Fatores de impacto e qualidade do leite

O leite é um alimento nutritivo
O leite é um alimento nutritivo

Veterinária

24/04/2014

O leite é considerado um dos alimentos mais perfeitos da natureza, apresentando uma composição rica em proteínas, vitaminas, gordura, carboidratos e sais minerais, essenciais aos seres humanos (BRITO et al., 2005). É uma combinação de diversos elementos sólidos em água, cuja composição está sujeita a interferência de inúmeros fatores. Na atividade leiteira, a nutrição é o principal fator da eficiência do sistema de produção, pois é a maior responsável pelo nível de produção e pode representar até 70% dos custos. Portanto, pode-se afirmar que quanto mais eficiente for à nutrição de um rebanho, mais eficiente será o sistema de produção deste rebanho (CONEGLIAN, 2010).


A matéria-prima leite se origina na glândula mamária durante a lactação, a partir de elementos que passam do sangue para as células especializadas da glândula (BRITO et al., 2005). O produto é uma alternativa de fonte proteica acessível à população de baixa renda, que geralmente é carente em proteína de origem animal, comprovando a importância socioeconômica deste alimento (BORTOLI et al., 2005).


A produção de leite no Brasil ocorre, muitas vezes, em pequenas propriedades rurais com baixo nível tecnológico, o que faz com que a qualidade do leite brasileiro seja bastante variada e mais baixa que em países desenvolvidos (CZARNOBAY, 2010). A busca pelo aprimoramento da qualidade do leite, e sua manutenção, deve ser um objetivo constante do produtor, uma vez que gera um incremento em sua produção, bem como a valorização de seu produto no mercado (BRASIL, 2014).


A qualidade do leite é definida por parâmetros de composição química, características físico-químicas e higiene. A presença e os teores de proteína, gordura, lactose, sais minerais e vitaminas determinam a qualidade da composição, que, por sua vez, é influenciada pela alimentação, manejo, genética e raça do animal. Fatores ligados a cada animal, como o período de lactação, a sanidade ou situações de estresse também são importantes quanto à qualidade composicional (BRITO e BRITO, 2014).


Pode-se dizer que, leite de qualidade é aquele que apresenta sabor agradável, ausência de resíduos indesejáveis, valor nutritivo e boa composição, rendimento industrial, baixa contagem de células somáticas e de carga microbiana. O leite de qualidade é favorável ao produtor, à indústria e também ao consumidor.


Dentre os parâmetros de qualidade, a elevada carga microbiana do leite ainda é um obstáculo fundamental para a evolução da cadeia produtiva em função dos seus impactos no rendimento industrial e no comprometimento da qualidade da matéria-prima e dos derivados da mesma. As condições inadequadas de higiene durante a ordenha, procedimentos de higienização insatisfatórios e resfriamento deficiente do leite, são causas recorrentes da contaminação microbiológica do leite (PEREIRA, 2011).


Higiene é um dos pontos chaves da cadeia produtiva de leite, visando à qualidade do produto final e de possíveis derivados do mesmo, visto que, tal ponto pode interferir na sanidade do animal e na qualidade do seu produto, tornando o ambiente favorável à aparição e multiplicação de microrganismos, assim como infecções na glândula mamária.

A mastite é uma inflamação da glândula mamária, que pode ser causada por microrganismos e suas toxinas, traumas físicos e agentes químicos irritantes, mas, na maioria dos casos, é resultante da invasão de microrganismos patogênicos através do canal da teta. Esta pode ser clínica, quando se tem alterações visíveis no leite, associada ou não a alterações no úbere, ou pode ser uma infecção subclínica, não apresentando alterações visíveis (BRITO et al., 2014). A Contagem de Células Somáticas (CCS) é uma medida indireta dessa inflamação da glândula mamária. Assim, alguns fatores relacionados ao animal também atuam de forma importante e podem explicar por que um produtor pode ser capaz de controlar a contagem total de bactérias (CTB) e não a CCS (BOZO et al., 2013). Patógenos como S. agalactiae, S. aureus e Streptococcus spp. podem ser causadores da mastite, sendo as maiores contagens de células somáticas atribuídas ao S. agalactiae (SOUZA et al., 2009).


Outro fator que pode afetar diretamente a qualidade do leite é a qualidade da água utilizada durante o processo de ordenha. Está é utilizada para a higienização de equipamentos, mãos do ordenhador e instalações, além de também ser ingerida pelos animais. A água em condições ideais deixa de ser fonte de contaminação e evita outros efeitos danosos aos produtos ou mesmo às pessoas (PARDI et al., 2001).


