Transmissão vertical em bovinos e cães tem sido documentada (Fonte: Embrapa Gado de Corte)
Veterinária
16/04/2014
1. INTRODUÇÃO
Neospora caninum é protozoário intracelular obrigatório formador de cisto, acomete animais silvestres e domésticos, sendo os de maior relevância: caninos e bovinos. No início de sua descoberta foi confundida com a toxoplasmose, pelo fato de ter as fases evolutivas parecidas. O parasita causa a neosporose, doença distribuída mundialmente e em todo o território brasileiro.
O Neospora caninum, apresenta como características morfológicas:
* TAQUIZOÍTOS: Dependendo do estágio em que se encontram medem de 3-7 x 1-5 μm, formas ovoides, lunares ou globulares;
*BRADIZOÍTOS NOS CISTOS TECIDUAIS: Cistos teciduais frequentemente apresentam parede lisa de espessura aproximada de 4 μm; formas ovais ou circulares, com até 107 μm, e os bradizoítos encistados aderidos medem de 6-8 x 1-1, 8 μm.
*OOCISTOS NÃO ESPORULADOS: Medem 11,7 x 11,3 μm (CARDOSO, 2010).
4. EPIDEMIOLOGIA
Segundo Dubey (1996) citado por Parra et al. (2008), em 1988 houve o primeiro relato do Neospora caninum, na Noruega sendo descrito como doença neuromuscular em cães, com presença de cistos no tecido muscular e cérebro.
No Brasil a primeira aparição ocorreu em 1997, em um rebanho leiteiro no Estado de São Paulo, já em cães a soroprevalência é observada principalmente nas áreas rurais, sendo observadas em menor quantidade no meio urbano e/ou domiciliar. Ambos os relatos, no Noruega e no Brasil foram diagnosticados através do exame sorológico, o teste de imunofluorescência indireta (IFI) (CALIL, 2006).
Estudos referentes à epidemiologia no Brasil relatam que há vários casos relatados em vacas, porém um índice baixo de casos de cães infectados pelo Neospora caninum (CALVACANTE, 2010).
5. HOSPEDEIROS
O Neospora caninum tem como características a capacidade de infectar várias espécies. Apresentando como:
O Neospora caninum, parasita primeiramente o trato digestivo e a placenta materna-membranas fetais atingindo as células alvo através da via linfática e sanguínea, utilizando as proteínas celulares como receptoras.
Enfim pouco se sabe dos locais de parasitismo nos órgãos ou a respeito das estruturas acometidas pelo N.caninum após a ingestão dos cistos teciduais (CALIL, 2006). 7. PATOGENIA
A patogenia irá depender do equilíbrio entre a capacidade dos taquizoítos ingeridos que penetram e se multiplicam nas células e a capacidade do hospedeiro em impedir essa proliferação.
O Neospora caninum, pode produzir lesões necróticas visíveis causando doença neuromuscular severa, levando a destruição de um número elevado de células neuronais. Há também lesões associadas ao cérebro e coração de fetos, sendo essas suficientes para provocarem o aborto.
Em Bovinos o principal sintoma clínico observado é o aborto em adultos ocorrendo no 2/3 da gestação.
As cadelas infectadas podem transmitir o Neospora caninum a seus fetos via transplacentária, e sucessivamente as outras ninhadas, já em cães adultos, sua apresentação é mais variada, além do quadro neuromuscular, pode ocorrer dermatite piogranulomatosa, miocardite fatal insuficiência congestiva cardíaca, pneumonia, etc. (CALIL, 2006).
Caso o animal apresente uma resposta imune favorável o estágio de desenvolvimento do protozoário é mantido na fase crônica da infecção na qual é assintomática a doença. Contudo, se no período gestacional apresentar baixa imunidade essa infecção pode ser reativada desenvolvendo a forma aguda (MACHADO 2010).
8. CICLO DO PARASITA
O Neospora caninum apresenta transmissão de forma horizontal (a infecção ocorre por ingestão de água ou alimentos contaminados por oocistos esporulados expostos no meio ambiente por meio das fezes dos hospedeiros definitivos) ou vertical (quando a mãe infectada transmite a doença para seus descendentes via transplacentária). O ciclo sexuado ocorre apenas no hospedeiro definitivo, já no hospedeiro intermediário ocorrem os estágios assexuados: os taquizoítos e bradizoítos.
