Retroviroses em felinos: FIV e FELV

Não há cura para retroviroses FIV e FELV
Não há cura para retroviroses FIV e FELV

Veterinária

27/03/2014

A FIV, conhecida como imunodeficiência viral felina ou AIDS felina, é causada por um lentivírus espécie-específica, assim possui semelhança quimicamente com HIV humano, porém não transmite do gato ao homem e vice-versa.

A FELV, conhecida como leucemia viral felina, é causada por um gamaretrovírus, com classificação anterior como oncornavírus.

A expectativa de vida para FIV é longa e para FELV é curta, neste caso os sintomas desenvolvidos são diferentes e não há cura para estas doenças, sendo mais importante a qualidade de vida do animal.

A transmissão principal é pela saliva em ambas as doenças, porém através da lambedura na FELV e da mordedura na FIV, portanto na FELV é um fato importante em animais sociáveis pelo contato direto enquanto na FIV o vírus precisa de uma solução de continuidade para entrar no organismo.

Outras formas de transmissão destas doenças são transfusão sanguínea, transmissão venérea ou sexual e vertical (intra-uterina), no leite a chance é menor.

Um fato importante sobre FIV é ser um vírus cosmopolita e diferente entre os países dependendo do modo de criação dos gatos.

A FELV (leucemia) tem o primeiro contato com os linfonodos regionais, principalmente mandibulares, replicando neste local e as células linfoides disseminam vírus para restante do organismo causando viremia e replicando em todas as regiões que possuam tecido linfoide. A infecção atinge as criptas intestinais e hemolinfática e neste momento o animal que conseguir montar uma resposta imunológica consegue ativar o vírus (+- 70%) ou fazem infecção latente na medula (30%) ou viremia persistente.

O vírus da leucemia gosta de células em alta atividade mitótica, portanto fica na medula e pode estar negativo no teste sorológico por causa da latência, porém não significa que não esteja causando nada.

Na latência o vírus está infectando os precursores medulares e pode comprometer estas linhagens celulares. O desafio é diagnosticar, porque nos testes sorológicos não detecta e precisa coletar material medular para exames específicos a fim de detectar sua fase de latência.

Caso ocorra a viremia persistente o desenvolvimento da doença dissemina a infecção e multiplica nas células epiteliais glandulares e mucosas como saliva, urina e lágrima.

O gato com viremia persistente é facilmente detectado pelos testes sorológicos, porém caso o teste seja realizado na fase inicial não significa que vai se tornar virêmico, porque pode se livrar da doença sendo ideal retestar em 30 dias para verificar e caso persista provavelmente manifestará a doença.

A fêmea com viremia persistente apresenta morte embrionária, natimortalidade e definhamento neonatal. Outros sintomas são doença proliferativa tumoral, anemia aplásica, trombocitopenia, etc e quadros imunomediados como uveíte e artrite.

As doenças associadas são:

- atrofia do timo – fêmeas gestantes e infectadas podem transmitir transplacentariamente para filhotes, como escolhe células com alta atividade mitótica escolhe células tímicas, destruindo o timo nas primeiras semanas de vida causando a morte do filhote porque afeta o órgão mais importante destes filhotes por interferir na imunocompetência possibilitando instalação de infecções oportunistas.

- anemia regenerativa – além das doenças da imunossupressão, o gato pode desenvolver anemias como regenerativa, porque a infecção dos precursores eritróides da medula faz com que as células saiam com alteração morfológica e o organismo reconhece como estranha provocando uma anemia hemolítica autoimune.

- micoplasmose – outra consequência é o Mycoplasma, parasitas extenos de hemácias que afeta gatos imunologicamente comprometidos desenvolvendo uma anemia infecciosa.

- anemia aplásica – a anemia pode ser não regenerativa quando ocorre a destruição dos precursores eritróides na medula tendo anemia aplásica, portanto sempre que atender um animal com anemia aplásica coletar material para verificar latência da leucemia.

Outras doenças como: glomerulonefrites (deposição de imunocomplexos tendo insuficiência renal com o tempo), poliartrites (deposição de imunocomplexos articular) e infertilidade ou abortamento em fêmeas.
O vírus da leucemia pode ser indutor de linfomas e doenças mieloproliferativas. Uma das principais formas de linfoma induzido pela leucemia é o tímico ou mediastínico.

Tanto o vírus da FELV como da FIV podem induzir linfoma e imunossupressão.

