Sequência dos testes e procedimentos diagnósticos oculares
Um animal cego irá piscar com o contato da mão nos pelos faciais
Veterinária
01/03/2013
A seguir são descritas sucintamente as formas mais apropriadas e a sequência de realização das manobras e testes.
1 - Teste lacrimal de Schirmer
Avalia a produção lacrimal em milímetros de umidade (fase aquosa do filme lacrimal). O teste pode ser comprado no comércio (fitas de Schirmer).
A tira é colocada no fórnix conjuntival ventral deixando-a durante um minuto e, posteriormente, observa-se o quanto a fita umedeceu. Durante o exame a cabeça do paciente é contida, mas não se deve manipular o olho.
Bovinos, ovinos, caprinos e equinos em geral produzem quantidades abundantes de lágrima ultrapassando 20 a 30mm de umidade em 60 segundos. Valores baixos são indicativos de déficit na produção lacrimal.
Valores de referência: entre 15 e 25 mm/min (cães) e 10 a 20 mm/min (gatos).
2 - Obtenção de amostras para citologia e cultura
A obtenção de amostras da córnea e da conjuntiva para citologia ou cultura deve ser realizada antes da instilação de colírios e corantes, pois podem alterar o resultado do exame.
A citologia é indicada em presença de nódulos ou massas, e pode ser feita mediante raspado, após anestesia tópica, com espátula de aço inoxidável (Kimura) ou aspiração com agulha fina.
Recomenda-se a cultura em infecções severas, crônicas ou não responsivas ao tratamento. Para tanto utiliza-se swabs umedecidos em solução salina 0,9%.
3 - Exame dos reflexos
Este exame tem como objetivo avaliar os reflexos que seguem:
- ameaça e o teste da “bolinha de algodão”;
- luminoso pupilar fotomotor direto e consensual;
- palpebral;
Completa-se o exame antes de se administrar sedativos ou tranquilizantes, anestésicos tópicos, midriáticos e bloqueios nervosos regionais, pois eles impedem ou interferem na interpretação dos reflexos.
Reflexo de ameaça e o teste da “bolinha de algodão”
O reflexo de ameaça avalia a acuidade visual (nervo óptico e córtex cerebral). Faz-se um movimento direto e súbito com a mão no campo visual do olho ipsilateral enquanto o olho contralateral está coberto. A resposta esperada é o piscar do olho, deve-se tomar cuidado para não deslocar corrente de ar que ativará o reflexo corneano.
O nervo óptico é a via aferente e o nervo facial é a via eferente desse reflexo, ou seja, estamos testando o nervo óptico e o nervo facial. Também é necessário que o músculo orbicular do olho esteja funcional.
Um animal cego irá piscar com o contato da mão nos pelos faciais. Pode ocorrer reflexo de ameaça falso negativo em um animal dócil com a visão normal. Esses animais devem ser avaliados deixando-se cair uma bola de algodão de cima do olho ipsilateral enquanto o contralateral estiver coberto.
O olho com visão normal irá acompanhar o trajeto da bolinha de algodão. Quando se suspeita de cegueira unilateral é necessário repetir o exame do labirinto com um olho coberto com uma venda temporária. Todos os procedimentos citados proporcionam uma avaliação grosseira da visão. A eletrorretinografia é um exame funcional sofisticado.
Reflexo pupilar fotomotor direto e consensual
O reflexo pupilar fotomotor direto (RPFMd) é obtido incidindo-se uma luz brilhante através da pupila, observando-se uma imediata miose daquele olho. Este processo requer:
- ativação dos fotorreceptores;
- nervo óptico ipsilateral como uma via aferente;
- via parassimpática no nervo oculomotor ipsilateral como uma via eferente e o músculo constritor da íris funcional.
O reflexo pupilar fotomotor consensual (RPFMc) é provocado observando-se a pupila contralateral enquanto se dirige um foco luminoso brilhante através da pupila ipsolateral. Este exame requer:
- ativação de fotorreceptores;
- nervo óptico ipsolateral como uma via aferente;
- via parassimpática contralateral, no nervo oculomotor ipsolateral, como uma via eferente;
- músculo constritor da íris contralateral funcional.
