Escrituração Zootécnica: O que é e para que serve?

Escrituração Zootécnica: O que é e para que serve?
Escrituração Zootécnica: O que é e para que serve?

Veterinária

03/12/2014

A quem diga que o ditado antigo “O olho do dono é quem engorda o boi” está correto! É verdade que quando o proprietário rural se faz presente e conhecedor da realidade de sua fazenda e de sua atividade, realmente ele se empenha em buscar sempre uma alternativa para aumentar a produtividade e o lucro. Agora, e quando se precisa mensurar e guardar os dados para se tomar a decisão de uma estratégia ou um negócio o que fazer? Você poderia dizer, basta anotar! A resposta é parecida com isso, mas anotar o que?


É para isso que existe, o que os profissionais do campo chamam de Escrituração Zootécnica. Este termo composto de duas palavras importantíssimas para quem trabalha com pecuária. Escrituração vem de Escriturar, ou seja, anotar, fazer com o que aquele dado ou coisa importante passe a estar no papel para que depois, por exemplo, sirva para se relembrar de algo. As Escrituras de propriedades são documentos, que descrevem o imóvel, o que ele tem, qual metragem e quem é o legítimo dono, por exemplo. Zootécnica, refere-se a Zootecnia, que é a ciência que estuda a produção animal nos seus mais complexos sistemas envolvidos, como a reprodução, a nutrição, a saúde, a bioclimática, a administração rural e a gestão do agronegócio pecuário. Logo Escrituração Zootécnica seria a anotação dos dados relativos a produção animal, para que ele possam ser lembrados e mesmo ajudar a prever uma estratégia que faça a produção animal ir mais além e se tornar eficiente.


Mas o que anotar dentro da minha propriedade que vá me fazer diferença?

Bem, tudo começa com qual tipo de cultura animal você trabalha em sua propriedade. Cada cultura animal possui índices que são responsáveis pela mensuração de situações que vão influenciar positiva ou negativamente, e são reflexos do tipo de manejo, alimentação ou questões sanitárias. A Escrituração Zootécnica é como se fosse um mapa das atividades que estão sendo realizadas na propriedade, onde cada índice vai proporcionar um feed-back para você e dizer se o que você está fazendo está te conduzindo no caminho correto ou não.


Exemplo: Você tem 50 vacas de leite em sua propriedade, e está ansioso por ver estas 50 vacas produzirem outras 50 no período mais curto possível. Ai, um belo dia, você liga a televisão no Globo Rural ou no Canal Rural e vê que se você tiver um índice de prenhez ou taxa de prenhez, acima de 85% é um índice bom e que a propriedade consegue duplicar rápido seu rebanho. Beleza, vamos implementar rapidamente nosso rebanho correto?, porque com 85% de prenhez eu vou ter 42 vacas prenhes, ou seja, gestando, e desta forma no mínimo 21 bezerras vai nascer porque a chance é de 50%, então no próximo ano já vou poder contar com 71 fêmeas, maravilhoso, correto?


Bem não é bem assim! Digamos que você se maravilhou com o entusiasmo do índice, que é um índice zootécnico, mas não observou outros índices, ou mesmo não anotou, em nenhum momento anterior, outros dados importantes, e agora? O que garante que vai dar tudo certo e você vai ter suas 71 vacas?

Digamos que você possui 2 touros, que são seus reprodutores, com mais ou menos 6 a 8 anos de idade e suas vacas já estão beirando a mesma idade. Você pode falar para mim: Vaca é vaca, é tudo igual!. Engana-se quem pensa desta forma! Cada animal é diferente, assim como nós, com o passar da idade, nossa eficiência vai diminuindo. Para se ter uma taxa de prenhez alta, vários fatores têm que contribuir:

1. As vacas de 2 a 5 cria são animais mais adequados para se expressar melhor qualidade nas taxas de prenhez e produtividade, desde que estejam com saúde sexual e corporal adequadas;

2. Os touros de 2 a 6 anos possuem melhor fertilidade e libido, desde que estejam com saúde sexual e corporal adequadas;

3. A alimentação deve ser um fator preponderante para determinar esta capacidade reprodutiva e produtiva, pois senão estiver ok, ou não gesta ou não cria!;

4. Os animais não podem possuir nenhum vício ou algo que impeça a performance deles na reprodução;

5. Você tem que respeitar as necessidades de descanso de produção e reprodução animal;


Pois bem, o nosso amigo quer chegar a 85% de prenhez com suas vacas de 6 a 8 anos, com 2 touros de 6 a 8 anos. Entretanto, ele não fez, nunca jamais, um exame andrológico nos touros, e muito menos um ginecológico nas vacas. Não respeitou, o período de descanso dos touros, não dá uma alimentação adequada, não faz nenhuma vistoria sanitária em sua propriedade, e nem muito menos observa os bezerros quando nascem. Situação difícil para se conseguir 85% de prenhez, concorda?


