Intoxicação cúprica acumulativa em ovinos: uma revisão bibliográfica
Monografia Felipe
Veterinária
17/12/2011
Intoxicação cúprica acumulativa em ovinos: uma revisão bibliográfica
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) - Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Ciências Agrárias, PE, 2011.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Coutinho Antonelli
RESUMO
O cobre (Cu) é um microelemento componente essencial em dezenas de sistemas enzimáticos. Fundamentalmente, o Cu é um elemento tanto essencial quanto tóxico ao organismo animal. Sua toxicidade é variável entre os ruminantes, sendo o ovino o mais sensível das espécies. Diversos casos de intoxicação espontânea por Cu tem sido diagnosticados no Brasil. A intoxicação acumulativa por cobre pode ocorrer em ovinos após muito meses de doses diárias de 3,5 mg/Kg de Cu. A condição tem ocorrido após a ingestão de alimentos contendo pequenas quantidades, como 20 mg/kg, por diversos meses. A intoxicação cúprica resulta em uma crise hemolítica de apresentação aguda que ocorre depois da ingestão contínua de doses subtóxicas. As fontes de Cu responsabilizadas pela ocorrência de intoxicação em ovinos incluem sais com minerais formulados para bovino leiteiro, rações com mais de 20% de cama de frango, pedilúvio com sulfato de Cu e sais de Cu administrados por via parenteral para o tratamento de deficiência de Cu, entre outras. A intoxicação por Cu ocorre nos principais países ovino-produtores como a Austrália, Nova Zelândia, USA, Grã-Bretanha e África do Sul. Existem poucos relatos de intoxicação acumulativa por Cu no Brasil, sendo a maioria dos casos descrita em regiões de ovinocultura como o Rio Grande do Sul. A taxa de mortalidade é alta e se aproxima de 100%. Os sinais clínicos mais reconhecidos são taquipnéia, fraqueza, polipdpsia, xifose, apatia, dor abdominal, febre, diarréia, urina vermelho-amarronzada, icterícia e isolamento do rebanho. O diagnóstico da intoxicação cúprica é feito pelo histórico, sinais clínicos, patologia clínica e achados necroscópicos. A concentração de Cu hepático é conclusiva no diagnóstico de intoxicação cúprica. O diagnóstico diferencial deve ser realizado com a leptospirose e a hemoglobinúria bacilar. O tratamento é realizado a partir da retirada da fonte de Cu, além da administração de 100 mg de molibdato de amônio e 1g de sulfato de sódio anidro via subcutânea ou intravenosa, administradas em dias alternados, a fim de reduzir os níveis de Cu dos tecidos. Várias são as formas de controlar este tipo de intoxicação, tais como a avaliação das concentrações hepáticas de Cu, nos animais abatidos, não suplementar com Cu os ovinos alimentados com grãos e subprodutos, uso metafilático de sal mineral com molibdênio e ao fertilizar os pastos verdes com esterco de porco, cama ou esterco de aves ou adubo artificial com Cu é necessário que se deixe passar suficiente tempo até secar.
SENTO SÉ, F. S. Cumulative copper poisoning in sheep: a literature review. 2011. 33 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) - Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina, 2011.
ABSTRACT
Copper is a microelement essential component in dozens of enzyme systems. Fundamentally, copper is an essential element and also toxic in large doses to the animal organism. Its toxicity is variable among ruminants, the sheep being the most sensitive species. Several cases of spontaneous copper intoxication has been diagnosed in Brazil. The cumulative copper poisoning in sheep can occur after many months of daily doses of 3.5 mg/kg of copper. The condition has occurred after ingestion of foods containing small amounts such as 20 mg/kg for several months. Cupric intoxication results in an acute hemolytic crisis of presentation that occurs after continuous intake of sub toxic doses. The sources responsible for the occurrence of copper poisoning in sheep include salts with minerals formulated for dairy cattle, feed more than 20% of poultry litter, ingestion of footbath with copper sulphate and copper salts administered intravenously for the treatment of copper deficiency, among others. The copper poisoning occurs in the main sheep-producing countries such as Australia, New Zealand, USA, Britain and South Africa. There are few reports of cumulative Cu poisoning in Brazil, most of the cases described in the sheep industry as regions Rio Grande do Sul. The letality rate is high and approaches 100%. The most recognizable clinical signs are tachypnea, weakness, polydpsia, cifosis, apathy, abdominal pain, fever, diarrhea, red-brown urine, jaundice and isolation from the herd. The diagnosis of cupric intoxication is made by history, clinical signs, clinical pathology and autopsy findings. The concentration of hepatic copper is conclusive in the diagnosis of cupric intoxication. The differential diagnosis should be performed with leptospirosis and bacillary hemoglobinuria. The treatment is performed from the removal of the source of Cu, besides the administration of 100 mg of ammonium molybdate and 1 g of anhydrous sodium sulphate subcutaneously or intravenously administered on alternate days in order to reduce tissue copper levels. There are several ways to control this type of poisoning, such as the evaluation of hepatic copper concentrations in the animals slaughtered, no copper supplemental in sheep fed with grains and by-products, metaphylactic use of mineral salt with molybdenum and fertilize the green pastures with pig manure, litter or poultry manure or artificial fertilizer with copper it is necessary to wait some days until the manure dries in the field.
