Escherichia coli O157:H7 e sua importância na saúde pública

Microbiologia de alimentos, saúde pública
Microbiologia de alimentos, saúde pública

Veterinária

27/04/2015

A Escherichia coli O157:H7 é uma bactéria patogênica importante para a saúde pública mundial, pois causa doença associada principalmente ao consumo de alimentos contaminados, em especial a carne bovina mal cozida ou crua. Surtos de doença relacionada a esse micro-organismo são relatados principalmente na América do Norte e Argentina, no entanto, possui distribuição mundial. No Brasil, há poucos dados sobre infecção humana por este sorotipo e sua presença nos alimentos, havendo necessidade de mais estudos e notificações de casos nos atendimentos hospitalares.


A carne bovina, principal alimento envolvido em surtos de doenças causadas por essa bactéria, pode ser contaminada pelo conteúdo gastrintestinal dos animais durante as etapas de processamento no frigorífico e chegar até o consumidor, causando desde uma simples diarreia até uma doença chamada colite hemorrágica (CH), com dores abdominais severas e que, em casos mais graves resulta em complicações extraintestinais como a Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU), a falência renal e a Púrpura Trombocitopência Trombótica (PTT), com possível envolvimento do sistema nervoso central, podendo levar o ser humano ao óbito. Para que a doença ocorra, a bactéria produz vários fatores de virulência como a aderência às células da mucosa intestinal e a produção de toxinas que auxiliam na sua instalação, determinando sua patogenicidade.


O período entre a infecção pela ingestão do micro-organismo e a manifestação dos sintomas é de três a quatro dias, quando ocorre sua colonização no intestino grosso. Qualquer indivíduo corre o risco de se infectar, sendo esse risco maior para idosos, crianças menores de cinco anos, imunocomprometidos ou com problemas renais.


Como outros sorotipos de sua espécie, a E. coli tem seu hábitat no solo, água contaminada e material em decomposição. Animais como bovinos, ovinos, caprinos, suínos, cães, gatos, aves e roedores podem servir de reservatório, principalmente o bovino que elimina a bactéria em suas fezes que, de maneira direta ou indireta, pode atingir a cadeia alimentar dos seres humanos.


A infecção pode ocorrer pela ingestão de água, frutas, vegetais ou alimentos de origem animal contaminados. Esse sorotipo também pode ser transmitido de pessoa a pessoa por meio da via fecal-oral, situação cada vez mais comum entre os surtos ocorridos, devido a falta de higiene pessoal e educação sanitária da população.


                A E. coli O157:H7 caracteriza-se por não suportar altas temperaturas, sendo rapidamente inativada pelos processos normais de cocção e pasteurização, porém estudos verificaram que ela pode se desenvolver entre 6ºC e 45ºC, e também sobreviver sob temperaturas de refrigeração e congelamento. Esse sorotipo é mais tolerante a acidez, característica importante para a sua sobrevivência em produtos cárneos fermentados ou em cidras de maçãs.


                A maneira mais adequada de se evitar as doenças veiculadas por alimentos, como as causadas por E. coli O157:H7, é a prevenção e o controle, que são realizados por meio da adoção de diversas práticas, como o preparo adequado dos alimentos, os procedimentos adequados de higiene pessoal, a educação sanitária da população, o consumo de água tratada, bem como de carne cozidas em temperaturas iguais ou superiores a 70ºC, a prevenção da contaminação cruzada entre alimentos e utensílios, o consumo de leite e sucos pasteurizados, a redução do número de animais portadores da bactéria no rebanho e a contaminação da carne durante o processo de abate. Além disso, é importante que a população tenha conhecimento sobre essa bactéria e cobre do governo a investigação de surtos e relatos de casos já ocorridos por meio de histórico dos pacientes e de exames confirmatórios, a fim de ajudar na prevenção e no controle desse micro-organismo.

