Eficiência anti-helmíntica da ivermectina em ovinos da Universidade de Rio Verde

Realização de exames para controlar as endoparasitoses
Realização de exames para controlar as endoparasitoses

Veterinária

28/05/2015

Introdução

A ovinocultura é uma atividade pecuária em expansão em todo Brasil. A situação do estado de Goiás ainda é de baixa produtividade e pequenos produtores. Porém a perspectiva para o estado é de um desenvolvimento progressivo e de uma demanda crescente devido o aumento do consumo dos produtos e da melhoria na qualidade do produto. Um dos principais problemas encontrados na ovinocultura, e que limita consideravelmente o aproveitamento econômico destes animais, são as parasitoses gastrintestinais. Os ovinos são parasitados por helmintos em todas as faixas etárias e a sua ação negativa não acontece apenas no atraso de desenvolvimento corporal dos cordeiros, mas também na produção e qualidade da carne e da lã (PINHEIRO, 1979).


Os principais helmintos gastrointestinais dos ovinos são Haemonchus contortus, Trichostrongylus spp, Cooperia, Oesophagostomum e Strongyloides. Os animais se contaminam através de ovos nas fezes, de animais já infectados. Esses ovos se espalham pelo pasto infectando novos animais. Esses helmintos se desenvolvem sob condição favorável de alta temperatura e alta umidade. As larvas ingeridas fixam-se na mucosa do estômago e continuam o seu desenvolvimento até que, em, aproximadamente, três semanas, transformam-se em helmintos adultos. Estes se acasalam e ocorre a deposição de ovos, iniciando-se mais um ciclo evolutivo.


Existem no mercado diversos produtos com princípios ativos que diferem quanto ao espectro de ação sobre os parasitas. A escolha do vermífugo pode se basear no conhecimento da sensibilidade de cada espécie de verme aos princípios ativos, o que normalmente consta na bula dos produtos. Porém, existe enorme diferença de sensibilidade dos parasitas de uma região para outra ou, até, de uma propriedade para outra situada na mesma região. Em outras palavras, o fenômeno resistência parasitária contribui para que a escolha do vermífugo ao acaso tenha uma chance razoável de insucesso. Por isso sempre que possível, recomenda-se testar um vermífugo em um pequeno número de indivíduos antes de utilizá-lo em todos os animais da propriedade.


Neste trabalho foi utilizado anti-helmíntico Ivermectina. No histórico dos animais da propriedade da Universidade de Rio Verde observamos a excessiva utilização de anti-helmíntico Albendazole, e já tinham relatado resistência a esse princípio ativo. Por isso o objetivo deste trabalho, não é tão somente a mudança do princípio ativo do anti-helmíntico, mas sim observar a eficiência da Ivermectina nos animais do setor de ovinos da Universidade de Rio Verde.




Material e Métodos

O estudo foi realizado no setor de ovinos da Universidade de Rio Verde, localizada no município de Rio Verde, Goiás. Utilizando ovinos de ambos os sexos, raças e idades variadas, criados em sistema extensivo. Os exames de OPG (ovos por gramas de fezes) e coprocultura foram realizados em todos os animais do setor. As amostras de fezes foram coletadas diretamente do reto de cada animal (cerca de 3 a 5 gramas/animal), resfriada e com numeração dos animais e encaminhadas para o laboratório.


A contagem de ovos por grama de fezes (OPG) foi realizada de acordo a técnica de Gordon & Whitlock modificada (UENO & GONSALVES, 1998), com o objetivo de qualificar e quantificar os ovos de hemintos nematoides. Foram quantificados apenas os ovos tipo estrongilídeo.


Após o resultado dos exames foi feita a administração do medicamento no dia 0, para isto, foram selecionados 5 animais cujo OPG estava acima de 800. O anti-helmíntico testado foi escolhido a partir do histórico dos animais, pela necessidade de troca do princípio ativo. Neste estudo utilizamos a ivermectina na dose de 1 ml para cada 4 kg de peso vivo do animal por via oral. No dia 14, retornamos ao setor para uma nova coleta e realizamos novos exames para determinar a carga parasitária.


Foram realizadas coproculturas no dia de aplicação do vermífugo e 14 dias após para se determinar os gêneros de helmintos nematoides cuja caracterização genérica não é possível ser feita por avaliação dos ovos. Foi adotada a técnica de Roberts & O’Sullivan (UENO & GONSALVES, 1998) e feita a identificação das larvas de terceiro estágio de acordo com as características morfológicas propostas por UENO & GONSALVES (1998).


Foi determinada a taxa de redução de ovos considerando o OPG do dia 0 e do dia 14. Para se determinar a eficiência do anti-helmítico, foram adotadas as especificações da Portaria 48 de 12/05/1997 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que consideram o vermífugo altamente efetivo quando apresentar percentual maior que 98%, efetivo de 90 a 98%, moderadamente efetivo de 80 a 89%, insuficientemente ativo menor que 80%.