1. INTRODUÇÃO
A espécie ovina foi a primeira a ser domesticada e acompanha o homem, desde os primórdios da civilização. A ovinocultura está presente na história da humanidade como sendo a atividade que proporciona a maior fonte de alternativas para subsistência, pois, fornece a lã e pele para vestuário; carne e leite para alimentação (FERNANDES, 1989).
A ovinocultura tem se expandido nesta última década nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Muitos criadores têm melhorado o sistema de criação introduzindo novas raças e técnicas de alimentação para intensificar a produção de cordeiros para abate. A criação de ovinos em sistema intensivo tem incrementado a produtividade dos rebanhos, porém, aumentado a incidência de várias enfermidades nutricionais e metabólicas, como a toxemia da prenhez em fêmeas, urolitíase em machos e a intoxicação cúprica em ambos os sexos (ORTOLANI, 1996).
Entre as espécies de animais domésticos, os ovinos são, inquestionavelmente, os mais sujeitos a apresentarem intoxicação por cobre (Cu), estando a etiopatogenia da doença associada à menor capacidade de excreção de Cu dos ovinos. Isto se deve aos baixos teores de metalotioneína, diminuindo a excreção do Cu do organismo, o qual se acumula no fígado principalmente em raças ovinas mais susceptíveis, tais como Sulffolk e Texel (RADOSTITS et al., 2002; SOARES, 2004). Trata-se, portanto, de uma doença essencialmente nutricional que exige a implantação de medidas de controle, pois causa severas perdas econômicas pela morte de vários animais afetados, especialmente ovinos de corte, manifestando-se principalmente em animais jovens de alta genética preparados para exposições, pois além de consumirem mais tem maior taxa de absorção, sendo os ovinos mais susceptíveis do que outras espécies de ruminantes (DU et al; 1996; REZLER, 2007; HEADLEY et al., 2008).
Casos de intoxicação acumulativa por Cu ocorrem quando minerais e rações formuladas para bovinos são utilizadas na alimentação de ovinos, ou quando estes animais recebem alimentos ricos em Cu como a cama de frango, fezes de poedeira (apesar de serem proibidas na alimentação de ruminantes), ou então quando são manejados em pastagens irrigadas com chorume de suínos (RADOSTITIS et al., 2002). 2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Intoxicação cúprica
Fundamentalmente, o Cu é um elemento tanto essencial quanto tóxico ao organismo animal. Sua toxicidade é variável entre os ruminantes, sendo o ovino o mais sensível das espécies (LEMOS et al.; 1997). Diversos casos de intoxicação espontânea por Cu tem sido diagnosticados no Brasil (LEMOS et al.1997; SOARES, 2004).
A intoxicação por cobre é uma causa frequente de morte súbita em ovinos. As intoxicações acumulativas por Cu não são raras nos bovinos ainda que muito menos frequentes que nos ovinos (GERRIT- DIRKSEN, 2005). Apesar da baixa susceptibilidade, já foi relatada em bovinos alimentados com palha de cama de frango. A alimentação de bovinos normalmente possui o dobro da quantidade de Cu oferecida aos ovinos e pode ocasionar intoxicação nessa espécie (SMITH, 2006).
A dose tóxica única de Cu para os ovinos varia entre 20 e 110 mg/kg PV, enquanto a dose tóxica para bovinos varia entre 220 e 880 mg/kg PV. A intoxicação acumulativa por Cu pode ocorrer em ovinos após muitos meses de doses diárias de 3,5 mg/kg PV de Cu. Existem relatos de ocorrência de intoxicação cúprica devido à ingestão de alimentos contendo pequenas quantidades de Cu, como 20 mg/kg PV, por diversos meses (SMITH, 2006).
2.2 Etiologia
As intoxicações podem ocorrer de forma súbita ou super aguda quando um animal pode ingerir, de uma só vez, grandes quantidades de Cu (acima de 500 mg/kg PV). Segundo ORTOLANI (1996), a intoxicação cúprica ocorre de forma aguda ou acumulativa por razões multifatoriais e está intimamente ligada a ingestão de altas concentrações dietéticas de Cu. As principais fontes são os alimentos e água que contenham altas quantidades de Cu, como contaminante ou presentes naturalmente em suas composições, e também os medicamentos ricos em Cu. Tal situação pode ocorrer, por exemplo, na ingestão de água de pedilúvio, com solução de sulfato de Cu a 5% ou 10%, utilizado para tratamento de problemas podais em ovinos.
Porém, a maioria dos casos clínicos é caracterizada como intoxicação acumulativa oriunda de ingestão de níveis dietéticos não tão altos de Cu (mais de 12 mg/kg PV) e que se acumulam no organismo dos ovinos, no decorrer de algumas semanas até alguns anos (SILVA SOBRINHO, 1996).
