Ecoturismo e Educação Ambiental

coturismo e Educação Ambiental
coturismo e Educação Ambiental

Turismo e Hotelaria

01/04/2015

Mudei há pouco tempo de cidade. Vivo agora em uma região litorânea, cercada por lindos morros de pedra, enormes dunas de areia, um rio que troca de cor a seu bel prazer, e natureza e paisagens exuberantes. Troquei a “cidade grande” por uma vida mais pacata. Como estudante de Turismo e apreciador do meio ambiente natural, não posso deixar de manifestar algumas considerações sobre o uso destas áreas (protegidas ou não) para fins turísticos, bem como sobre o papel dos empreendedores da área de turismo e da comunidade local envolvida com o setor.


Não me considero expert na área de ecoturismo, porém, por acreditar que este ramo tem grande potencial para reaproximar conscientemente o homem da natureza, arrisco-me a tecer opiniões acerca deste tema. Lendo alguns textos a respeito do ecoturismo, foi possível perceber que o verdadeiro espírito desta atividade é a preservação e conservação das áreas visitadas. Muitas atividades de ecoturismo são realizadas em áreas protegidas por lei, o que favorece a fiscalização e o ordenamento das atividades propostas. Infelizmente, nem sempre ocorre desta maneira. Se não for bem planejado e desenvolvido, o ecoturismo pode afetar negativamente o local onde está inserido, comprometendo o próprio produto de que faz uso para ser praticado: a natureza.


Usa-se, atualmente, o termo “sustentabilidade” em todas as áreas da sociedade. Pode-se observar este tema relacionado a vários setores, como economia, cultura, sociedade, meio ambiente, dentre outros. Existem aqueles que afirmam ser a sustentabilidade a relação próxima de todos os setores da sociedade, de todas as ciências. Ou seja, quando as distintas esferas sociais trabalharem em conjunto, atentando mais aos valores coletivos do que aos individuais, aí sim teremos uma sustentabilidade de fato, em que os envolvidos sustentam-se uns aos outros.


O ecoturismo pode ser um grande incentivador da sustentabilidade, pois atua diretamente com um dos setores da sociedade mais importantes para o exercício desta atividade: o meio ambiente natural. Ainda assim, muitos profissionais utilizam-se das ferramentas desta modalidade de turismo simplesmente para fins lucrativos, e esquecem o fator de preservação do meio onde trabalham. Penso que o objeto primário da atividade ecoturística deveria ser a conscientização dos visitantes para a importância da manutenção das áreas exploradas, tanto para a própria atividade de ecoturismo quanto para a vida em si mesma. As atuais crises ecológicas demonstram que, mesmo com todos os avanços tecnológicos, ainda não conseguimos perceber que dependemos totalmente dos recursos naturais para nossa existência.


Neste sentido, por meio de projetos de educação ambiental, aos visitantes e autóctones, o ecoturismo pode ser uma ferramenta eficaz na reversão de quadros de degradação ambiental. A conscientização das populações locais é de suma importância para a proteção dos recursos naturais de determinado local, tendo em vista que muitos moradores podem depender justamente destes recursos para viver e sustentar-se. Igualmente importante, a educação ambiental dos visitantes objetiva demonstrar que, mesmo não residentes nos locais de visitação, eles também são responsáveis pela preservação do ambiente. Assim, a relação entre turistas e comunidade local estabelece-se como uma parceria, em que cada um sente-se responsável pela vida do outro.


Por exemplo, uma das modalidades de ecoturismo existentes é o turismo rural, que envolve produtores locais e seus produtos – alimentos e bebidas, artesanato, passeios, etc. Esta atividade depende da produção rural para se manter, e se o ambiente onde esta produção está inserida for degradado poderá haver o encerramento das atividades de turismo, e até mesmo o comprometimento da subsistência do modo de vida local. Portanto, a consciência de preservação deve partir de ambas as partes. Do lado de quem produz, pois depende do local para viver, e do lado de quem visita, pois interfere diretamente na vida do autóctone. Contudo, no caso do turismo rural, este não deve ser a principal fonte de renda do produtor, e sim um complemento, para não interferir na cultura local, mantendo, assim, o lugar com suas peculiaridades inatas e fomentando a atividade turística por consequência. Não digo aqui que o turismo deve ser colocado à parte das outras atividades locais. Pelo contrário, afirmo que o turismo, quando bem planejado, pode ser um meio de preservação e perpetuação de costumes, hábitos, modos de viver muito particulares, e este deve ser seu principal objetivo.

