Peritonite infecciosa felina: a temida PIF

A PIF ocorre em felinos domésticos e selvagens
A PIF ocorre em felinos domésticos e selvagens

Veterinária

07/02/2014

 

A peritonite infecciosa felina, mais conhecida pela sua sigla PIF, é causada por um coronavírus envelopado mutante do coronavírus entérico.


Ocorre em felinos domésticos e selvagens, porém 70-90% dos gatos não adoecem pelo contato com PIF e os demais manifestam sintomas, principalmente em jovens e idosos porque o sistema imune está debilitado.


Como o vírus é envelopado ele resiste 7 semanas no ambiente, em condições adequadas, porém são sensíveis aos desinfetantes comuns.


As raças Persas e Bengal são predispostas geneticamente, porque, segundo estudos, existem linhagens com debilidade celular natural que predispõem ao desenvolvimento da doença.


A transmissão pode ocorrer de forma transplancentária (dependendo do estágio da gestação causa abortamento ou os filhotes nascem e morrem em até três semanas de vida) ou contato direto e contínuo (com infectado e eliminando o vírus no ambiente).


A eliminação do vírus ocorre por fezes, saliva e urina, porém a principal são as fezes e a porta de entrada é pelo compartilhamento da caixa de areia, onde o vírus tem sua entrada no organismo através do trato gastrointestinal e respiratório.


Para eliminar o coronavírus nas fezes não precisa estar com diarreia e não precisa também apresentar sintomas, o animal pode ser um portador crônico assintomático.

 

Os fatores que predispõem o animal a adoecer são:
- desnutrição crônica – debilidade imune;
- superpopulação – maior chance de contato dos suscetíveis com infectados e situações de estresse que alteram a imunidade;
- portador crônico de alguma doença infecciosa – debilidade imune como consequência;
- tratamento imunossupressor – uso de esteroides em altas doses continuamente.

Dentre todos os fatores citados acima, o mais importante é o estresse causado não apenas pela superpopulação, bem como qualquer outra situação ao qual o animal está sendo mantido ou exposto, pode ocorrer em animais sozinhos como aqueles em contato com outros.


O gato entra em contato com coronavírus entérico, este infecta as células intestinais (enterócitos), caso ocorra uma mutação será reconhecido pelos macrófagos que irá fagocitá-los e ganhará a circulação enteral chegando aos linfonodos mesentéricos.


Nos linfonodos mesentéricos passam a infectar células mononucleares e ocorre a disseminação sistêmica do vírus, dependendo da imunidade celular ocorre o desenvolvimento da forma seca ou efusiva (clássica) e caso a resposta imune celular seja boa não desenvolve a doença.


Animais que desenvolvem imunidade celular parcial, desenvolvem a forma seca com progressão lenta da doença. Enquanto, animais que desenvolvem imunidade celular fraca desenvolvem a forma efusiva ou clássica com progressão curta da doença.
Um gato infectado ou doente produz grande quantidade de anticorpos que ligam as partículas virais produzindo imunocomplexos, estes imunocomplexos se depositam na parede de vasos sanguíneos causando vasculite.


A vasculite causa inflamação tendo saída de líquido do vaso, desenvolvendo ascite ou efusão pleural, a principal forma clínica da peritonite efusiva.


Dependendo da resposta imune, os anticorpos e as partículas virais causam lesões teciduais piogranulomatosas em vários órgãos como Sistema nervoso central, fígado, baço e rins; a lesão piogranulomatosa caracteriza a forma seca da doença, sendo muito difícil de diagnosticar pela semelhança com outras doenças.


Portanto, os sintomas variam conforme a ação do sistema imunológico, determinando direta ou indiretamente as lesões.


Na forma efusiva ou clássica, os principais sintomas clínicos são: prostração, com ou sem febre, apatia, anorexia (no início come normal), distensão abdominal (ascite), dificuldade respiratória (efusão pleural), perda de peso (consequência da perda proteica, massa gordurosa e massa muscular), icterícia (vírus da peritonite induz hepatite, sem alterações das enzimas) e linfoadenomegalia mesentérica (ponto de multiplicação viral).