As fontes de Cu que foram responsabilizadas pela ocorrência de intoxicação em ovinos incluem sais com microelementos minerais (formulados para bovino leiteiro), rações contendo mais de 20% de cama de frango seca (ver tabela 1), dietas ricamente suplementadas com resíduos de óleo de coco, pastagens fertilizadas com esterco de frango, forragens oriundas de pastagens com pomares frutíferos contaminados com fungicidas que contêm sulfato de Cu, parasiticidas para helmintos gastrointestinais e pedilúvio com sulfato de Cu, mourões de cerca tratados com fungicidas, cabos aéreos corroídos, sementes de grãos tratados com Cu e sais de Cu administrados por via parenteral para fins terapêuticos comercializados para o tratamento de deficiência de Cu (SMITH, 2006). Também há relatos de que o pastoreio em pastos que sofreram uma excessiva fertilização do solo com Cu, por exemplo, com esterco de porcos tem produzido intoxicação acumulativa em ovelhas (GERRIT- DIRKSEN, 2005).
Mas a grande causa responsável pela maioria dos casos de intoxicação cúprica acumulativa está na alimentação dos ovinos com altas quantidades de rações concentradas, a base de grãos como o trigo, milho e soja. Embora a quantidade de Cu presente nestes alimentos não seja tão alta, a sua disponibilidade o é, pois o Cu está ligado as proteínas facilitando a sua absorção pelos ovinos (ORTOLANI, 2003). Quando os ovinos são alimentados com dieta rica em concentrados energéticos, os quais são pobres em molibdênio e enxofre, aumenta significativamente o risco de intoxicação cúprica devida a maior disponibilidade de Cu dietético (SOARES, 2004).
Ovinos com dieta deficiente em selênio e com níveis baixos de glutationa peroxidase são mais susceptíveis à intoxicação acumulativa por Cu. Alguns ovinos são também condicionados em virtude de herança genética, por possuírem níveis baixos no sangue de glutationa, independente da ingestão normal de selênio na alimentação. Eles também têm níveis baixos de glutationa peroxidase no sangue, podendo, por essa razão, ser mais susceptíveis (RADOSTITS et al., 2002).
A intoxicação por Cu também pode ocorrer quando existem lesões hepáticas causadas por plantas que contém pirrolizidinas (ILHA et al., 2001). Lemos et al. (1997) observaram variação individual de susceptibilidade a intoxicação por Cu em ovinos. Isto se tornou evidente em um estudo onde um animal que recebendo 60 mg/kg PV de Cu, não apresentou sinais clínicos de intoxicação, enquanto que outro, recebendo metade desta dose, apresentou quadro clínico com evolução fatal.
2.3 Epidemiologia
Ocorrem surtos esporádicos de envenenamento em muitas circunstâncias, tanto em casos agudos como acumulativos, sendo a taxa de mortalidade aproximadamente de 100 % (RADOSTITS, 2002). A intoxicação por Cu ocorre nos principais países onde a ovinocultura é mais desenvolvida, tais como a Austrália, Nova Zelândia, USA, Grã-Bretanha e África do Sul (HEADLEY et al., 2008). Existem poucos relatos de intoxicação acumulativa por Cu no Brasil, sendo a maioria dos casos descrita em regiões de ovinocultura como o Rio Grande do Sul (HEADLEY et al., 2008).
O aumento de incidência da intoxicação cúprica acumulativa no decorrer das últimas décadas está ligada às mudanças de manejo realizadas pelos ovinocultores, os quais têm fornecido a seus rebanhos dietas com altos teores de Cu, em especial com o uso de sais minerais formulados para bovinos, que contém até 5.000 mg/kg PV deste elemento (ORTOLANI, 2003).
A primeira referência de ICA em ovinos estabulados no Brasil foi em 1966, em animais exibidos na Exposição Estadual de Animais de Porto Alegre, RS, sendo a ingestão continuada de dietas com altos níveis de Cu durante a preparação dos animais para a feira somado as situações estressantes como a viagem para a feira e a mudança de ambiente, fatores determinantes para o desencadeamento desse quadro (GALVÃO & WILLIAMS, 1966).
Segundo SILVA SOBRINHO et al (1996), algumas raças apresentam a intoxicação cúprica com maior frequência, tais como os ovinos da raça Texel e Suffolk. A raça North Ronaldsay é a mais sensível à intoxicação, seguida pela Texel. A menos sensível é a raça Merino, que possui maiores necessidades de Cu e tem maior resistência para sobreviver a crise hemolítica. No nordeste ocorrem em diversas raças como a Santa Inês, Morada Nova e Dorper, mas não se sabe se estes são mais ou menos susceptíveis que as raças criadas no sul e sudeste (RIET-CORREA, 2007). Ovinos jovens podem apresentar um risco de intoxicação até quatro vezes maior que os adultos devido a sua maior capacidade de absorção de Cu. As fêmeas parecem ser mais propensas a desenvolverem o quadro de intoxicação cúprica, provavelmente, por ação do estradiol aumentando a retenção de Cu no fígado (ORTOLANI, 1996).