O ecoturismo, geralmente praticado em áreas protegidas, deve ser praticado justamente para a continuação desta proteção ambiental. Conforme leis e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em algumas áreas o ecoturismo é permitido, em outras não. Ainda assim, é possível encontrar degradação em pontos isolados, onde o homem não deveria nem ter acesso. Portanto, não é a atividade ecoturística em si a causa da destruição e comprometimento ambiental, mas sim as pessoas que não estão conscientes de seu papel enquanto cidadãos. Por isso, a educação ambiental pode ser fundamental, transmitindo aos autóctones, visitantes e empresários do ramo turístico conhecimentos e instrumentos para a preservação dos recursos naturais de um local.


Por parte dos moradores locais, a educação pode trazer muitos benefícios à comunidade, pois demonstra como é importante que eles mesmos possuam o espírito conservacionista. Sendo residentes nos locais de exploração ecoturística, estes devem ser os grandes protetores dos recursos naturais do lugar, pois é deles que, muitas vezes, provém sua sobrevivência e renda. Tendo em vista as futuras gerações, programas de educação ambiental devem ser implantados nas escolas da região, a fim de que os alunos tomem conhecimento do seu local de moradia, bem como da importância da preservação do lugar para o seu próprio bem.


Em se tratando dos profissionais que atuam no ecoturismo, estes devem estar capacitados a desenvolver ações de cunho preservacionista, no intuito de conservar intacto seu local de trabalho: a natureza. Para tanto, conhecimentos básicos são fundamentais, tais como da área de visitação – trilhas, cavernas, florestas, campos, montanhas; interesse na cultura e modo de vida local – agricultura, pecuária, festas, crenças, costumes, descendências, e; primeiros socorros – atendimento ao turista em caso de acidente. Todos estes saberes, aliados a atitudes de conservação do meio ambiente farão com que a atividade ecoturística se desenvolva com plenitude e ofereça muitas – ou somente – vantagens a todos os envolvidos.


Já os turistas devem ser conscientizados, tanto pelo profissional que os acompanha quanto pela comunidade onde o atrativo turístico está inserido. Neste ponto também se pode recorrer à educação, pois com lições de caráter preservacionista é possível instigar nos visitantes o espírito de proteção dos recursos naturais.


Até mesmo nossas leis permitem o “uso” destas áreas para a aproximação do homem com a natureza. Elas protegem, ao mesmo tempo em que permitem o contato direto do homem com o meio ambiente, desde que respeitadas as regras da boa conduta quando em contato com os recursos naturais, que nos são ofertados gratuitamente. E o engraçado disso tudo é que ainda não nos demos conta de que tudo o que consumimos advém da natureza, em sua mais pura forma. Portanto, se tudo o que usufruímos e consumimos em nosso cotidiano é gerado a partir dos recursos naturais existentes no Planeta Terra, o espaço considerado “urbano” acaba por ser “natural”, contudo transformado, manufaturado, industrializado.


Estou em um momento privilegiado de minha vida, em contato constante com a natureza. Consigo sentir algo que, talvez, venha de Deus. É impossível saber ao certo, mas paira, em lugares de paisagens exuberantes, uma aura mística, um tanto quanto reflexiva. Poder ver imensidões de plena demonstração das belezas da mãe-natureza é majestoso. É possível perceber que, desde os primórdios da história do homo sapiens, o culto às forças da natureza já eram evidenciados. A relação da natureza com o divino favoreceu adorações a deuses como o Sol, a Lua, os rios e mares. Portanto, não há lugar melhor para sentir algo diferente do que perto da natureza. E nada melhor do que proporcionar estas mesmas sensações aos turistas. E nada melhor do que o ecoturismo para colocar em prática estas propostas.


Sendo assim, gostaria de sugerir estudos sobre as possíveis intervenções que podem ser feitas, por meio da educação ambiental e do ecoturismo. Reitero minha posição de que somente pela educação, com projetos que tirem os alunos de dentro de sala de aula e mostre a elas o mundo como ele realmente é, ao vivo e com cores, texturas, cheiros e formas das mais variadas, não somente no quadro marcado de giz ou nas folhas chatas dos livros. O conteúdo de sala de aula, muitas vezes, está desconectado do mundo real dos alunos. Por que não estudar biologia no meio de uma trilha e não na sala de aula?


Urge o tempo da mudança. Deve-se imbuir as gerações vindouras de consciência do seu papel de cidadão no mundo. Assim, se metade do objetivo der certo, poderemos vislumbrar um mundo em que o homem respeite o seu habitat natural. Um mundo em que as pessoas tomem mais banhos de chuva ou caminhem descalças na grama. Esse é o ecoturismo educacional que desejo.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Juliano Lanius

por Juliano Lanius

Acadêmico de Turismo da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), atua há 10 anos no setor de Alimentos e Bebidas, especificamente bares e restaurantes. Foi relator da I Conferência Regional de Turismo da Região Central/RS e aluno-bolsista do "Projeto Educação para o Turismo", em Santa Maria/RS. Escreve sobre Turismo e A&B, além de crônicas sobre assuntos diversos.

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