16/07/2015
Assuntos relacionados à posse responsável de animais de estimação vêm sendo cada vez mais discutidos e veiculados de forma ampla, com o objetivo de alertar pessoas e organizações voltadas ao bem-estar animal no que diz respeito à importância dos aspectos higiênico-sanitários relacionados ao abrigo de espécies de animais de companhia.
É fato que sempre existiu em todos os municípios brasileiros uma população dos chamados animais de rua ou, como denominamos tecnicamente, os animais errantes. Embora haja legislação específica que obrigue a criação e o devido funcionamento das vigilâncias sanitária, epidemiológica e ambiental em âmbito municipal, o atrelamento a estes três segmentos do serviço de vigilância a atributos políticos, seja por meio da nomeação de gestores que não possuam habilidades necessárias à condução de tais secretarias ou pelo fato de uma parte dos servidores destinados à ocupação dos cargos e, consequente desempenho das funções relacionadas aos mesmos, seja representado por profissionais não capacitados ou não comprometidos com o desenvolvimento de tais delegações, contribui para que o andamento das atividades relacionadas a estas secretarias, bem como a devida atuação deixem a desejar, colaborando com o aumento da população de animais errantes, bem como a elevação dos casos de agravo à saúde das pessoas, contribuindo ainda para a continuidade das zoonoses.
Comovidos pela quantidade cada vez maior de animais abandonados nas ruas das cidades, pessoas e organizações, normalmente não governamentais, se mobilizam diariamente para prestar suporte como forma de diminuir a quantidade destes vagando pelas ruas e, simultaneamente, minimizar o sofrimento de tais animais, por meio de práticas como fornecimento de alimentos, medicação dos animais doentes, adoção e até mesmo constituição de espaços para abrigá-los.
Contudo, é preciso entender e compreender que o fato de promover abrigo, alimentação e, de certa forma, a manutenção de animais, mesmo daqueles que ainda continuarão nas ruas, requer determinados cuidados os quais variam conforme a prática que está sendo desenvolvida, isto é, se for provimento de alimentação ou medicação, são necessários cuidados quanto à segurança daqueles que a promove, tendo em vista o risco que se corre por não conhecer o instinto de ação daqueles animais que estão sendo tratados. Pois, dessa forma há como minimizar o risco de agravos à saúde, como também o de disseminação de zoonoses para os humanos.
De forma mais preocupante, se destacam os abrigos onde animais de rua são normalmente albergados, sob a alegação de que estes receberão o tratamento adequado, com responsabilidade, bem-estar, medicação, além de outros tipos de suporte, afirmados pelo tutor que os adota, pois na maioria das vezes o que se comprova é outra realidade, ou seja, são ambientes insalubres, propícios, inclusive ao surgimento e disseminação de doenças (a exemplo da brucelose, leptospirose, viroses animais, sarnas, micoses – especialmente as dermatofitoses, etc.) as quais poderão acometer os animais abrigados, bem como os humanos que lidam direta e indiretamente com o manejo destes.
Nessa perspectiva, ao se comprometer com a adoção de animais errantes, os tutores deverão ter em mente que toda e qualquer criação, independentemente da finalidade a que se destina o animal, bem como a quantidade, requer atenção especial no que diz respeito à sanidade, higiene, controle populacional, fornecimento de alimentos específicos, banhos periódicos, recolhimento de dejetos, limpeza e descontaminação do local onde os animais são alojados, troca da água de beber, vacinação, cuidados com animais gestantes, separação de animais por espécie e faixa etária, dentre outros procedimentos que visam assegurar que a adoção foi feita realmente com responsabilidade e compromisso.
Práticas que contrariem as normativas mínimas de higiene e sanidade comprometem o ambiente, os animais e os tutores, além de colocar em contradição a proposta de resgate e proteção de animais.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Doutorando pelo PPGCV da UFRPE; Docente do curso de Medicina Veterinária do CESMAC em Marechal Deodoro-AL, responsável pelas disciplinas de Sociologia, Microbiologia Veterinária e Doenças infecto-contagiosas dos animais domésticos. Presidente da Comissão de Biossegurança do Cesmac. Responsável pelo laboratório de Microbiologia Veterinária; Preside a Comissão Regional de Saúde Pública do CRMV-AL.
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