2.4 Patogenia:
Quando o animal consome uma dieta com excessiva concentração de Cu, este estimula os mecanismos de depósito (síntese de metalotíoneina e proteínas lisossomais) e aumenta a reserva hepática do elemento, porém se a situação continuar não existirá espaço físico para mais proteínas e o Cu começa a sair, danificando primeiro as membranas do hepatócito para ir logo a circulação onde afetará especialmente os eritrócitos (FAZZIO et al., 2006).
Segundo SMITH (2006), a lesão hepática secundária ao acúmulo de Cu precede o inicio dos sinais, o estresse, o transporte e o jejum podem servir como eventos iniciadores da liberação de Cu do fígado.
O Cu é tóxico quando se encontra livre. Isto se deve a que o Cu, igualmente ao ferro (Fe), são elementos com capacidade de tomar e ceder elétrons trocando sua valência, originando assim a transferência de elétrons que levam finalmente à formação do radical hidroxila (OH). Este radical é um dos chamados espécies ativas de oxigênio (EAO), que incluem uma série de compostos instáveis que tendem a ceder elétrons a outras estruturas, alterando-as em sua estrutura e função. Entre as estruturas celulares mais afetadas pelas EAO’s se encontram as membranas celulares, que sofrem peroxidação de seus ácidos graxos insaturados, originando grupos polares que ocasionam alterações de sua permeabilidade. A somatória desses pontos de danos oxidativos levam a uma degeneração celular e finalmente à morte. (FAZZIO et. al. 2006)
A intoxicação cúprica acumulativa em ovinos se caracteriza por três fases distintas: pré-hemolítica, hemolítica e pós-hemolítica (SOARES, 2004; ANTONELLI, 2007). Na primeira delas, ocorre acúmulo de Cu hepático sem que exista o surgimento de sinais clínicos evidentes. Inicialmente o Cu vai acumulando-se nos hepatócitos periféricos à veia central e na zona pericanalicular. Contudo, com o progredir do acúmulo de Cu outros hepatócitos, mais periféricos a estas áreas citadas, também aumentam suas concentrações de Cu, porém, com quantidades não tão altas. De acordo com o que ocorre o aumento da concentração cúprica nos hepatócitos, a distribuição deste microelemento dentro das células se modifica. Com o evoluir do acúmulo, o Cu passa a ser estocado nos lisossomos, os quais aumentam em número e tamanho dentro dos hepatócitos. Quando o acúmulo de Cu atinge valores superiores a 1.000 mg/kg pode ocorrer o rompimento de lisossomos provocando necrose intracelular. (ANTONELLI, 2007)
Durante a fase pré-hemolítica ou algumas semanas antes da crise hemolítica, ocorre necrose hepática e elevação dos níveis das enzimas hepáticas. A maior parte da necrose ocorre no momento da crise hemolítica e é a principal responsável pela liberação de Cu do fígado (RIET-CORREA et al, 2007). A ingestão contínua durante semanas ou meses de quantidades excessivas de cobre ao princípio produz um acúmulo clinicamente inaparente de Cu no fígado (GERRIT-DIRKSEN, 2005).
O desencadear da fase hemolítica ocorre quando os teores de Cu atingem valores máximos dentro dos hepatócitos, promovendo morte celular difusa destes e a liberação maciça de Cu livre de lisossomos, os quais causam intensa injúria celular no fígado e em outros sítios do organismo. Após penetrar na hemácia o Cu livre oxida a glutationa, substância responsável pela integridade destas células, culminando com a hemólise, cerca de 24 horas após. Mas sem qualquer dúvida, as injúrias mais significativas ao organismo tanto causado pelo Cu, como pela hemoglobina e as lisosimas livres são as graves degenerações e necroses dos vasos renais, glomérulos e dos néfrons levando a uma intensa disfunção renal e o estabelecimento de um estado de uremia (ORTOLANI, 2003).
A causa-mortis em ovinos intoxicados por Cu não é o dano hepático, nem a anemia, que se segue à crise hemolítica, mas sim a grave insuficiência renal resultante do quadro (SOARES, 2004). Isto foi constatado pela constatação de altas concentrações de ureia e creatinina séricas seis vezes maiores nos ovinos que sucumbiram que nos que nos sobreviventes (MACHADO, 1998)
Gooneratne et. al. (1986) e Jones et. al. (1984) relataram que ocorre insuficiência renal nos ovinos intoxicados devido a achados patológicos em seus trabalhos sobre esta enfermidade. Entretanto, pelo fato destes estudos terem sido realizados especificamente para avaliar as lesões renais independente do quadro geral, os autores não concluem da real importância da insuficiência renal dentro do contexto desta enfermidade, necessitando maiores estudos a respeito (ANTONELLI, 2007)
Existem numerosas explanações para o desenvolvimento da hemólise, sendo mais plausível a que afirma que os eritrócitos de um ovino acometido tornam-se imunogênicos em virtude do acúmulo do Cu. Sugere-se que essa imunogenicidade propicia o desenvolvimento de um auto anticorpo que tem como resultado final anemia hemolítica do tipo autoimune (RADOSTITS, 2002). Para Antonelli (2007) o cobre livre adentra o eritrócito se combinando com radicais sulfidrilas da membrana celular, gerando a formação de radicais livres; diminuindo a quantidade de glutationa, responsável pela manutenção da integridade da membrana. No decorrer de um dia após a entrada de Cu nos eritrócitos, inicia-se um intenso processo hemolítico.
