde o maternal até a faculdade o trânsito deveria ser pregado. Nas igrejas, nos templos religiosos, ou seja, em todos os possíveis lugares o transitar deveria ser discutido. E talvez com isso daqui a uns 15 anos o comportamento das pessoas no trânsito comece a apresentar sutis mudanças.

E por incrível que pareça no Código de Trânsito Brasileiro no Artigo 76 que entrou em vigor em janeiro de 1988, diz que,

A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.

Porém, isso na prática ainda não saiu do papel. E já se passaram 17 anos.

Portanto, a mudança no comportamento dos que utilizam o trânsito só apresentará mudanças quando a vontade política estiver junto à vontade da população. Sem isso apenas uns esperando pelos outros é o que veremos.

 

Referências

Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.  Lei Nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Código de Trânsito Brasileiro, Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm. Acessado em: 23 jun. 2015.

Estatísticas do Seguro DPVAT reforçam a importância do Movimento Maio Amarelo. Disponivel em: <http://www.viverseguronotransito.com.br/?s=estat%C3%ADsticas&x=0&y=0>. Acessado em: 23 de jun. 2015.

Revista Veja. ONU: Guerra na Síria provocou mais de 191 mil mortes. .NET, Rio de Janeiro, ago. 2014. Editora Abril. Disponível em:

. <http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/onu-guerra-na-siria-provocou-mais-de-191-mil-mortes/>. Acesso em; 23 jun. 2015.

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Rafael Carlos de Melo

por Rafael Carlos de Melo

Psicólogo formado na Faculdade de Ciências Médicas e Paramédicas fluminense SEFLU, MBA Gestão de RH na Universidade Veiga de Almeida UVA, Instrutor de trânsito na CEPERJ, Formação em Terapia cognitivo comportamental pelo IBH Instituto brasileiro de hipnose aplicada. Atuando em atendimento clínico como Psicólogo em consultório particular, Gerente da empresa Interlagos Centro de apoio ao condutor.

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