O RPFMc ocorre devido à decussação de algumas fibras do nervo óptico, no quiasma óptico e na região pré-tectal. Pode ocorrer em animais cegos que apresentem lesão central. Também ocorre quando a doença é retiniana ou do nervo óptico, em que permanecem poucos fotorreceptores e axônios do nervo óptico funcionais. Tanto o consensual como o direto necessitam de poucos fotorreceptores funcionais enquanto a visão necessita de um grande número de fotorreceptores funcionais.
Reflexo palpebral
Este reflexo é desencadeado quando ocorre um toque no canto temporal e nasal do olho. A resposta normal é uma piscadela, e a falha em piscar indica uma lesão na via nervosa ou no músculo encarregado desse reflexo.
Os ramos aferentes para esse reflexo incluem o ramo oftálmico do nervo trigêmeo, a partir do canto nasal, e o ramo maxilar do nervo trigêmeo no canto temporal. O nervo eferente é o ramo auriculopalpebral do nervo facial. Também é necessário que o músculo orbicular do olho esteja funcional.
4 – Tonometria
A tonometria é o exame para mensuração da pressão intraocular (PIO), que pode estar alterada em algumas doenças oculares. Para isto, anestesia-se a córnea com uma a duas gotas de anestésico tópico e posiciona-se o tonômetro na região central da córnea, enquanto paralisam-se as pálpebras. Para uma boa mensuração é necessário:
- boa contenção da cabeça do animal tomando o cuidado para não fazer pressão sobre as jugulares;
- posicionamento cuidadoso do tonômetro e do animal (posicionamento vertical ou horizontal da cabeça);
- anestesia da córnea e integridade da córnea.
O tonômetro de edentação (Shiötz) é indicado para a mensuração da pressão intraocular em pequenos animais, pois estes permitem o posicionamento vertical da cabeça. Para uma estimativa acurada das pressões intraocular calcula-se a média de três leituras em cada olho. A média destas leituras é convertida em milímetros de mercúrio (mmHg) em uma tabela que foi elaborada para cães e gatos e que normalmente vem anexada ao tonômetro.
A tonometria de aplanação (Tonopen®), estima a pressão pelo achatamento da córnea. A força desse achatamento é automaticamente convertida em mmHg. O tonômetro é posicionado perpendicularmente à superfície encurvada da córnea onde ocorre uma leve pressão. Faz-se esse movimento durante três vezes e o próprio tonômetro lhe dá a média da pressão com um erro de apenas 5%. O aparelho é caro.
5 - Midriáticos (oftalmoscopia)
A midríase é obtida com a administração tópica de um midriático na córnea. A tropicamida 5% é o midriático mais indicado por ter início rápido, curta duração e ausência da cicloplegia (paresia do músculo ciliar). Instila-se uma gota na córnea e repete-se após 10 minutos. Em 20 minutos as pupilas estarão dilatadas e ficam assim por cerca de 4 horas. A dilatação permite o exame das estruturas mais profundas do globo.
A sala para esse exame deve ser completamente escura. Um foco luminoso é direcionado para a córnea para avaliar a transparência e a curvatura. A câmara anterior e a íris são examinadas da mesma forma, porém o ângulo do feixe de luz é agudo e obtuso com o olho.
Para a avaliação da lente e da câmara posterior é necessário um oftalmoscópio direto, transiluminador ou oftalmoscópio indireto e lentes convergentes com dilatação pupilar (midríase). Quando é incidido um feixe de luz em direção ao olho midriático, em um ambiente escuro, é possível observar três reflexões: (córnea, cápsula anterior da lente e cápsula posterior da lente).
Essas três reflexões permitem ao examinador localizar a posição aproximada da lesão. Por exemplo, uma lesão na cápsula anterior da lente pode alterar a terceira imagem, já uma lesão na córnea altera a visão das duas estruturas subsequentes (cápsula anterior e posterior da lente).
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por Colunista Portal - Educação
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