Gengivite e Periodontite em Animais Domésticos - Cães e Gatos

A causa primária da doença periodontal é a irritação bacteriana
A causa primária da doença periodontal é a irritação bacteriana

Veterinária

12/02/2013

Periodontia é o ramo da Odontologia Veterinária é a ciência que estuda as enfermidades das estruturas que suportam e dão funcionalidade e proteção aos elementos dentários, que por sua vez é composto pela gengiva, epitélio juncional, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar. É a principal área da odontologia veterinária, pois a falta de higienização e cuidados, 9 em cada 10 cães e gatos apresentam Doença Periodontal. É por tanto a maior causa de perdas dos dentes. Dentre todas as doenças que acometem os cães e gatos. A doença periodontal é a mais comum entre elas: estudos mostram que aproximadamente 85% dos cães e gatos, acima de 3 anos de idades sofrem com a doença. Embora a doença periodontal seja a enfermidade que mais acomete os animais domésticos no mundo, ainda assim, o conhecimento com relação á etiologia e patogênese é escassamente aplicado na Medicina veterinária: gengivite crônica e a doença periodontal inflamatória crônica permanecem universais e a perda de dentes ainda é vista, por muitos, de uma forma equivocada, como parte natural do processo de envelhecimento.

A doença periodontal é responsável pela inflamação da gengiva (gengivite) e pela destruição das estruturas de suporte e sustentação dental (periodontites), iniciando-se sempre com a violação da integridade do suco gengival, desencadeada pela formação da placa bacteriana, presente na cavidade oral dos animais. A placa bacteriana é resultado da organização de bactérias presente na cavidade oral, devido á falta de higienização, em uma boca saudável, se forma num período de 24 a 48 horas. O acumulo da placa bacteriana na superfície do dente, e principalmente na região próxima a gengiva, induz a resposta inflamatória no organismo (gengivite), e a sua progressão (periodontite) decorre do agravamento da infecção e do processo inflamatório. O problema pode se agravar quando a placa bacteriana sofre deposição de material mineral e forma o famoso “tártaro” (cálculo dental), que favorece a aderência de mais placa bacteriana. Quando a doença atinge o periodonto de sustentação (periodontite), pode haver lesões graves no osso ao redor do dente que são irreversíveis, podendo levar á perda do dente. A placa bacteriana presente, também é responsável pela halitose, pois libera gases sulfurosos, responsáveis pelo mau cheiro.

Além disso, essas bactérias presente na gengiva liberam outros produtos que irão para a corrente sanguínea, e pelo fenômeno conhecido como bacteremia, agredirá o organismo do paciente, podendo se alojar-se em órgão vitais como: rins, fígado, articulações. Meninges, pulmões e coração. Embora não haja cura para a doença periodontal, ela pode ser devidamente controlada. Isto porque, a boca dos animais, assim como as nossas, não são estéreis, pois há sempre bactérias que fazem parte da flora normal da cavidade oral e que não necessariamente trazem prejuízos á saúde.

O periodonto é a unidade anatômica cuja função é fixar os elementos dentários aos ossos da face, envolvendo-os, promovendo suporte e funcionalidade mediante forças oclusais composta por tecidos moles e tecidos duros. Periodonto é formado pelas seguintes estruturas: gengiva, epitélio juncional, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar. Agora vamos definir cada uma dessas estruturas para facilitar o entendimento da doença.

• Gengiva: tecido mole que protege as raízes dos dentes da cavidade oral. A margem livre da gengiva é uma borda que normalmente cobre a base da coroa de um dente. Um vale é criado entre a gengiva livre e o dente que será chamado de sulco gengival, ele deve possuir normalmente de 1 á 3mm de profundidade no cão e de 0,5 á 1mm no gato.
A gengiva de inserção é a porção firmemente aderida ao osso escondido, estendendo-se ate a junção mucogengival.

A gengiva deve apresentar corada de rosa ou pigmentada, firme, resistente e com crista laminar própria. A superfície da gengiva marginal é voltada para o dente. O epitélio crevicular é escamoso estratificado e paraqueratinizado. A crista e a superfície labial da gengiva são ortoqueratinizadas.

Anatomicamente a gengiva é divida em marginal, ou livre e gengiva aderida. Ela constitui a primeira linha de defesa contra a doença periodontal, protegendo o osso adjacente e os tecidos de suporte.