O ciclo é heteroxeno, ocorrendo da seguinte forma:
Oocistos não esporulados de N. caninum são excretados no ambiente pelas fezes dos hospedeiros definitivos infectados, através das condições ambientais favoráveis esses oocistos se tornaram esporulados, sendo ingeridos pelo hospedeiro intermediário, atingem a luz intestinal, sendo liberados nas células da parede do intestino, passando a se chamar de taquizoítos, que se dividem rapidamente por endodiogenia e podem atingir quaisquer células do organismo do hospedeiro, como: hepatócitos, células epiteliais renais, macrófagos, fibroblastos, miócitos e células nervosas causando severas lesões. Com a resposta imune do hospedeiro, os taquizoítos diferenciam-se em bradizoítos, forma de multiplicação lenta contidas em cistos teciduais e uma queda da imunidade do hospedeiro poderia provocar reativação dos bradizoítos e rompimento do cisto. Quando ocorrer a ingestão destes cistos pelo hospedeiro definitivo os bradizoítos iniciarão o processo de penetração no epitélio intestinal dando origem às formas resultantes da multiplicação assexuada e sexuada do parasito. Em seguida, ocorre a liberação de oocistos não esporulados no ambiente, reiniciando o ciclo (CARDOSO, 2010).
Os bovinos são infectados na maioria pela transmissão vertical, sendo esta forma responsável por até 95% das infecções no rebanho. Os caninos por sua vez podem ser infectados naturalmente pela ingestão de cistos, pela ingestão de placentas infectadas de bovinos e músculos infectados ou ainda ser infectado através da transmissão vertical (BERTOCCO, 2008).
9. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA, SANITÁRIA, ZOONÓTICA
Neospora caninum tem uma grande importância econômica principalmente nos rebanhos bovinos, uma vez que, causa perdas de fetos, problemas reprodutivos, abate prematuro das fêmeas adultas, perdas na produção leiteira, gastos com profissionais especializados, etc.
Os caninos são de suma importância zoonótica, uma vez que eles são responsáveis na eliminação dos oocistos infectantes que se encontra disseminada mundialmente, o contato com os restos placentários é bastante comum com os cães que convivem no meio rural sendo um indicativo de maior índice de proliferação do parasita (CARDOSO, 2010).
10. CONTROLE
As medidas de prevenção e controle para neosporose muitas vezes podem tornar-se inviáveis economicamente ou pouco práticas. Ainda não há tratamento efetivo contra a neosporose.
Onde ainda não há casos é bom prevenir a “chegada do parasita”, uma vez que evita prejuízos futuros ao rebanho, principalmente a produção leiteira.
O uso de receptoras soronegativas na transferência de embrião; uso de maternidades individuais; redução da exposição de cães a fetos abortados e placentas; reduzir o número de cães coabitando com o rebanho; e realizar a sorologia do rebanho.
CONCLUSÃO
O protozoário Neospora caninum, acomete todo o mundo, por isso é importante conhecer as suas formas infectantes e utilizar métodos eficazes no seu controle, uma vez que irá auxiliar o produtor rural e/ou criador a ter um maior controle e lucratividade.
REFERÊNCIAS:
BERTOCCO, BRUNA DO PRADO; et al.Infecção por Neospora caninum em cães e Outros carnívoros. Revista Científica Eletônica De Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353, São Paulo, Ano VI, n.10, p. 1-6, Janeiro de 2008- Periódicos Semestral.
CALIL, RENATA SHIMADA. Epidemiologia Da Neosporose Canina e Suas Implicações Na Clínica Médica De Pequenos Animais. Monografia (título de Especialista em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos animais) - Universidade Castelo Branco – São Paulo, 2006.
CALVACANTE, GUACYARA TENÓRIO. Infecção experimental por Neospora caninum em cães (canis familiaris) jovens, adultos e em cadelas gestantes. Tese (doutorado) - Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo 2010.CARDOSO, JOSÉ MÁRICO SBRUZZI. Aspectos epidemiológicos da infecção por Neospora caninum em bovinos leiteiros da região do Vale do Paraíba Paulista. Tese (doutorado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
GUIMARÃES, MARCELO SALES. Ciclo Silvestre de Neospora caninum e Sua Importância Na Epidemiologia Para Os Animais Domésticos. Seminário - Escola De Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal De Goiás, Goiânia, 2011.
MACHADO, GUSTAVO PUGLIA. Neosporose ovina, disponível em http://www.iagro.ms.gov.br/index.php?templat=vis&site=107&id_comp=2228&id_reg=5313&voltar=home&site_reg=107&id_comp_orig=2228 Acesso em: 02 set. 2010.
PARRA, BRUNO CÉSAR; et al. Neosporose uma doença que acomete abortos em bovinos. Revista Científica Eletônica De Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353, São Paulo, Ano VI, n.10, p. 1-6, Janeiro de 2008- Periódicos Semestral.
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por Keicy Sandy Silvestre de Souza
Acadêmica do 10° período do Curso de Graduação em Medicina Veterinária - FACULDADES INTEGRADAS DO NORTE DE MINAS - FUNORTE
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93