Condições estressantes desencadeiam a liberação do metal armazenado para a corrente sanguínea e, como o Cu livre ou não ligado é potenciamente hemolítico, há inibição de enzimas via pentose fosfato e, assim, redução dos níveis de glutation reduzido, o que causa oxidação da hemoglobina e posteriormente anemia hemolítica pela formação de corpúsculos de Heinz. A hemólise é intravascular, ocorrendo metemoglobinúria com consequente insuficiência renal aguda, causando a morte do animal (REZLER, 2007).
Já na fase pós-hemolítica, os poucos animais não tratados, que sobrevivem as intensas injúrias desencadeadas na fase de hemólise, apresentam sinais de recuperação clínica, com duração de duas a três semanas (SOARES, 2004; ANTONELLI, 2007).
2.5 Sinais Clínicos
Durante a fase pré-hemolítica, o animal tem um desempenho normal, com exceção das últimas duas semanas, antes da crise hemolítica, quando o apetite seletivo se instala, com a recusa de concentrados (SOARES, 2004). Antes dos animais desenvolverem a crise hemolítica ocorre uma nítida diminuição na ingestão de alimentos, com anorexia evidente entre 48 a 36 horas antes da hemoglobinúria. Cerca de quatro dias antes da crise todos os animais passaram a eliminar fezes amolecidas, perdendo o aspecto de síbala, e presença de muco em um ou outro caso (SOARES, 2004).
Imediatamente antes e durante a crise hemolítica, os sinais clínicos mais reconhecidos são taquipnéia, fraqueza, polipdpsia, xifose, apatia, dor abdominal, febre, diarreia, urina vermelho-amarronzada, icterícia e isolamento do rebanho (REZLER, 2007; LEMOS et. al. 1997; RADOSTITS et al. 2002; ANTONELLI, 2007; RIET-CORREA et al, 2007; ). Sendo relatado, inclusive, por Soares (2004) decúbito esternal, oligodpsia ou adpsia, oligúria, diminuição dos movimentos do rúmen, chegando em muitos casos à atonia ruminal, aumentando a temperatura retal.
Sinais clínicos como taquicardia e taquipnéia são resultado da estimulação simpática durante a febre e ou compensatórias, em função do edema pulmonar ou choque hipovolêmico e toxêmico. A desidratação constatada na maioria dos animais é decorrente da diarreia, da síndrome febril, e possivelmente pelo quadro depressivo que se encontram deixando de procurar o bebedouro (LEMOS et. al., 1997).
2.6 Patologia Clínica
A concentração de Cu hepático é conclusiva no diagnóstico de intoxicação cúprica, principalmente nos casos fatais. Usualmente, os teores de Cu hepático variam de 60 a 300 mg/kg PV Ovinos intoxicados podem conter teores de Cu hepático de 1400 a 5000 mg/kg PV .; esta concentração pode ser usada como parâmetro para monitorar o acúmulo de Cu hepático em ovinos de rebanhos sujeitos a risco de intoxicação (ANTONELLI, 2007).
No exame clínico-patológico é possível encontrar anemia, hemoglobinemia, hiperbilirrubinemia, aumento da atividade das enzimas hepáticas e azotemia. A urinálise revela hemoglobinúria e isostenúria que, somada a azotemia, indica insuficiência renal aguda. (Navarre & Pugh, 2005). O hematócrito diminui acentuadamente de 40 para 10% em 48 horas durante um episódio hemolítico agudo. Pode estar presente metemoglobinemia e a urina deve ser verificada quanto a presença de hemoglobina (RADOSTITS, 2002).
Para Radostits (2002), a biópsia hepática é uma técnica adequada para o diagnóstico, sendo de grande valor na detecção de intoxicação acumulativa pelo Cu, uma vez que os níveis de Cu no sangue não se elevam até a ocorrência da crise hemolítica pouco antes da morte. Entretanto, segundo Rezler (2007) a determinação do teor de Cu nos rins é o exame de maior valor diagnóstico, uma vez que a concentração hepática pode estar normal em virtude da liberação do mineral para a corrente sanguínea. Uma concentração renal superior a 100 mg.kg-1 e hepática a 350 mg.kg-1 são indicadores para o diagnóstico, porém o diagnóstico definitivo requer a dosagem do nível sérico de Cu.
Os médicos veterinários têm procurado meios auxiliares para avaliação e diagnóstico que ofereçam informações cada vez mais precisas com o menor transtorno ao animal e seu proprietário. A Bioquímica sérica tem se apresentado como uma alternativa quando usada em conjunto com outros exames, ou mesmo isoladamente (SCHEFFER & GONZÁLEZ, 2003).
