Atresia anal em gata - Relato de caso

Atresia anal em gata, SRD, com 8 semanas de idade
Atresia anal em gata, SRD, com 8 semanas de idade

Veterinária

06/02/2015

INTRODUÇÃO

As anomalias congênitas ano-retais são raras em cães e gatos, sendo a atresia anal a mais frequente (HOSKINS e DIMSKI, 1997). Os animais com esta anomalia geralmente são levados ao veterinário com duas a seis semanas de idade, por ausência de defecação, por defeito óbvio na anatomia de estruturas perineais ou por eliminação de urina ou fezes através de orifício impróprio (PRASSINOS et al., 2003).


A atresia anal é uma deformidade que acomete a abertura anal e a porção terminal do reto, resultando em fechamento da saída anal e/ou em via anormal das fezes por meio da vagina ou da uretra. Existem quatro tipos de atresia anal, sendo o tipo I quando ocorre a persistência de uma membrana sobre a abertura anal e o reto termina como uma bolsa cega precisamente cranial ao ânus fechado (anus imperfurado); o tipo II, o ânus está fechado, como no tipo I, resultante da persistência da membrana anal, mas a bolsa retal está localizada cranial à membrana sobreposta ao ânus, ou seja, o esfíncter anal está usualmente intacto e funcional; o tipo III o reto termina como uma bolsa cega cranialmente dentro do canal pélvico e o reto e o ânus terminais estão normais; no tipo IV, que ocorre em fêmeas, há uma comunicação persistente entre o reto e a vagina (fístula retrovaginal) ou entre o reto e a uretra (fístula retouretral). O tratamento cirúrgico é o de escolha, podendo ocorrer complicações pós-operatórias, como atonia de cólon secundário a distensão prolongada (VIANNA e TOBIAS, 2005).


DESCRIÇÃO DO CASO

Um felino, fêmea, sem raça definida, com 2 meses de idade, foi atendido no Hospital veterinário da Universidade Federal Rural da Amazônia, com histórico de ausência de defecação, aumento de volume em região perineal há uma semana, micção normal e se alimentando normalmente com leite materno. A mãe do paciente em questão era primípara e tinha 3 anos de idade no momento da gestação, e já havia feito uso de anticoncepcionais por 3 vezes. Os demais filhotes (4) gerados na mesma gestação morreram dias após o parto.


Durante o exame clínico observou-se edema palpebral e secreção ocular purulenta bilateralmente. Apresentou fezes endurecidas em ampola retal, com protuberância em região perineal, porém com ausência de orifício anal, animal magro, abdômen distendido com dor à palpação. O diagnóstico de atresia anal neste caso, basicamente, foi realizado clinicamente, podendo-se ainda classificar em atresia do tipo II. Suspeitou-se ainda que o animal apresentasse quadro característico de rinotraqueíte.


Foi realizado um exame radiográfico de abdômen e pelve que descartou a possibilidade de fecaloma, e detectou a presença de gases em alças intestinais e fezes em colón descendente e reto de aspecto radiográfico normal.


No dia seguinte, a cirurgia foi realizada com sucesso não sendo necessário suturar a mucosa, pois a bolsa retal estava parcialmente aderida a membrana anal. O tratamento pós-operatório foi amoxicilina na dose de 15 mg/kg/VO/BID/7 dias; Vitamina C gotas 1 gota/kg/VO/SID/7 dias; suplemento alimentar; e suplementação de cálcio.


Paciente se recuperou bem após a cirurgia, conseguindo defecar normalmente, não ocorreu perda funcional do esfíncter anal, e a cicatrização fez-se por segunda intenção sem maiores intercorrências.

DISCUSSÃO

O paciente foi apresentado para consulta com 8 semanas de idade, discordando com a faixa etária relatada por Prassinos et al. (2003).


Segundo Vianna e Tobias (2005), a atresia anal do tipo II apresenta como principais sinais clínicos o tenesmo, intumescimento do períneo, ausência de defecação, ausência de abertura visível do ânus, distensão abdominal e desconforto abdominal ou perineal, sinais esses que foram todos observados no caso relatado.


Os primeiros sintomas clínicos são aparentes nos primeiros dias de vida do animal, quando o defeito congênito proporciona uma retenção de fezes e o abdômen se torna distendido, o animal perde vitalidade e geralmente param de mamar (VIANNA e TOBIAS, 2005). Entretanto, o paciente deste trabalho continuou mamando normalmente mesmo apresentando o problema.


O diagnóstico de atresia anal é basicamente clínico, pela visualização da ausência da abertura anal (VIANNA e TOBIAS, 2005), como foi realizado no paciente em questão.


CONCLUSÕES

A atresia anal em felinos é mais rara do que em cães. O tipo II desta anomalia tem o prognóstico positivo, devendo-se realizar o diagnóstico, mesmo que clínico, e o tratamento cirúrgico assim que o animal se apresenta para consulta. Mesmo o paciente tendo se apresentado tardiamente, obteve-se sucesso no tratamento cirúrgico.




REFERÊNCIAS

HOSKINS, J.D.; DIMSKI, D.S. O Sistema Digestivo. In: HOSKINS, J.D. Pediatria Veterinária: Cães e gatos do nascimento aos seis meses.2.ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1997. Cap. 10, p.120-171.


PRASSINOS, N.N.; GALATOS, A. D.; P.; GOULETSOU, P.; PAPAZOGLOU, L.G.; ADAMAMA-MORAITOU, K.K.; RALLIS, T.S. Congenital anorectal abnormalities in six dogs. The Veterinary Record, v.153, n.3, p.81-85, 2003.


VIANNA, M.L.; TOBIAS; K.M. Atresia Ani in the Dog: A Retrospective Study. Journal of the American Animal Hospital Association. V. 41, p.317-322, 2005.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Breenda Baker Tavares

por Breenda Baker Tavares

Graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia (2011). Especialização em residência em Cirurgia de animais de companhia pela Universidade Federal Rural da Amazônia (2013). Residência em Clínica Cirúrgica de animais de companhia pela Universidade Federal Rural da Amazônia (2015). Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Clínica e Cirurgia Animal.

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