Educação humanitária na promoção do bem estar de animais de companhia

É fundamental garantir integridade física aos animais
É fundamental garantir integridade física aos animais

Veterinária

25/04/2014

A relação do ser humano com animais de companhia, como o cão e o gato, acompanhou mudanças comportamentais da própria sociedade, o que conferiu a estes animais o ‘status’ de membro da família, passando a viver mais no interior das residências do que fora (SANTANA e OLIVEIRA, 2006). Embora esta convivência seja cada vez mais comum, a guarda de um animal implica em responsabilidades dos proprietários conforme os dispositivos legais vigentes, compromisso ético com a sua comunidade de promoção e preservação da saúde, preservação do meio ambiente e também promoção da saúde e do bem-estar animal (VIEIRA et al., 2009).


Bem-estar animal (BEA) deve relacionar-se com conceitos de necessidades, liberdades, felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde (BROOM e MOLENTO, 2004). Para avaliar o BEA deve-se considerar o estado físico, pela satisfação de necessidades de saúde, crescimento, fisiologia e comportamento; o estado comportamental, pela concepção de que deveriam viver vidas naturais, desenvolverem-se da maneira para a qual estão adaptados; o estado mental, pela necessidade de atingirem seus interesses, como estarem livres de sentir medo e dor, e poderem ter experiências prazerosas ou satisfação mental (FRASER, 1997).


Para promover o bem-estar de cães e gatos, alguns aspectos devem fazer parte da rotina de cuidados dos proprietários. Permitir contato social como forma de atender suas emoções básicas, além de jogos, brincadeiras, exercícios e passeios que ativem a exploração de diferentes ambientes, como forma de exercitar a mente. A privação do contato social e a manutenção em ambientes pouco complexos podem desencadear alterações no comportamento destes animais.


Alimentação inadequada às espécies, ou em quantidade insuficiente, podem causar deficiências nutricionais, perda de peso, doenças e até a morte. A presença de lesões e doenças, associada à ausência de tratamento clínico e diagnóstico laboratorial, podem reduzir e comprometer o grau de bem-estar destes animais (BROOM e FRASER, 2010).


É fundamental garantir integridade física aos animais, evitar dor, lesões, doenças e sofrimento, e para isso, o proprietário deve providenciar assistência médico veterinária aos mesmos, controlar reprodução e evitar que as fêmeas procriem initerruptamente e sem repouso entre as gestações, garantir higiene ambiental e individual, disponibilizar abrigos seguros, administração de imunógenos e outros medicamentos para prevenção de doenças e de riscos de agravos, como mordeduras, arranhaduras, acidentes domésticos ou de trânsito (VIEIRA et al., 2009).


Estudos recentes realizados no Estado do Rio de Janeiro destacaram a deficiência no grau de informação de proprietários de cães e gatos em relação ao bem-estar (ALMEIDA et al., 2013a) e à guarda responsável (ALMEIDA et al., 2013b) destes animais, como o fornecimento de água filtrada para prevenir infecções por microrganismos e doenças; a provisão de brinquedos e espaço para a realização de exercícios e brincadeiras, e de água e comida para garantir que estejam livres de fome e sede; obrigatoriedade da vacinação contra raiva e do recolhimento dos dejetos de seus animais das vias públicas.

A carência de informações sobre a forma correta de lidar com os animais, assim como a negligência de muitos proprietários, têm resultado casos cada vez mais frequentes de maus tratos e abandono de animais de companhia.
Agressões físicas, animais mantidos presos em espaços pequenos e sujos, alimentação inadequada para a espécie e insuficiente, entre tantos outros casos, constituem crimes previstos no Decreto-Lei nº 24.645 /1934 (BRASIL, 1934) e no Artigo 32 da Lei N° 9.605 /1998 (BRASIL, 1998), para todo o território nacional. Os motivos para a prática destes crimes podem envolver aspectos culturais, sociais e psicológicos, agravados pela educação deficiente de grande parte da população e pela omissão, que acarreta impunidade (DELABARY, 2012).


Diante da triste realidade de abusos e maus tratos contra animais, a realização de um trabalho de educação humanitária, amplo e contínuo nas comunidades e escolas, voltado para a valorização do respeito e da compaixão para com os animais, pessoas e meio ambiente, pode ser uma importante ferramenta. Educadores devem estimular a curiosidade, a criatividade, o criticismo, a reverência, o respeito e a responsabilidade dos alunos (WSPA; UNIVERSITY OF BRISTOL, 2000). No entanto, despertar o interesse de crianças e jovens em sala de aula tem sido um desafio para os educadores, o que pode estar relacionado com dificuldades de aprendizagem, concentração, atenção e raciocínio. A utilização de recursos lúdicos como estratégia pedagógica, pode modificar esse cenário.


Atividades lúdicas são motivadoras, divertidas e podem proporcionar aos mais tímidos, a oportunidade de expressar suas opiniões e sentimentos. Criar uma atmosfera mais relaxada, pelo uso de jogos e atividades que potencializam a interação, criatividade e entretenimento, pode facilitar o aprendizado dos estudantes (FRANCHI e GIMENEZ, 2007). Por meio de uma aula lúdica, o aluno é estimulado a desenvolver sua criatividade e não a produtividade. Sendo sujeito do processo pedagógico, no aluno é despertado o desejo do saber, a vontade de participar e a alegria da conquista (PINTO e TAVARES, 2010).