Segundo Mendez (2001) a enzima Aspartato aminotransferase (AST) pode estar elevada na intoxicação acumulativa por Cu em ovinos. Lemos et. al. (1997) observou apenas três animais com níveis elevados da enzima AST, durante o quadro clínico ou imediatamente antes do aparecimento dos sinais. Entretanto segundo Lemos et. al. (1997), tais elevações não se mostraram regulares ao ponto de se poder afirmar que podem ser usados como parâmetro para diagnóstico prévio da intoxicação.
A AST é uma enzima encontrada no citosol e na mitocôndria celular. É mais abundante no fígado, eritrócitos e nos músculos esquelético e cardíaco. O aumento dessa enzima é observado em hepatite infecciosa e tóxica, cirrose e obstrução biliar e fígado gorduroso, deficiência de selênio e vitamina E, exercício físico intenso e hemólise. Em ruminantes, é um bom indicador do funcionamento hepático. (REZLER, 2007).
Foram observados elevações dos níveis fisiológicos de GGT (gamaglutamiltransferase), aproximadamente entre duas semanas e três semanas antes do surgimento dos sinais e em todos os animais que apresentaram problemas, estes níveis mantiveram-se elevados durante praticamente todo quadro clínico. Estes resultados sugerem que GGT é um melhor parâmetro para a avaliação da lesão hepática e concluiu que a GGT manteve-se elevada durante o quadro clínico da intoxicação. (Lemos et. al., 1997). A GGT (Gama-glutamil transferase) está presente em todas as células com exceção do músculo, apresentando grande atividade nos rins e no fígado, mas somente aquela de origem hepática é normalmente encontrada no plasma, pois a de origem renal é excretada na urina (SCHEFFER & GONZÁLEZ, 2003).
2.7 Achados necroscópicos
É comum a morte em ovinos acometidos por intoxicação cúprica e não tratados, sendo a letalidade variável de 75 a 100% (RADOSTITS et. al. 2007).
Na maioria dos casos as mucosas, carcaça e principais serosas apresentam coloração amarelada. O sangue se apresenta enegrecido e aquoso. O fígado está aumentado de volume, friável e de coloração alaranjada, com a vesícula biliar dilatada e com conteúdo espesso e grumoso; os rins se encontram com sua cápsula e parênquima enegrecidos e edemaciados, característicos desta intoxicação; o baço apresenta-se aumentado de volume e friável e em alguns casos observa-se gastroenterite. (HOWELL E GAWTHORNE, 1987; RADOSTITS et. al., 2007; ROSA, 1982; RIET-CORREA et. al., 2007; RIBEIRO et. al., 2007).
Foram relatadas, inclusive alterações como presença de edema gelatinoso das partes baixas, fígado pálido com aspecto de noz-moscada em sua superfície ao corte, baço ligeiramente aumentado com polpa pastosa e escura (ROSA, 1982) e edema acentuado em todo o trajeto da traquéia, desde a epiglote até a abertura dos bronquíolos; a mucosa abomasal encontrava-se congesta com pequenas ulcerações. (MINERVINO et. al., 2007).
2.8 Achados histopatológicos
As lesões histológicas localizam-se, principalmente, no fígado e rim. No fígado os hepatócitos estão aumentados de tamanho, pleomórficos e com vacúolos de diversos tamanhos no seu citoplasma. O Cu pode ser identificado mediante a coloração pelo ácido rubeânico. Alguns núcleos apresentam-se na periferia dos hepatócitos e em outros a cromatina está marginalizada, podendo observa-se vacúolos intracelulares, sem conteúdo ou contendo material eosinofílico. Nos canalículos biliares observa-se retenção de bile. No rim os túbulos apresentam cilindros hialinos ou granulares avermelhados. As lesões renais são causadas pelo acúmulo de Cu nas células epiteliais, associado à hipercupremia, e à hemoglobinúria, que ocorrem durante a crise hemolítica (RIET-CORREA et al., 2007).
Em exames histopatológicos no fígado foram observadas degeneração dos hepatócitos alguns deles mostrando-se aumentados de tamanho com a presença de vacúolos no citoplasma, em alguns casos chegando a deslocar o núcleo para a periferia da célula; necrose hepática predominantemente na região periacinar, fibrolasia periportal com discreta proliferação dos ductos biliares, e pigmentos de coloração acastanhada no interior das células de Kupffer também foram verificados. Os rins evidenciaram congestão, degeneração e necrose do epitélio tubular e a presença de inúmeros cilindros granulares de coloração vermelho - escura no interior dos túbulos renais. A coloração pelo ácido rubeânico demonstrou a presença de grânulos positivos para Cu no interior das células de Kupffer (RIBEIRO et. al. 2007).