 


 

Referências

CONNER, D.E.; KOTROLA, J.S. Growth and survival of Escherichia coli O157:H7 under acidic conditions. Applied and Environmental Microbiology, v.61, n.1, p. 382-385, 1995.

CVE.Centro de Vigilância Epidemiológica. Manual das doenças transmitidas por alimentos. Escherichia coli O157:H7. Informe Net DTA. Disponível em: <www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/Ecolinet.htm>. Acesso em: 21 jul. 2009.

DOYLE, M.P.; SHOENI, J.L. Survival and growth characteristics of Escherichia coli associated with hemorrhagic colitis. Applied and Environmental Microbiology, v. 48,p. 855-856, 1984.

DOYLE, M. P.; ZHAO, T.; MENG, J.; ZHAO, S. Escherichia coli O157:H7. In: DOYLE, M. P.; BEUCHAT, L. R.; MONTVILLE, T. J. Food Microbiology: fundamentals and frontiers. Washington: ASM Press, 1997. cap. 10, p. 171-191.

EDUARDO, M.B.P.; FRANÇA, A.C.C., IRINO, K.; VAZ, T.M.I.; GUTH, B.E.C. Investigação epidemiológica de infecções por Escherichia coli O157:H7  - Campinas, São Paulo. Revista eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos, v.3, n.6, 2003. Disponível em: <www.cve.saude.sp.gov.br/htm/dta_menu.htm>. Acesso em:

ELDER, R. O.; KEEN, J. E.; SIRAGUSA, G. R.; BARKOCY-GALLAGHER, G. A.; KOOHMARAIE, M.; LAEGREID, W. W. Correlation of enterohemorrhagic Escherichia coli O157 prevalence in feces, hides, and carcass of beef cattle during processing. Applied Biological Sciences, v. 97, n. 7, p. 2999-3003, 2000.

FRENZEN, P.D.; DRAKE, A.; ANGULO, F.J. Economic cost of illness due to Escherichia coli O157 infectionsin the United States. Journal of Food Protection, v. 68, n. 12, p.2623-2630,2005.

McEVOY, J. M.; DOHERTY, A. M.; SHERIDAN, J.J.; THOMSON-CARTER, F. M.; GARVEY, P.; MCGUIRE, L.; BLAIR, I. S.; MCDOWELL, D. A. The prevalence and spread of Escherichia coli O157:H7 at a commercial beef abattoir. Journal of Applied Microbiology, Oxford, v. 95, n. 2, p. 256-266, 2003.

MENG, J.; DOYLE, M .P.; ZHAO, T.; ZHAO, S.Enterohemorrhagic Escherichia coli. In: DOYLE, M.P. & BEUCHAT, L.R. Food Microbiology: fundamentals and frontiers. Washington: ASM Press, 2007. cap. 12, p. 249-269.

RILEY, L. W.; REMIS, R. S.; HELGERSON, S. D.; MCGEE, H. B.; WELLS, J. G.; DAVIS, B. R.; HEBERT, R. J.; OLCOTT, E. S.; JOHNSON, L. M.; HARGRETT, N. T.; BLAKE, P. A.; COHEN, M. L. Hemorrhagic colitis associated with rare Escherichia coli serotype. New England Journal of Medicine, Walthan, v. 308, n. 12, p. 681-685, 1983

TAMPLIN, M.I.; PAOLI, G.; MARMER,B.S.; PHILLIPS, J. Modelsof the behavior of Escherichia coli O157:h7 in raw sterile ground beef stored at 5 to 46ºC. International Journal of Food Microbiology, v.100, n.1, p.335-344, 2005.

 

 

 

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Natália Maramarque Nespolo

por Natália Maramarque Nespolo

Médica Veterinária com doutorado em Medicina Veterinária Preventiva realizado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Jaboticabal e doutorado sanduíche realizado na Universidade de Montreal. Atualmente é professora de Inspeção e Tecnologia de Produtos de Origem Animal da Universidade Federal de Goiás

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93