As tendências atuais da comercialização do leite demandam a obtenção de certos produtos lácteos, que em geral são influenciados pela composição do leite, a qual está diretamente correlacionada com a nutrição dos animais (CONEGLIAN, 2010). A constituição do produto final da ordenha é um reflexo direto da alimentação ingerida pelo animal, isso pode ser confirmado pelo fato de diferentes regiões administrarem uma dieta diferenciada aos animais promovendo variação na composição do leite quando comparados.


A dieta do animal pode influenciar em altas e baixas de um determinado componente, visto que, para se aumentar uma produção e/ou adequar teores dos componentes centesimais, são administrados aos animais diferentes fontes de nutrientes para que se obtenha o resultado desejado. Cada componente tem o seu papel a desenvolver, como por exemplo, a lactose que é importante para a manutenção do equilíbrio osmótico (SIMILI et al., 2007). A nutrição animal é um importante fator para que se obtenha êxito na atividade leiteira, devido ao fato desta influenciar em grande parte das atividades desenvolvidas na área.


A gordura é o componente de maior variabilidade do leite, podendo variar de 2% a 4%. Essa porcentagem é fortemente influenciada pela genética, fatores nutricionais e fatores ambientais. As variáveis de maior importância econômica, servindo de critério para o pagamento do leite em muitos países são: gordura, proteína, fósforo e extrato seco desengordurado, sendo a suplementação uma das formas de se obter bons índices destes parâmetros (CONEGLIAN, 2010).


Durante a ordenha, a manipulação e o transporte até a indústria, o leite está sujeito às mais variadas fontes de contaminações (ar, solo, poeira, fragmentos de ração, esterco, insetos, mãos do ordenhador, baldes, latões, filtros e outros utensílios usados na ordenha e transporte), devendo, logo após a obtenção, ser coado para eliminar esses contaminantes e, em seguida, ser refrigerado imediatamente (SILVA, 2008). O armazenamento e resfriamento do leite também é um ponto que se deve considerar quando se se trata de fatores de qualidade e de impacto sobre o mesmo. O armazenamento do leite cru nas propriedades por períodos maiores que 24 horas, acumulando maior volume, contribui para perda de sua qualidade (HARTMANN, 2005).


A falta de refrigeração logo após a ordenha favorece o crescimento de microrganismos indesejáveis, responsáveis pela deterioração do leite in natura. O resfriamento logo após a ordenha inibe o crescimento bacteriano até o momento do processamento do leite pela indústria (SILVA, 2008). Mas, o resfriamento nas propriedades e a granelização da coleta não são suficientes para a produção de leite de boa qualidade microbiológica, sendo muitas vezes necessário o desenvolvimento de programas de assistência aos produtores leiteiros (NERO et al., 2005).


Visando a qualidade do processo e do produto, boas práticas agropecuárias (BPA), um conjunto de atividades desenvolvidas dentro da fazenda leiteira com objetivo de garantir a saúde, o bem estar e a segurança dos animais, do homem e do ambiente, devem ser empregadas. Tais práticas estão associadas ao processamento de derivados lácteos seguros e de qualidade, à sustentabilidade ambiental e à possibilidade de agregação de valor, além de ser uma exigência dos consumidores e da legislação. As BPAs são também a base para a implantação de outros programas de garantia de segurança dos alimentos, como a Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) (PENNA JÚNIOR et al., 2014).


Se tratando de controle de qualidade, o leite e os derivados lácteos estão entre os alimentos mais testados e avaliados, principalmente devido à importância que representam na alimentação humana e à sua natureza perecível. Os testes empregados para avaliar a qualidade do leite fluido constituem normas regulamentares em todos os países, havendo pequena variação entre os parâmetros avaliados e/ou tipos de testes empregados. De modo geral, são avaliadas características físico-químicas e sensoriais e são definidos parâmetros de contagem de bactérias, ausência de microrganismos, contagem de células somáticas, ausência de conservantes químicos e de resíduos indesejáveis (BRITO e BRITO, 2014).
Referências Bibliográficas

BOZO, G. A. et al. Adequação da contagem de células somáticas e da contagem bacteriana total em leite cru refrigerado aos parâmetros da legislação. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.2, p.589-594, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v65n2/40.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


BORTOLI, A. et al. Caracterização dos produtores de leite conveniados a escola federal de São Vicente do Sul-RS. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2005. Goiânia: SBZ, 2005. CDROM.
BRASIL, J. G. Q. Qualidade do Leite. Qualidade do Leite – Dr. João Gabriel Quaggio Brasil, 2014. Disponível em: <http://www.qualidadedoleite.com.br/>. Acesso em: 18 abr. 2014.