Profissões que lidam com animais, como a Medicina Veterinária e a Zootecnia, têm passado por uma transformação voltada para a valorização do BEA, com a ampliação do conhecimento e atuação nesta área (MOLENTO, 2008). É fundamental que os alunos destes cursos desenvolvam os conceitos em BEA, como o das Cinco Liberdades (FAWC, 1992) e suas principais aplicações durante a graduação, o que contribuirá na capacitação para uma melhor atuação no mercado de trabalho, com a identificação, o questionamento e a correção de situações que diminuam e afetem o bem-estar dos animais.


Pela extensão universitária, alunos podem colocar em prática o que aprenderam em sala de aula, concretizar a teoria e beneficiar a sociedade por meio de ações planejadas (RODRIGUES et al., 2013), com a prestação de serviços à comunidade universitária e de seu entorno, por meio de atendimentos, cursos, seminários e laboratórios (RIBEIRO, 2011).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J.F.; BARRETO, M.L.; ABREU, D.L.C.; PEREIRA, V.L.A.; NASCIMENTO, E.R. Grau de informação de proprietários de cães e gatos sobre bem-estar animal. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.9, n.16, p.1215-1221, 2013a.

ALMEIDA, J.F.; CAMPOS, L.S.; PEREIRA, V.L.A.; BARRETO, M.L.; NASCIMENTO, E.R. Grau de informação de proprietários de cães e gatos sobre guarda responsável. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.9, n.16, p.1222-1229, 2013b.

BRASIL. Decreto N° 24.645 de 10 de julho de 1934. Diário Oficial da União, suplemento 162, 1934.

BRASIL. Lei Federal N° 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998. Capítulo V, Seção I, Artigo 32. Publicado no Diário Oficial da União de 13 de fevereiro de 1998.

BROOM, D.M.; FRASER, A.F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos, 4ed, Barueri, SP: Manole, 2010, 438p.

BROOM, D.M.; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas – Revisão. Archives of Veterinary Science, v.9, n.2, p.1-11, 2004.

CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES DE SÃO PAULO – CCZ SP, SOCIEDADE MUNDIAL DE PROTEÇÃO ANIMAL – WSPA. Vídeo Criando um Amigo. 2004. DVD.

DELABARY, B.F. Aspectos que influenciam os maus tratos contra animais no meio urbano. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental – REGET, UFMS, v.5, n.5, p.835-840, ISSN 2236-1170, 2012.

FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL – FAWC. Farm Animal Welfare Council updates the Five Freedoms. Veterinary Record, v.17, p.357, 1992.

FRANCHI, V.C.Z.; GIMENEZ, K.M. Atividades lúdicas como ferramenta pedagógica na construção de um aprendizado significativo. 2007. Disponível em: < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/658-4.pdf>. Acesso em 10 de novembro de 2013.

FRASER, D., WEARY, D. M., PAJOR, E. A., MILLIGAN, B.N. A scientific conception of animal welfare that reflects ethical concerns. Animal Welfare, v.6, n.3, p.187-205, 1997.

MOLENTO, C.F.M. Ensino de bem-estar animal nos cursos de medicina veterinária e zootecnia. Ciência Veterinária nos Trópicos, v.11, n.1, p.6-12, 2008.

PINTO, C.L.; TAVARES, H.M. O lúdico na aprendizagem: apreender e aprender. Revista da Católica, Uberlândia, v.2, n.3, p. 226-235, 2010.

RIBEIRO, R.M.C. A extensão universitária como indicativo de responsabilidade social. Revista Dialogos: pesquisa em extensão universitária, Brasília, v.15, n.1, p.81-88, jul, 2011.

RODRIGUES, A.L.L.; PRATA, M.S.; BATALHA, T.B.S.; COSTA, C.L.N.A.; PASSOS NETO, I.F. Contribuições da extensão universitária na sociedade. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, Aracaju, v.1, n.16, p.141-148, mar. 2013.

SANTANA, L.R.; OLIVEIRA, T.P. Guarda Responsável e dignidade dos animais. Revista Brasileira de Direito Animal, v.1, n.1, p.67-104, 2006.

VIEIRA, A.M.L. et al. Programa de controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo. Boletim Epidemiológico Paulista – BEPA, Suplemento 07, v.6, ISSN 1806-4272, 2009.

SOCIEDADE MUNDIAL DE PROTEÇÃO ANIMAL – WSPA, UNIVERSITY OF BRISTOL. Educação humanitária e educação sobre bem-estar animal. Conceitos em Bem-Estar Animal: um currículo de bem-estar animal. 2000 CD rom.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Juliana Ferreira de Almeida

por Juliana Ferreira de Almeida

Médica Veterinária pela Universidade Federal Fluminense - UFF, com mestrado em Ciências Veterinárias - UFF e doutorado em Medicina Veterinária - UFF. Experiência em Medicina Veterinária Preventiva e Bem-Estar Animal. Professor Adjunto do Departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Veterinária da UFF.

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