Observação importante, o primeiro ponto de multiplicação viral são os enterócitos e o segundo ponto são os linfonodos mesentéricos.


Na forma seca, os sintomas clínicos mimetizam outras doenças como: febre, apatia, anorexia, uveíte, icterícia, perda de peso, linfoadenomegalia mesentérica, piogranulomas. Quando afeta o sistema nervoso central causa convulsão, alterações comportamentais, ataxia locomotora, incontinência urinária e ataxia cerebelar.
O diagnóstico é realizado pela somatória de informações, porque não existe um exame laboratorial definitivo, apenas com a necropsia com histopatológico temos um diagnóstico definitivo.


A análise da proteína total indicando hiperproteinemia (› 7,8 g/dl) é importante, porém representa cuidado, porque o aumento de anticorpos causa hiperproteinemia e no início da doença os anticorpos ainda não estão elevados e no final o sistema imune está exausto apresentando a diminuição da produção ou dentro da normalidade.


A análise da efusão é importante também, o exsudato asséptico (sem bactérias) é indicativo, porém caso tenha uma peritonite séptica ou contaminação após várias coletas podem alterar o exsudato. As características da efusão indicativas da doença são: coloração amarelo palha ou citrino, rico em fibrina, densidade (1017-1047), com proteína (5 – 8 g/dl) e pelo exame citológico encontra-se macrófagos e leucócitos (neutrófilos íntegros). A relação albumina/globulina ‹ 0,81 é sugestivo de PIF, enquanto › 0,81 exclui PIF, porém gatos com colangite e colangio-hepatite também podem apresentar a relação ‹ 0,81.


As provas sorológicas têm limitações e sua interpretação deve ser realizada com cautela, pois pode acontecer reação cruzada com outros coronavírus e pode ocorrer reação vacinal.


Um título positivo indica contato com coronavírus, porém não sabe qual ou se o animal vai ficar doente ou não.


Um título negativo indica que nunca teve contato com coronavírus, fase inicial da doença e os anticorpos estão baixos para serem identificados ou fase terminal da doença com exaustão do sistema imunológico, porém pode ocorrer do animal ter sido afastado do contato e com esta ausência faz com que os níveis caiam ou zerem.
A titulação é importante para detectar possíveis portadores, exposição ao coronavírus e monitorar tratamento.


O tratamento pode ser realizado com corticoide e imunossupressor, sempre tomando cuidado com efeitos colaterais que estas medicações podem desenvolver porque podem piorar o quadro.


A realização do interferon em baixa dose funciona como profilaxia para contactante sem sintomas para melhorar a imunidade desses animais, porém quando usado por muito tempo o organismo do animal pode desenvolver anticorpos reagindo contra o interferon.


A vacinação é discutível, segundo o fabricante aumenta a resposta celular e protege 60-85%, porém é recomendado apenas aos animais expostos ao risco do coronavírus. Como não temos ainda esta vacina no Brasil, esperamos os dados internacionais com seu uso e depois poderemos pensar se a usaremos ou não.


Portanto, o tratamento sempre depende do proprietário e toda decisão deve ser dele quando o animal apresenta sintomas extremos da doença.


Não existe cura, porém animais monossintomáticos (apenas com uvéite) tem prognóstico melhor. Animal com desenvolvimento da doença, a morte é iminente e ideal fazer prevenção dos contactantes.


A prevenção pode ser realizada com bom manejo nutricional, higiene, vacinação adequada com exame clínico antes do procedimento, cuidado com filhotes com idade de 4 – 6 semanas (quando anticorpos maternos estão caindo e o sistema imune fica mais sensível).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Andrea Valete Machado

por Andrea Valete Machado

Andrea Valete Machado Graduação em Medicina Veterinária e Ciências Biológicas, Pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos, Pós-graduada em Clínica e Cirúrgia de Pequenos Animais e Mestrado em Ensino de Ciências.

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