Headley et. al. (2008) observaram em uma ovelha lesões histológicas significantes que estavam restritas aos rins, fígado, baço, cérebro e pulmões. Lesões renais caracterizavam-se por necrose tubular multifocal, secreção hialina intratubular com discretas áreas de hemorragia. Havia discreta necrose hepática, necrose de hepatócitos, discreta a moderada degeneração gordurosa dos hepatócitos, discreta proliferação de células epiteliais nos ductos biliares, e acúmulo moderado de pigmento biliar nos canalículos biliares. Moderada hemossiderose multifocal foi vista no baço. Discreta aparência esponjosa multifocal foi observada na substância branca do cerebelo e do cérebro. Lesões pulmonares caracterizavam-se por proliferação de pneumócitos tipo 2 que resultou num inchaço moderado dos revestimentos alveolares, proliferação moderada de músculos lisos dos bronquíolos e hemossiderose moderada.
2.9 Diagnóstico
O diagnóstico da intoxicação cúprica é feito pelo histórico, sinais clínicos, patologia clínica, achados histopatológicos e achados necroscópicos. Na anamnese detecta-se o uso de rações, suplementos ou aplicação de medicamentos ricos em Cu. A presença de hemoglobinúria associada a mucosas ictéricas são sugestivas do quadro. Na patologia clínica destaca-se a determinação de taxas elevadas: cupremia, atividade de enzimas hepáticas, hiperbilirrubinemia, altas concentrações de ureia sérica e hemoglobina livre assim como baixo hematócrito. Altas concentrações de Cu hepático e renal são conclusivas. Os achados necroscópicos mais importantes são a icterícia generalizada, rins com cápsula e parênquima enegrecidos e fígado friável e de coloração alaranjada (HOWELL. GAHTHORNE, 1987; ORTOLANI, 1996; RADOSTITS et. al. 2007).
As determinações de Cu hepático nos animais com evolução fatal confirmam que este elemento foi o responsável pelo quadro clínico patológico. Os achados anatomopatológicos são importantes para o diagnóstico, mas não podem ser utilizados como critério único (LEMOS et. al., 1997).
2.10 Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser realizado com a leptospirose e a hemoglobinúria bacilar. Tanto no primeiro como no segundo caso, o quadro clinico é acompanhado de síndrome febril; na hemoglobinúria bacilar se encontra no fígado características áreas de infarto anêmico. Nas duas enfermidades podem ser isolado os agentes causais (ORTOLANI, 1996).
2.11 Tratamento
Até o início da década de 60 todas as tentativas de tratamento da intoxicação cúprica ficaram restritas ao uso de medicamentos pela via oral (ANTONELLI, 2007). Esta terapia baseava-se no prévio conhecimento que tanto o molibdênio como o enxofre atuavam no tubo gastroentérico diminuindo a disponibilidade de Cu para o ruminante, assim era recomendado para a intoxicação acumulativa por Cu, o tratamento diário com 100 mg de molibdato de amônio e 1g de sulfato de sódio anidro para reduzir, significativamente, o conteúdo de Cu dos tecidos (RADOSTITS, 2002).
Posteriormente, verificou-se que a droga L- penicilamine (Cuprime®) tinha um efeito quelante sobre o Cu livre e estocado, aumentando a excreção renal de Cu em até dez vezes; podendo ser utilizado no tratamento. Embora seu uso apresente incovenientes na terapia, entre estes citam – se as seguintes razões: é um medicamento caro; pouco disponível; que aumenta de maneira significativa a excreção urinária de zinco; pode causar dermatopatias, deficiência de piridoxina, e reações imunes que resultam em glomeronefrite. (GOONERATNE; CHRISTENSEN, 1997; SEYMOUR, 1987). Estes inconvenientes contraindicam ou dificultam o uso desse medicamento na terapia da intoxicação cúprica (ANTONELLI, 2007).
Pela primeira vez, segundo Antonelli, (2007), Gooneratne et. al. (1981) utilizaram com sucesso tetramolibdato de amônia, pela via intravenosa, no tratamento de intoxicação cúprica, em ovinos. Para Suttle (1991), o uso deste composto foi empregado desde a década de 70, para compreender os mecanismos da indisponibilidade do Cu, quando as dietas eram ricas em molibdênio e enxofre. Gooneratne et. al. (1981) verificaram que quando injetado, o tetramolibdato de amônia tinha grande capacidade em se ligar com o Cu presente na corrente circulatória e nos estoques.
Para Soares (2004), a terapia da intoxicação cúprica pode ser extremamente eficiente se for iniciada precocemente no decorrer do 1º ao 2º dia após o início da hemoglobinúria, e se for utilizado antídoto específico à base de tetratiomolibdato (TTM), na dose de 3,4 mg/kg PV. Esse antídoto tem grande capacidade de quelar o Cu livre, como o Cu presente nos estoques, bloqueando assim seus efeitos imediatos. O TTM também se liga ao Cu livre presente no complexo Cu- hemoglobina-lisossomo reduzindo ou praticamente inativando o efeito deste composto como agente nefrotóxico (SOARES, 2004). Soares (2004), após a detecção da hemoglobinúria em ovinos, iniciou o período de tratamento, com a injeção intravenosa de TTM na dose de 3,4 mg/kg do peso vivo, e observou que houve uma melhora gradual do quadro clínico, gerando já no 2º ou no 5º dia após o tratamento, significativa melhora na taxa de filtração glomerular, redução da glicosúria, melhora na densidade urinária e redução na atividade do N-acetyl-glucosamidase (NAG). O tratamento diminuiu de maneira significativa o grau de injúria e mau funcionamento dos rins, enquanto que a ausência de medicação levou a morte todos os ovinos. Foi observado pelo mesmo que o tratamento com o TTM diminuiu a concentração de radicais livres formados e aumentou a formação de glutationa reduzida eritrocitária.