Vamos pegar de exemplo um dos touros, tomando por base que os dois são idênticos, assim como vamos admitir que 30 vacas deste rebanho represente as 50 e que sejam idênticas, apenas para facilitar as contas e fechar um outro índice zootécnico que se chama Relação Touro: Vaca de 1:30. Até aqui tudo bem!


O nosso amigo touro, que nunca foi vistoriado por um veterinário, quanto ao exame andrológico, na cabeça de nosso amigo produtor, ele é o “Cara”, tudo que passa na frente ele cobre! Pois é cobre, mas será que fertiliza? Digamos que este touro no período de 21 dias de serviço só confirmou 12 vacas prenhes, e agora? Nosso amigo touro teve uma taxa de concepção de apenas 40%, e nossas amigas vacas tiveram um resultado ruim, pois Taxa de prenhez = Taxa de concepção efetiva X Taxa de serviço, a taxa de concepção é justamente referente a concepção confirmada. A taxa de serviço é o percentual de vacas que efetivamente foram inseminadas em relação as que estavam aptas ao serviço. Se ele tinha 30 vacas aptas e apenas 12, ocorrendo que nosso amigo touro só cobriu 12 mesmo e nenhuma outra mais, foram realmente inseminadas, logo a taxa de serviço é 40%. Então, 40% X 40% = 16%, essa é a taxa de prenhez dele, ou melhor, das vacas dele!


Resultado: alguma coisa está errado ou com os touros ou com as vacas, correto? Na verdade algo está errado com o manejo geral desta propriedade como um todo!
Podemos dizer que algo está errado com a fertilidade do touro? Possivelmente! Se nosso amigo tivesse notado e anotado estas informações a mais tempo, além de realizar os exames andrológicos e mesmo observado a libido e performance, ele teria notado isto e teria trocado o touro. Podemos dizer que há algo errado com as vacas? Possivelmente! Se nosso amigo tivesse notado as características do cio, e verificado, através de anotações e observações se estas vacas estavam ciclando corretamente, ele poderia ter descartado as menos eficientes, comprado outras e reposto seu plantel com outros animais mais produtivos. Podemos dizer que existem fatores ligados a alimentação e mesmo a sanidade dos animais que estão contribuindo negativamente para este quadro? Possivelmente! Aliás, podemos inferir muita coisa, menos que nosso amigo terá 85% de prenhez em sua propriedade se continuar com estes animais e com este manejo.


O simples observar e o conhecer dos Índices Zootécnicos, anotados ao longo do tempo, através da Escrituração Zootécnica, podem fazer uma diferença enorme na tomada de decisão de um manejo em uma propriedade. Apenas um exemplo simples, ok? Se nosso amigo tivesse observado o cio presente em apenas 12 vacas, em vez de 30, e nosso amigo touro cobrisse estas 12 vacas (lembrando que neste caso, nosso amigo touro é o “Cara”) e efetivamente estas 12 tivessem ficado inseminadas e prenhez, nossa taxa de prenhez seria igual a 100%. Claro que este é apenas um exemplo, onde descartamos uma realidade em que não tenha nada com o touro e que eliminamos as vacas “problemas”, coisa que não deva ser considerado, mas apenas para ilustrar uma situação positiva. Mesmo assim 60% das vacas restantes não estavam no cio neste momento das outras, problemão, correto?


Bem, este exemplo serve para ilustrar o que um acompanhamento e conhecimento da Escrituração Zootécnica pode fazer em uma propriedade. Possivelmente se ele tivesse utilizado, outro índice, chamado Taxa de Descarte, num período total de 6 anos, a uma taxa de 16,66%, ele estaria com seu plantel todo renovado, eliminando as vacas mais antigas da propriedade, de preferência, as menos eficientes. Mesma coisa para os touros!



Conclusão

A escrituração Zootécnica, que contem os Índices Zootécnicos, é uma importante ferramenta para verificar possíveis check points na propriedade, e auxiliar na tomada de decisão para uma melhor eficiência para que desejamos na mesma.


A falta de escrituração faz com que animais ineficientes contribuam com a diminuição dos índices bons e, por conseguinte, eficiência almejada pelo produtor. Neste caso a presença de um Zootecnista e um Veterinário é essencial para a boa condução dos trabalhos, bem como a atualização do produtor quanto à importância de se mensurar estes pontos.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Luizângele Figueiredo de Oliveira Menezes

por Luizângele Figueiredo de Oliveira Menezes

Zootecnista, graduado pela União Pioneira de Integração Social - UPIS (2004), mestre em Ciências Agrárias, na área de Produção Animal, pela Universidade de Brasília - UnB (2006). Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Produção e Nutrição de Ruminantes, Administração Rural e Consultoria Agropecuária.

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