Resultados e discussão

Observou-se no OPG do dia 0 uma média de 2660 ovos, o que representa um elevado nível de parasitismo. No dia 14 foi refeito o exame de OPG e observou-se uma média de 220 ovos, uma redução significativa de 2440 ovos, o que corresponde a 91,73% do total inicial. De acordo com a Portaria 48 de 12/05/1997 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, anti-helmíntico é considerado efetivo.


Um estudo realizado em Palmas - TO mostrou que naquela região o resultado de eficiência variava entre 85% á 96%, o que de acordo com a portaria classifica como moderadamente efetivo e efetivo respectivamente. Portanto, vários estudos já demostraram uma baixa eficiência anti-helmítica devido à sua intensa utilização com manejo sanitário que favorece o aumento da pressão de seleção para resistência anti-helmíntica.


Nos resultados da coprocultura (gráfico 2) foram observadas larvas de terceiro estágio de Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia e Oesophagostomum. No dia 0 observamos que 64% das larvas eram de Haemonchus, o gênero mais famoso entre os produtores de ovinos, pois apresenta um histórico de resistência anti-helmíntica a vários fármacos. O exame também nos mostrou 24% de larvas de Trichostrongylus, 7% de larvas Cooperia e 5% de larvas de Oesophagostomum e não houve presença de Strongyloides.


Quatorze dias após o vermífugo houve uma redução na carga parasitária dos animais, portanto, 99% das larvas que sobreviveram à vermifugação eram do gênero Haemonchus, que representam as larvas descendentes de vermes adultos resistentes à ivermectina, e que com o passar do tempo irá contaminar gradativamente o ambiente e, consequentemente, os outros animais que vivem no mesmo local. Então, dependendo da área, lotação e manejo sanitário adotado, a eficiência do vermífugo tende a diminuir, aumentando o número de helmintos resistentes à ivermectina e diminuindo o número de helmintos sensíveis, principalmente quando se fala de Haemonchus contortus, que possui um histórico de resistência a vários princípios ativos em várias regiões do Brasil e do mundo. Portanto, isto pode ser retardado associando a aplicação de vermífugo às boas práticas de manejo.


Resultados de resistência do Haemonchus contortus à ivermectina foram obtidos por Bartley et al. (2004) na Escócia, no Brasil por Ramos et al. (2002) que constatou 77% de resistência e também Maciel et al. (1996) registrou no Paraguai, 47% de propriedades com resistência à ivermectina.


Com o aumento da ovinocultura como atividade pecuarista devemos fazer mais pesquisa a fim de identificar medidas que auxiliam o controle da verminose retardando o aparecimento de resistência de parasitas aos fármacos. Sabendo que eles reduzem o desenvolvimento dos animais e nos trazem transtornos financeiros pela redução de carne e lã. O exame do OPG e a Coprocultura nos auxilia e é de suma importância que os produtores tenham em mente a necessidade desses exames como métodos de monitoramento do manejo sanitário adotado. É necessário salientar que possuímos poucos princípios ativos no mercado e sem muitas perspectivas de novas drogas.


Conclusão

Os helmintos gastrointestinais dos ovinos da Universidade de Rio Verde foram sensíveis à ivermectina, sendo ela considerada efetiva na redução da carga parasitária. Dentre as larvas resistentes observadas na coprocultura após vermifugação, a maior parte (99%) eram do gênero Haemonhus. Portanto, são necessários estudos em outras propriedades no município de Rio Verde para se conhecer a eficiência dos anti-helminticos nas propriedades da região, visto que, a eficiência destes fármacos varia em cada propriedade e entre regiões geográficas diferentes.

Referências Bibliográficas


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RIBEIRO, L.A.O.. Atualidades na profilaxia das enfermidades infecciosas dos ovinos. In: SIMPOSIO PAULISTA DE OVINOCULTURA, 1. Botucatu, 1998. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989.p. 143.


AMARANTE. A.F.T.. Controle das Helmintoses Gastrintestinais dos Ovinos e Caprinos. 2010 - Depto. De Parasitologia – IB – UNESP – Botucatu – SP.


TRALDI, A.S. Enfermidades de Caprinos e Ovinos – formas de controle e erradicação. Anais da III FEINCO, 2006.


VIEIRA, L.S. Endoparasitoses gastrintestinais em caprinos e ovinos. Embrapa Caprinos, Documentos 58 On-line, 2005.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Francielly Paludo

por Francielly Paludo

Graduanda de Medicina Veterinária, pela UNIRV - Universidade de Rio Verde. Especializando em Ruminantes e Equinos, área reprodutiva, nutricional e cirúrgica.

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