Na FIV a patogenia é parcialmente conhecida, maioria extrapolação de pacientes humanos. Nas primeiras 4-5 semanas pós- infecção não apresenta manifestações clínicas ou sintomas subjetivos.

A viremia da FIV é marcante nas primeiras 4 semanas pós-infecção e depois declina com aparecimento dos anticorpos dificultando o diagnóstico das partículas virais circulantes, portanto as provas sorológicas pesquisam anticorpos neutralizantes na circulação. Na leucemia (FELV) os testes pesquisam partículas virais na circulação.

Após a viremia o vírus da FIV entra em latência, sendo o estágio mais longo da doença (5 anos ou mais), neste momento são assintomáticos apresentando uma depleção gradual de CD4.

Quando o gato começa a apresentar sintomas dura meses a anos com inflamação gengival crônica, linfoadenomegalia generalizada, dentre outros. Após apresenta o complexo relacionado a AIDS, com manifestações relacionadas com imunossupressão como: perda de peso acentuada, diarreia crônica, neoplasias, doenças neurológicas (destruição dos astrócitos).

No estágio final da infecção apresenta a síndrome da imunodeficiência adquirida com desenvolvimento de doenças tratáveis que não respondem ao tratamento e os gatos acabam morrendo de infecções oportunistas ou eutanasiados.

O animal com FIV apresenta síndromes associadas como uveíte, rinotraqueíte crônica, complexo gengivite-estomatite e linfoma renal bilateral.

O diagnóstico das retroviroses os testes mais usados são Elisa, IFI (imunofluorescência), PCR e WB. O teste Elisa é usado para triagem, confiável e mais sensível que específico. A IFI é para leucemia, usado 4-8 semanas para confirmar. O PCR tem ressalvas, pois o teste é limitado pela sensibilidade e especifidade analítica. O WB é para AIDS felina.

O FIV detecta anticorpos, filhotes acima de 6 meses é melhor porque antes tem imunidade passiva, ideal confirmar com WB e PCR não é indicado. O falso negativo em infecções recente e paciente terminal.

Os resultados da leucemia negativos são confiáveis, porém positivos quando doentes é fácil e animais saudáveis com falso positivo ideal testes confirmatórios com isolamento do vírus e PCR, portanto Positivos no Elisa e saudáveis devem ser acompanhados porque pode indicar exposição ao vírus, mas não infectado.

Em ambas as doenças retroviroses não há cura, importante qualidade de vida e suporte. Importante aconselhamento do proprietário sobre formas de infecção e transmissão, isolamento possui riscos e benefícios (separar cada positivo e espaço físico), não existe potencial zoonótico, a expectativa de vida depende da doença.

As possibilidades de tratamento inclui o uso contínuo com drogas antivirais (AZT – não podemos prescrever; PMEA – toxicidade, SURAMIN – duvidoso); imunomoduladores (Interferon – melhor ou modular a resposta imunológica), controle e manejo (evitar saídas a rua e castração – testar novos animais, remoção dos positivos da colônia, higiene e desinfecção, alimentação balanceada, controle populacional); tratar doenças oportunistas ou associadas e fator estimulante de colônia granulocítica (GCSF).

As doenças oportunistas:

- FELV + e Anemia aplásica – destruição dos precursores medulares, fazer transfusão, eritropoetina humana e imunomoduladores.

- FELV + e Mycoplasma – anemia com esplenomegalia, fazer transfusão em caso de condições clínicas para responder ao tratamento, doxiciclina (eleição), enrofloxacina (cuidado dose maior que recomendada) e imizol (diproprionato de imidocarb)

- FELV + e Linfoma ou FIV + e Linfoma – quimioterapia.

- FIV + e Doenças periodontal grave – desconforto para comer, uso de antibiótico minimiza sintomas, prednisona, extração dentária radical (depende do caso).

A vacinação contra FELV é a quíntupla e a FIV ainda não tem no Brasil, selecionando gatos a serem vacinados conforme exposição ao risco, aqueles que saem a rua, vivem em colônias ou com contato constante com outros gatos/animais porque vacina pode causar sarcoma no local de aplicação. A FIV interfere no teste sorológico porque ele pesquisa anticorpos, enquanto FELV não interfere em nada porque teste pesquisa antígeno.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Andrea Valete Machado

por Andrea Valete Machado

Andrea Valete Machado Graduação em Medicina Veterinária e Ciências Biológicas, Pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos, Pós-graduada em Clínica e Cirúrgia de Pequenos Animais e Mestrado em Ensino de Ciências.

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