Para Pugh (2004), o tratamento consiste em uma terapia suporte para insuficiência renal aguda e anemia e de tentativa em diminuir o conteúdo hepático de Cu. Trata-se de fluidoterapia para crise renal e também podendo ser feita uma transfusão de sangue, caso o volume globular diminuir drasticamente. Relata que a medicação de menor custo seria o tratamento com tetratiomolibdato de amônio (1,7 mg/kg, IV ou 3,4 mg/kg, SC, em 3 doses, em dias alternados).
2.12 Controle e prevenção
O controle desta intoxicação deve ser realizado, principalmente quando são utilizados ovinos de raças susceptíveis e em animais estabulados, que recebem concentrados por longos períodos. Nestes casos, recomenda-se que as concentrações de Cu dietético não ultrapassem 10 mg/kg PV; que a relação forragem/concentrado não diminua de 60:40 e que suplementos minerais não contenham mais que 800 mg/kg PV de Cu (ANTONELLI, 2007).
O contínuo controle das concentrações hepáticas de Cu, nos animais abatidos, é importante instrumento para a avaliação dos métodos de suplementação de Cu em ovinos e bovinos (BLOOD, 1983).
O fornecimento de antagonistas conjuntamente com a ração ou o suplemento mineral pode ser uma alternativa viável de prevenção desta enfermidade. Sabe-se que o molibdênio assim como o enxofre interfere na disponibilidade do Cu para ruminantes formando substâncias no rúmen dos animais (tiomolibdatos) tornando o Cu altamente indisponível para o organismo (ANTONELLI, 2007).
Ovinos alimentados com grãos e subprodutos não devem ser suplementados com Cu, pois apesar de que alguns grãos apresentam teores relativamente baixos de Cu, este está ligado à proteínas e, portanto, tem alta disponibilidade. Quando são usadas rações com níveis de Cu superiores a 10 mg/kg PV , é eficaz, na profilaxia da intoxicação, a adição de Mo em concentrações de até 7,7 mg/kg (RIET- CORREA, 2007).
Antonelli (2007) constatou que o uso metafilático de sal mineral com molibdênio promoveu numericamente uma redução de 40% na mortalidade em ovinos que receberam dietas muito ricas em Cu e que quanto maior a ingestão de molibdênio na dieta menor foi o acúmulo de Cu hepático e maior foi a excreção de Cu pelo o organismo.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intoxicação acumulativa por Cu é uma doença metabólica que tem ganhado notabilidade pelo crescimento e intensificação da produção da criação de ovinos, bem como pelas severas perdas econômicas que ela tem causado. O ovino é a espécie mais susceptível, por motivos intrínsecos ao seu metabolismo, e acontece principalmente quando ovinos e bovinos são submetidos ao mesmo manejo alimentar, com o fornecimento de minerais e rações formuladas para bovinos a ovinos, que normalmente possuem teores elevados de Cu para esta espécie.
A prevenção é sem dúvida a melhor maneira de reduzir os danos causados pela doença, tendo em vista o alto índice de mortalidade, então o fornecimento de ração com níveis aceitáveis de Cu para a espécie ou o uso de antagonitas (Mo, S, Fe) para diminuir sua absorção e a busca de raças mais resistentes a intoxicação são alternativas para a prevenção da Intoxicação Acumulativa por Cu.
Apesar de existir dano hepático e anemia a causa da morte em ovinos intoxicados por Cu é a grave insuficiência renal causada pelos efeitos nocivos provocados em decorrência da liberação do Cu na corrente sanguínea.
Uma anamnese bem feita, seguida da observação dos sinais clínicos e achados de necroscópicos são ferramentas fundamentais para o diagnóstico da doença, principalmente a campo quando não se dispõe de recursos laboratoriais para auxiliar no diagnóstico.
O tratamento com o TTM parece ser a forma mais eficiente de cura ainda que tratados precocemente ao surgimento da hemoglobinúria, mas não é achado facilmente no mercado, o que dificulta ainda mais a cura da moléstia.
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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Felipe Silva Sento Sé
Possui Graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF (2011). Atualmente faz Mestrado em Ciência Animal na mesma Instituição (2012). Fez diversos Cursos Práticos e Teóricos nas áreas de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos e Grandes Animais, além de Reprodução (Inseminação Artificial e Transferência de Embriões) e Nutrição Animal.
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