BRITO, J. R. F. et al. CONTROLE DA MASTITE – OU COMO REDUZIR A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS DO REBANHO BOVINO LEITEIRO. Embrapa Gado de Leite, 2014. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/laboratorios/qualidade_leite/arquivos/controlarmastite.doc>. Acesso em: 18 abr. 2014.


BRITO, M. A. V. P.; BRITO, J. R. F. Qualidade do Leite. 2014. Disponível em: <http://fernandomadalena.com/site_arquivos/903.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


BRITO, M. A. V. P. et al. Resíduos de antibióticos no leite. Comunicado técnico – Embrapa Gado de Leite. Juiz de Fora: EMBRAPA Gado de Leite. 2005. Disponível em: <http://people.ufpr.br/~freitasjaf/artigos/antibioticoleite.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


CONEGLIAN, S. M. Influência da nutrição na qualidade do leite. Revista Nutrition Tomorrow, 2010. Disponível em: <http://gadoleiteiro.iepec.com/noticia/influencia-da-nutricao-na-qualidade-do-leite>. Acesso em: 18 abr. 2014.


CZARNOBAY, M. Estudo da qualidade do leite produzido na granja do IRRS campus Bento Gonçalves. 2010. 78f. Trabalho de Conclusão de Curso – Curso Superior de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Campus Bento Gonçalves, Bento Gonçalves, 2010. Disponível em: <http://bento.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/2012429101512203marcela.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


HARTMANN, W. Curso de Pós-Graduação em Inspeção de Produtos de Origem Animal – Módulo Inspeção Industrial e Sanitária do Leite. Sociedade Paranaense de Medicina Veterinária/Equalis. 2005. 135 p.


NERO, L. A. et al. Leite cru de quatro regiões leiteiras brasileiras: perspectivas de atendimento dos requisitos microbiológicos estabelecidos pela Instrução Normativa 51. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 25 n. 1, p. 191 – 195, 2005.


PARDI, M. et al. Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne. Goiânia: Ed. UFG, v.2, 2001. 1110p.


PENNA JÚNIOR, C. O. et al. Fatores que afetam a composição e a qualidade do leite. Programa de pós graduação em Ciências Veterinárias – Universidade Federal do Espírito Santo – Centro de Ciências Agrárias.. Disponível em: < http://br.monografias.com/trabalhos3/fatores-afetam-composicao-do-leite/fatores-afetam-composicao-do-leite2.shtml>. Acesso em: 18 abr. 2014.


PEREIRA, D. A. Fatores impactantes na qualidade do leite de tanques comunitários na microrregião de Juiz de Fora - MG. Dissertação - Programa de Pós Graduação, Mestrado Profissionalizante em Ciência e Tecnologia de Leite e Derivados - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011. Disponível em: <http://www.ufjf.br/mestradoleite/files/2013/01/Disserta%C3%A7%C3%A3o-final8.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


SILVA, M. A. P. da. INFLUÊNCIA DOS TIPOS DE ORDENHA, TRANSPORTE E TEMPO DE ARMAZENAMENTO NA QUALIDADE DO LEITE CRU REFRIGERADO DA REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS . Tese - Doutorado em Ciência Animal - Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2008. Disponível em: <http://ppgca.evz.ufg.br/uploads/67/original_Tese2008_Marco_Antonio_Silva.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.


SIMILI, F. F. et al. Como os alimentos podem afetar a composição do leite das vacas. Pesquisa & Tecnologia, v.4, n.1, 2007. Disponível em: <http://www.aptaregional.sp.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=514&Itemid=284>. Acesso em: 18 abr. 2014.


SOUZA, G. N. et al. Variação da contagem de células somáticas em vacas leiteiras de acordo com patógenos da mastite. Arquivos Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61, n.5, p.1015-1020, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v61n5/a01v61n5.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2014.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Iury Antônio de Souza

por Iury Antônio de Souza

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo IF Sudeste MG campus Rio Pomba, Especialista em Vigilância Sanitária e Qualidade dos Alimentos pela AVM Faculdade Integrada, Acadêmico de Nutrição pela Universidade Presidente Antônio Carlos e Biomédico graduado pela Universidade Presidente Antônio Carlos.

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