• Epitélio juncional: O complexo representa um aspecto anatômico peculiar relativo á união da gengiva ao dente e consiste na parte da gengiva voltada para o dente. Ele forma um colar em torno do dente, é geralmente mais largo no assoalho do sulco gengival e adelga-se á medida que progride apicalmente. A superfície livre do epitélio forma o assoalho do sulco. Ele é formado por células escamosas achatadas, dispostas paralelamente á superfície do dente e apoia-se numa membrana basal geralmente de conformação retilínea. O epitélio Juncional possuí um alto índice de renovação celular.

• Cemento:
É a cobertura dura da raiz do dente e se insere ao ligamento periodontal. É um tecido conjuntivo mineralizado avascular que cobre as raízes do dente. O conteúdo inorgânico é menor que no esmalte, dentina e osso, mais ainda assim é a terceira estrutura mais dura do organismo, ficando atrás do esmalte e dentina. A deposição de cemento é contínua durante toda a vida. Ele é mais espesso na direção do ápice dental e fino na junção cemento-esmalte.

• Osso Alveolar:
Consiste de um osso compacto e denso, a placa cribiforme, alinhados os sulcos dentários, com placas faciais e linguais. Ele envolve a raiz dental a partir da junção cemento-esmalte, formando a crista alveolar e é parte do osso da mandíbula e da maxila que sustenta o dente.

• Ligamento Periodontal: É uma rede de fibras que se insere ao cemento da raiz do dente ao osso alveolar. Ele age como um absorvente de impactos e choques para que o dente dentro do orifício ósseo quando o animal usa os dentes, e também os previne de serem arrancados do alvéolo. Composto por fibras de colágeno. A síntese do ligamento periodontal é feita pelos cementoblastos, fibroblastos e osteoblastos, ele esta em constante estado de reparo e remodelação em função dos fatores locais, funcionais e sistêmicos.

A causa primária da doença periodontal é a irritação bacteriana. Entretanto, pequenas quantidades de placa bacteriana são compatíveis com estado saudável da gengiva e periodonto e alguns pacientes podem resistir a quantidades maiores de placas em longo prazo, sem desenvolver periodontite destrutiva, apesar de apresentarem gengivite.

Os eventos considerados normalmente protetores tais como a resposta inflamatória secundária á contaminação bacteriana ou estimulação de linfócitos para a produção de imunoglubinas, podem ser nocivos devido sua super estimulação. Assim, neutrófilos que morrem após englobar bactérias podem romper-se espalhando metabólitos que estimulam a liberação de prostaglandinas, dando inicio aos efeitos destrutivos do tecido, como é o caso da estimulação osteoclástica. Os tecidos moles ou tornam-se hiperplásicos ou sofrem retração, produzindo exposição radicular e reabsorção do osso alveolar. A defesa contra a infeção do periodonto é feita por leucócitos polimorfonucleados que atravessam o epitélio juncional e migram para o sulco gengival, formando uma barreira protetora. Pacientes com defeitos ou números pequenos de PMNS, frequentemente desenvolvem doença periodontal severa.
A mucosa bucal é banhada pela saliva e exposta a passagem de alimentos, microbiota natural ou ferimentos diversos a que o animal esteja sujeito. Considerando a variedade de tais fatores, as variações anatômicas, temperatura, valores de pH, hábitos mastigatórios, a mucosa demonstra notável adaptabilidade e resistência. A superfície do dente, também exposta a tais fatores, pode ficar coberta completamente ou parcialmente por quantidade de depósitos, películas, placas, resíduos alimentares, cálculos e matérias alba e manchas.

A saliva rica em imunoglobulinas, e é considerada um antibiótico natural e tem participação vital na manutenção da integridade dos tecidos bucais, digestão alimentar e fonação. É composta por 99,5% de água e a 0,5% de substancias orgânicas e inorgânicas.

A causa primária da doença periodontal é o acumulo da placa bacteriana na superfície dental. A placa é um depósito granular, amorfo, contendo miríades de bactérias, debris, células esfoliadas, glicoproteínas e sais minerais. A placa é aderente a todas as superfícies dentais exposta na cavidade oral, assim como em língua, palato e mucosa. Grossas lâminas de placas podem não ser visíveis sem o uso de uma solução evidenciadora de placa, como a fluoresceína ou quando raspadas do dentes e detectadas no extrator de cálculo. Precedendo ao acúmulo de placa, há deposição de um filme acelular chamado de película aderida. A película é isenta de bactérias. A placa se forma como uma membrana de bactérias da microbiota oral aderida a essa película. A placa aumenta em massas e as bactérias se multiplicam com novo acúmulo de bactérias e de subprodutos bacterianos.

