TERAPIA NUTRICIONAL DE CÃES COM NEOPLASIA

Cão apresentando neoplasia em glândula mamária
Cão apresentando neoplasia em glândula mamária

Veterinária

12/03/2016

TERAPIA NUTRICIONAL DE CÃES COM NEOPLASIA

 

Cada vez mais o ser humano tem estreitado sua convivência com os animais de estimação, o que resulta em um grande aumento na população de cães e gatos, os quais recebem mais cuidados com sua alimentação e saúde (DALECK et al, 2008).

Daleck et al (2008); De Nardi et al (2002); Rossetto et al (2009) ponderaram que  a maior longevidade dos cães e seu aumento populacional seja a provável causa da alta prevalência das doenças malignas, visto que, quanto mais os animais vivem mais eles estarão expostos aos agentes oncológicos.

Dos cães com mais de 10 anos de idade 45% vêm a óbito devido a neoplasia (DALECK et al, 2008; SOUZA et al, 2006; WHITHROW e MACEWEN, 2007).

Na maioria dos casos de neoplasias desconhece-se a causa fundamental, no entanto essa doença está atrelada a influências ou fatores etiológicos múltiplos, incluindo ação física de radiação solar e ionizante, efeito citopático exercido por determinados agentes virais, disfunções imunológicas, desequilíbrio hormonal e hereditariedade (SÉGUIN et al, 2001).

O tratamento antineoplásico ou a presença da neoplasia causa alterações nos sistemas metabólicos e orgânicos do cão, como a desnutrição e a caquexia, que podem aumentar as chances do paciente vir a óbito (OLIVEIRA, 2004).

Um fator que acomete a maior parte dos animais hospitalizados é a desnutrição. Os processos inflamatórios sistêmicos, infecciosos ou traumas levam à liberação de mediadores endógenos como hormônios do estresse e citocinas, e assim aumentam o catabolismo e causam um balanço calórico negativo (BRUNETTO et al, 2009).

Um fator determinante nas altas taxas de mortalidade durante o período de tratamento dos animais oncológicos é a alta incidência de desnutrição (ROCHA, 2004).

Daleck et al (2008) citaram que a caquexia paraneoplásica provocada pela neoplasia caracteriza-se pela anorexia, perda acelerada de tecidos e gordura, miopatia, atrofia de vísceras, depauperação da musculatura esquelética e náuseas.

Case et al (2011) explanaram que os animais com neoplasia apresentam alterações no metabolismo dos nutrientes, do requerimento energético e mudanças na ingestão de alimentos e um dos principais fatores que contribuem com o tratamento da neoplasia é oferecer uma nutrição de excelente qualidade logo nos primeiros sinais da doença, durante o período de tratamento e na remissão da neoplasia.

A terapia nutricional deve considerar o protocolo terapêutico, o tipo de tumor, as características específicas de cada paciente, a disponibilidade do tutor e as alterações que ocorrem no metabolismo dos nutrientes dos animais oncológicos (DALECK et al, 2008).

O tratamento antineoplásico e o tumor afetam diretamente o estado nutricional do paciente. As drogas quimioterápicas diminuem a ingestão alimentar e provocam perdas nutricionais por toxicidade renal e gastrointestinal, principalmente um quadro de vômitos incessantes (VANNUCCHI e MARCHNI, 2007).

Ocorre decréscimo do apetite, fadiga, satisfação precoce, náuseas, vômitos, disfagia, inflamação oral, diarreia, mudança no paladar, sensibilidade a odores e constipação (DALECK et al, 2008).

A fonte de energia mais abundante para os pequenos animais provém dos carboidratos (OLSON, 2004) e, justamente, no metabolismo dos carboidratos é que ocorrem as principais alterações metabólicas nos pacientes oncológicos. A glicose é o principal substrato energético utilizado pelas células tumorais e o animal com neoplasia aumenta o consumo de glicose, portanto, é interessante ofertarmos os carboidratos em menor quantidade para evitarmos o crescimento tumoral (CASE, 2011; DALECK et al, 2008; OLSON, 2010).

Os carboidratos devem representar até 20% do volume total de cada refeição do paciente oncológico. Dessa forma, Antunes e Moreno (2009) concluíram que devemos escolher os alimentos pobres em carboidratos e ricos em gorduras e proteínas.