O processo de formação de placas em cães e gatos, é rápido, sendo necessário um período de 24 a 48 horas para se formar uma camada lisa, o biofilme, sobre toda a superfície do dente, se estabilizando e iniciando o processo de inflamação, exceto nas áreas que são higienizadas de forma natural, pela abrasão da dieta ou através da escovação pelo proprietário.

Matéria Alba é o depósito amolecido de coloração amarelada ou esbranquiçada, presente entre dentes e gengivas de indivíduos com pobre higiene bucal. É uma massa de microrganismos, células descamadas, resíduos alimentares, leucócitos e depósitos salivares. Esta estrutura é amorfa e diferentemente da placa bacteriana pode ser removida com facilidade e lavada com jato d´água.

O Cálculo dental, vulgarmente conhecido como tártaro ou crosta pétrea, que se forma nos dentes, é frequentemente associado á doença periodontal. O cálculo promove a gengivite devido á distorção mecânica da gengiva, interrupção do fluxo salivar e gengival normal e retenção de alimentos. Por ter uma superfície rugosa, permite o acúmulo de mais placa agravando o processo. Os principais organismo patogênicos encontrados na placa e no cálculo, subgengivalmente são Bacteroides e Fusobacterium sp, que são organismos aeróbios incomuns. O diagnóstico não deve se restringir-se unicamente ao exame visual direto. Embora a presença de placa bacteriana, cálculo, inflamação, retração gengival e mobilidade dos dentes possam ser evidenciadas com o animal consciente, a verdadeira extensão da doença apenas pode ser avaliada através de um exame periodontal e radiográfico completo com o animal sob anestesia geral, preferencialmente, inalatória. A placa, mesmo já organizada, nem sempre é visível á inspeção bucal; podemos, então, utilizar soluções evidenciadoras de placa. O cálculo é evidente, sendo uma massa dura na superfície dentária intra-sulcular ou extra-sulcular, de coloração amarelada, acastanhanha, ás vezes até esverdeada, que não é removido com raspagem de uma gaze ou escovação.

As radiografias, especialmente as odontológicas, tornam-se obrigatórias para se obter informações adicionais sobre as estruturas ósseas, dentárias e periodontais dos pacientes. Os resultados clínicos obtidos pelos exames clínicos e radiográficos são complementares e o diagnóstico exige a realização de ambos. Os sinais radiográficos da doença periodontal incluem arredondamento da margem alveolar, a descontinuidades da lâmina dura, o alargamento do espaço periodontal e o desaparecimento progressivo do osso alveolar. A lesão de furca ocorre com a perda da densidade óssea na região entre raízes de dentes multi-radiculares, caracterizada por lesão radiotransparente que varia entre grau I (leve), grau II (moderado), e grau III (avançado).

Os sinais radiográficos presentes na doença periodontal são: reabsorção da crista alveolar, perda de integridade da lâmina dura, alargamento do espaço periodontal, reabsorção óssea: horizontal, vertical e em área de furca.

• Gengivite: Gengivite é o primeiro estágio da doença, que pode ter como causa principal o acúmulo de placa bacteriana; outras diversas etiologias como irritação por agentes físicos e químicos podem existir. Geralmente é reversível quando tratada a tempo. Caso contrário pode progredir para Periodontite mais serias, e culminar com a perda de aderência dental, pela reabsorção das estruturas periodontais, que são as responsáveis pela proteção e suporte do dente.

• Periodontite:
É um problema muito comum em cães e gatos, apesar de haver poucos trabalhos sobre sua prevalência em gatos, podendo afetar a saúde e qualidade de vida destes animais. Existem dois tipos de Periodontite a inflamatória e a não inflamatória.

A manutenção da saúde periodontal requer boa higienização oral, alinhamento dental correto, aumentando a autolimpeza do dente e da gengiva por parte do fluxo gengival e salivar; saúde sistêmica e dieta apropriada, que forneçam os nutrientes necessários e abrasão para auto limpeza e exercícios do ligamento periodontal e da gengiva. Embora a doença periodontal não tenha cura ela pode ser devidamente controlada. Isto porque, a boca dos animais assim como as nossas não são estéreis, pois há sempre bactérias que fazem parte da nossa flora normal da cavidade oral e que não necessariamente trazem prejuízos á saúde do animal.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Cíntia Maria Rocha Silva

por Cíntia Maria Rocha Silva

Cíntia Maria , empresaria do ramo da saúde animal, proprietária da Clínica veterinária Zoodent-Univet na cidade de Itamonte-MG, onde se busca a excelência dos diagnósticos Utilizando das tecnologias hj emprega no mercado da medicina veterinária. Estando em andamento as obras do HVSJT para o ano de 2017 ser inaugurado com td de mais avançado na medicina veterinária.

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