Portanto, acreditamos que cabe ao profissional médico veterinário atentar às questões nutricionais de seu paciente com neoplasia e prescrever uma dieta adequada com o objetivo de diminuir os efeitos colaterais causados pelos antineoplásicos, respeitando-se a individualidade de cada cão. A terapia nutricional deve ser baseada em uma suplementação com ácidos graxos ômega-3, vitaminas antioxidantes como as vitaminas A,C e E, minerais como o ferro e o selênio e aminoácidos como a arginina e a glutamina.

Vale salientar que devemos reduzir a oferta de carboidratos, já que servem de substrato para as células tumorais.

 

REFERÊNCIAS

ANTUNES, M. I. P; MORENO, C. Manejo da Caquexia Paraneoplásica em Cães e Gatos. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 12, n. 2, p. 157-162, 2009.

BRUNETTO, M. A; GOMES, M. O. S; NOGUEIRA, S. P; CARCIOFE, A. C. Suporte Nutricional Enteral no Paciente Crítico. Revista Clínica Veterinária, ano XIV, [S.I]: 2009, n.78, p.40-50.

CASE, L.P; DARISTOTLE, L; HAYEK, M.G. Canine of Feline Nutrition. A Resource for Companion Animal Professionals. 3 ed. Maryland: Elsevier, 2011.

DALECK, C.R; NARDI, A.B; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. In: RODASKI, SUELY; PIEKARZ, CHRISTINE HAUER. Epidemiologia e Etiologia do Câncer, cap.1, São Paulo: Roca, 2008, p. 2-22.

DE NARDI, A.B.; RODASKI, S.; SOUSA, R.S. et al. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamento em cães atendidos no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná. Arch. Vet. Sci., v.7, p.15-26, 2002.

OLIVEIRA, A. Finalidade Terapêutica da Abordagem Nutricional no Tratamento oncológico dos pacientes pediátricos críticos. II Jornada Internacional de Nutrição Oncológica e I Jornada Luso-Brasileira de Nutrição Oncológica. Revista Brasileira de Cancerologia, [S.I]: v.50, n.4, p.351-378, 2004.

OLSON, LEW. Raw & Natural Nutrition for Dogs. The definitive guide to homemade meals. North Atlantic Books, [S.I]: 2010.

ROCHA, A.P. Finalidade Terapêutica da Conduta Nutricional no Tratamento Oncológico nas Complicações Cirúrgicas. II Jornada Internacional de Nutrição Oncológica e I Jornada Luso-Brasileira de Nutrição Oncológica: Revista Brasileira de Oncologia; [S.I]: v.50, n.4, p. 351-379, 2004.

ROSSETTO, V.V.; MORENO, K.; GROTTI, C.B. et al. Frequência de neoplasmas diagnosticados por exame citológico: estudo retrospectivo em um hospital-escola. Semina: Cienc. Agrárias. [S.I]: v.30, p.189-200, 2009.

SÉGUIN, B; LEIBMAN, N.F; BREGAZZI, V.S; OGILVIE, G.K; POWERS, B.E; DERNELL, W.S; et al . Clinical outcome of dogs with grade- II mast cell tumors treated with surgery alone: 55 cases (1996-1999). J. Am Vet Med Assoc. [S.I]: 218 (7): 1120-23, 2001.

SOUZA, T.M; FIGHERA, R.A; IRIGOYEN, L.F. et al. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Cienc. Rural, [S.I]: v.36, p.555-560, 2006.

VANNUCHI H; MARCHNI J.S. Nutrição e Metabolismo: Nutrição clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. Cancer. In: Small animal clinical oncology. 4.ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, p.15-17, 2007.

 

 

 

 

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Elaine B Gama

por Elaine B Gama

Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia; Medicina Veterinária (FMU). Realizou estágios no Brasil e na Nova Zelândia com pequenos e grandes animais com ênfase no tratamento alopático e correção nutricional. Atua como médica veterinária de pequenos animais em seu consultório "Clínica Veterinária e Nutrição de Cães e Gatos - Dra. Elaine Gama - MV", na cidade de São Paulo.

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